Crônica de uma fiscalização de caminhões com madeira

Abril 20, 2022 0 Comentários Last News Sin tags

Ontem, 19 de abril, na Rota 160, no sentido de Carampangue a Laraquete, desde antes das 08:00 horas, Carabineiros do Chile e outras autoridades (possivelmente também o SII), fiscalizaram dois caminhões carregados com toras de pinheiro radiata. Após as 15:00 hrs, verifiquei pessoalmente que os caminhões ainda estavam detidos pela força pública, conforme mostra a foto principal.

Tudo o relatado anteriormente poderia ser apenas mais uma fiscalização entre as milhares realizadas para verificar a origem da carga, a documentação dos motoristas e veículos, entre outros. No entanto, no contexto da situação atual vivida na província de Arauco, ao observar a cena com atenção, é possível notar o seguinte:

• Os caminhões, como se vê na foto difusa que acompanha (FOTO 1), estão carregados com toras acima do limite dos estrados, o que indica que esses veículos transitam com SOBREPESO.

• Junto aos veículos dos Carabineiros (viaturas e blindados), observa-se um pelotão de policiais das Forças Especiais, devidamente equipados com materiais para enfrentar distúrbios (escudos, cotoveleiras, joelheiras, capacetes, espingardas antidistúrbios e outros equipamentos adequados).

• Atrás dos caminhões fiscalizados (2), veem-se pelo menos 5 picapes 4x4 da marca Toyota, todas com aparência de terem no mínimo 2 ou 3 anos de uso.

• Por fim, observa-se um grupo de pelo menos 20 pessoas, armadas com paus (entenda-se, porretes), conversando com a Força Pública, que está posicionada para impedir que os indivíduos armados possam mobilizar os caminhões carregados e detidos. Essas pessoas chegaram nas picapes mencionadas anteriormente.

Nós, que estamos permanentemente na região e ligados à atividade florestal, podemos tirar algumas conclusões a partir desta situação:

• Caminhões com carga acima da altura máxima dos estrados são "característicos" de veículos transportando "madeira roubada".

• Esse tipo de caminhão com SOBREPESO, além de não respeitar os limites máximos de peso por eixo e comboio, contribui para o desgaste prematuro das estradas por onde circulam, algo muito diferente dos caminhões com carga legal e destinos regulamentados, que devem cumprir a legislação rigorosa sobre pesos e instruções de seus contratantes.

• É altamente provável que os caminhões em questão não tenham a documentação de origem dos produtos transportados, portanto, também não estão sujeitos às regulamentações do, por exemplo, Serviço de Impostos Internos, que faz parte do processo de arrecadação de impostos gerado por toda atividade econômica formal.

• No entanto, além da evidente ilegalidade desse transporte, é revoltante que o grupo de pessoas presentes no local da fiscalização estivesse armado com objetos para intimidar e, sem dúvida, para atacar os Carabineiros se julgassem necessário.

• É indignante que cidadãos deste país acreditem que, por alguma razão, estão acima das leis que regem a todos e não podem ser fiscalizados, sentindo-se ainda no direito de interromper o livre trânsito de outras pessoas na estrada.

Valorizo que a autoridade tenha se mantido firme até pelo menos as 18:00 horas, quando passei novamente pelo local, impedindo que o comboio com madeira de origem duvidosa seguisse para seu destino final.

Espero que, no futuro, essas fiscalizações se repitam com mais intensidade para acabar com essa verdadeira máfia que se formou em torno do comércio de madeira roubada. Todo meu apoio às autoridades que decidiram combater esse flagelo, especialmente aos Carabineiros do Chile, que devem garantir o cumprimento da lei.

Hoje de manhã, antes das 08:00, os caminhões ainda estavam no local sob custódia policial. Entendo que não puderam ser removidos porque lhes foram retiradas baterias e outros componentes para dificultar o transporte. Há no local um caminhão guincho dos Carabineiros que, imagino, fará a remoção dos dois veículos. Não sei a situação judicial dos motoristas e outras pessoas, mas ouvi que há dois detidos por esse motivo.

Os atentados da noite passada no setor La Colcha (cancha El Topo) me parecem ser retaliações por essas fiscalizações, e provavelmente haverá outros nos próximos dias pelos mesmos motivos.

Escrito por um motorista habitual da rota 160 que enviou esta crônica à Associação de Contratantes Florestais e prefere preservar sua identidade.

Concepción, 20 de abril de 2022.