O caminho interminável
Os dias, meses e anos passam de maneira inexorável, assim como os ataques às atividades florestais. Já são quase nove anos resistindo, e o esgotamento pela condição de risco no trabalho continua nos perturbando e não nos permite avançar.
Como sindicato, precisamos seguir em frente com novas propostas de trabalho, desenvolvendo tecnologia e inovando nos processos e em como nos relacionamos com o meio ambiente e com as comunidades locais. Também precisamos avançar na busca por melhorias nas relações contratuais dos contratantes com as empresas principais e em modificar as normas legais que nos regem. Estas deveriam ser nossas atividades normais como Associação Sindical, mas, infelizmente, de maneira recorrente, temos que suportar o risco em nosso trabalho, o conflito, a violência e a morte que dominam o ambiente nas florestas produtivas das regiões do sul.
A Associação de Contratantes Florestais se transformou em refém da violência, é inerente ao trabalho que realizamos e, lamentavelmente, não conseguimos nos separar dela. Não é normal que nos acostumemos a conviver com os perigos e riscos à vida dos trabalhadores florestais e com a destruição de tecnologia de ponta na qual os contratantes investimos para alcançar produtividades que nos permitem, como setor, competir com os países florestais mais importantes do mundo.
Neste ano de 2022, César Millahual, Benjamín Cuevas, Alejandro Carrasco e Segundo Catril, todos trabalhadores florestais, foram assassinados em seus locais de trabalho, na floresta. Eles e suas famílias são as testemunhas mudas de uma violência irracional que nos cobre e esmaga com força. Eles são os mártires desta declaração de guerra à indústria madeireira que não tem controle. São as testemunhas mudas de um Estado que, de maneira covarde e irresponsável, abandonou os habitantes desta parte do país, aqueles que buscam no trabalho legal e formal o caminho para melhorar sua qualidade de vida e a de suas famílias.
Diante dessas ações repudiáveis, nos perguntamos: A vida desses trabalhadores tem um valor diferente de outras vidas? O que faz com que o Estado, como um todo, demore e prolongue uma solução efetiva para uma demanda histórica do povo mapuche? Será uma solução racional para o país eliminar a indústria florestal, atendendo assim ao desejo de organizações terroristas que buscam instalar atividades ilícitas nesses territórios?
Muitos opinam que a violência no sul é antiga e que existe um problema histórico real não resolvido de "reivindicação territorial", mas poucos querem entender que essas justas demandas foram transformadas e capturadas por grupos terroristas e anarquistas que, através desse discurso, utilizam a violência e o terror para manter um lucrativo negócio de drogas, tráfico de armas, roubo de madeira, receptação de veículos roubados e abigeato.
Mantemos a esperança de que as novas autoridades enfrentem esse grave problema com seriedade. Pela nossa experiência acumulada nesses anos, acreditamos que é necessário abrir espaços de diálogo com interlocutores validados pelas comunidades e com informações reais sobre os territórios reivindicados. Além disso, planejar estratégias contra a violência da qual nos acostumamos a ser vítimas. Exigimos dos parlamentares que façam as mudanças necessárias na legislação, para fornecer novas ferramentas legais aos promotores para investigar e processar aqueles que fazem parte das organizações terroristas conhecidas por todos. Também é fundamental a incorporação de projetos de desenvolvimento local e regional, assim como o apoio de todas as instituições às Polícias e Forças Armadas, mas, acima de tudo, a vontade política do governo atual para resolver um problema que já se arrasta por muitos anos.
Nós, contratantes florestais, queremos chegar ao fim do caminho, queremos voltar a trabalhar em paz, com segurança, e continuar construindo um país melhor a partir do setor florestal e madeireiro.