Quatro trabalhadores assassinados e 104 ataques armados é o balanço de 2022 dos Contratistas Florestais
Entre as regiões de Maule e Los Lagos desenvolve-se principalmente a indústria florestal, a terceira mais importante do país e a primeira para esta parte do nosso território. No entanto, este setor produtivo vem sendo sabotado desde 2014 através de ataques armados a obras florestais, onde equipamentos de alta tecnologia são queimados, com a dura realidade de, em 2022, o assassinato de quatro trabalhadores florestais, além de mais de 20 feridos nesses ataques.
2022 foi particularmente complexo para os Contratistas Florestais, que, através de sua associação sindical liderada por René Muñoz Klock, seu gerente, apresentaram os dados difíceis do ano que será lembrado como o mais violento e destrutivo. “2022 foi o ano com mais eventos violentos, com destaque para o ocorrido na região de La Araucanía e na região de Los Ríos. Biobío diminuiu 3% e Los Lagos 25% em relação ao ano passado. Em termos gerais, os atentados aumentaram 17% em relação a 2021, e esperamos começar a reduzir a curva, porque não é possível manter essa tendência de alta todos os anos”, explicou Muñoz, que lembrou de César Millahual, Benjamín Cuevas, Alejandro Carrasco e Segundo Catril, todos trabalhadores florestais assassinados em seus locais de trabalho na floresta. “Eles e suas famílias são as testemunhas mudas da violência irracional que nos esmaga com força e de um Estado que abandonou os habitantes desta parte do país, que realizamos um trabalho legal e formal. Eles são os mártires desta declaração de guerra à indústria madeireira que não tem controle”, afirmou.
Dentro dos números apresentados, abril e agosto se destacam como os meses com mais atentados desde que a Associação de Contratistas Florestais tem registro, o que é particularmente grave, considerando a situação do Estado de Exceção Constitucional que vigorou durante o período. “Os meses mais complexos foram abril, com 17 eventos violentos, e agosto, com 16, além de julho e novembro, que registraram 12 atentados. Tivemos quatro meses muito violentos, por isso este ano a quantidade de atentados foi maior, e os meses mais afetados desde que temos registro foram em 2022”, indicou o gerente da Associação de Contratistas Florestais, acrescentando: “Quanto às comunas e territórios afetados, mantém-se a mesma tendência do ano anterior, onde Curanilahue é a comuna mais afetada em Biobío, Lumaco em La Araucanía, La Unión em Los Ríos e San Juan de la Costa na região de Los Lagos”.
Questionado sobre a detenção do clã Llaitul, líderes da Coordenadora Arauco Malleco (CAM), entre agosto e novembro, e um possível efeito na quantidade de ataques, Muñoz afirma: “Sim, notou-se uma queda principalmente em dezembro, não tanto em novembro, que seguiu a tendência de 10 a 12 atentados mensais, mas em dezembro tivemos três. Portanto, acreditamos que houve um efeito com a detenção desses líderes violentos”.
Equipamentos destruídos e apoio às vítimas
Quanto aos efeitos desses atentados nas obras das empresas contratadas, o sindicato indica que “em média, este ano temos quase nove equipamentos destruídos por mês; no ano passado foram sete, o que está afetando o investimento e o trabalho, não apenas dos contratistas, mas também dos trabalhadores florestais”. Essa insegurança para trabalhar no setor florestal tem significado a migração para outros setores produtivos, como construção e mineração, e não há contratistas que queiram crescer na atividade atualmente, devido à falta de certezas.
Nesse contexto, René Muñoz explica que “já são nove anos em que estamos sendo permanentemente afetados. Por isso, pedimos certezas ao Estado, porque não temos seguros — os que existem são muito caros e reembolsam menos de 40% do valor do equipamento queimado —, além da insegurança de se deslocar pelas estradas, tornando o ambiente inviável. Há contratistas que foram vítimas de 25 atentados, então é preciso compreender a situação em que estão. Os projetos de vida dos contratistas desmoronaram, e não há ânimo para continuar. Calculamos que entre 20 e 30 contratistas deixaram o setor, com uma média de 100 trabalhadores cada, o que significa que cerca de 2.000 a 3.000 trabalhadores abandonaram o setor”.
Seguros estatais como apoio real
Muñoz reconhece que, em 2022, há interesse das novas autoridades em resolver o problema: “O que acontece é que esse interesse precisa se manifestar em apoio principalmente às polícias, não apenas moral, mas em recursos, e aí está o problema. Por outro lado, ninguém defende ou apoia as vítimas, que precisam de reparação e apoio, algo em que o Estado falhou em geral”.
Segundo o sindicato, o que existe hoje como apoio aos contratistas florestais afetados por ataques incendiários são recursos através do Sercotec, que cobrem uma pequena parte do que foi queimado e são entregues por evento, “não pela quantidade de equipamentos destruídos, então não é possível continuar. Além disso, é preciso se qualificar segundo certos requisitos que não são do perfil desse tipo de empresa. Por isso, estamos pedindo ao Estado que forneça um seguro e que a ajuda seja real, não apenas para os contratistas florestais, mas também para agricultores, comerciantes e vítimas em geral. A atividade florestal sem seguro não funciona, porque investir se torna muito arriscado, já que os equipamentos mais baratos custam entre US$ 150.000 e US$ 1.500.000. A grande solução seria um seguro adequado ao mercado”, indica Muñoz, concluindo: “Em termos de violência, esperamos que este ano tenha sido o pico e que 2023 comece a reduzir a curva, diminuir a insegurança e melhorar as condições para trabalhar na floresta”.
A foto corresponde a um atentado ocorrido em Arauco em 13 de julho de 2022.