Rede de Prevenção Comunitária tem sido fundamental para reduzir efeitos negativos dos incêndios
Atualmente, existem 366 comitês presentes em 6 regiões do país. O trabalho conjunto entre vizinhos, empresas e instituições tem sido fundamental, principalmente em zonas rurais, para evitar sinistros.
O ano de 2017 foi catastrófico. Milhares de hectares foram devastados pelo fogo, a ponto de localidades como Santa Olga, localizada na comuna de Constitución, na Região de Maule, terem sido arrasadas pelo fogo, destruindo 1.000 moradias em apenas quatro horas.
Esse cenário, além de destruir propriedades, sonhos e tirar a vida de chilenos, deixou lições, onde o conceito de prevenção ganhou força e gerou todo um questionamento sobre esse tema.
Foi assim que, com o apoio de algumas empresas florestais, nasceu a Rede de Prevenção Comunitária, que hoje está presente desde a Região de O'Higgins até a de Los Ríos.
Paola Méndez, coordenadora de uma equipe de gestores da Rede de Prevenção Comunitária, lembrou que, após os mega incêndios, essa iniciativa foi implementada com o mapeamento de setores que tinham vulnerabilidades de diversos tipos, dependendo de sua localização em relação a áreas com maior ocorrência de incêndios.
Ela acrescentou que essas localidades tinham diferentes critérios de seleção e que, na época, começaram com 200 comitês, e agora são 366. "Há um sistema bastante robusto de registro do trabalho realizado em campo. Temos um ciclo laboral com marcos muito importantes. Quando chegamos a um lugar, entramos em contato com as associações de bairro, com as equipes municipais ou com o responsável por emergências, porque, em geral, as corporações municipais têm clareza sobre quais são suas zonas mais vulneráveis", destacou.
Uma vez decidida a área, é feita uma convocatória aberta para os diferentes atores. A abordagem inicial é com as associações de bairro, mas, caso não existam ou não tenham muita atuação, forma-se um comitê de prevenção, integrado por diferentes setores. "Às vezes, até trabalhamos com clubes esportivos. Temos uma visão territorial, mas há diferentes organizações que são convocadas e delimitam seu espaço", explicou.
Para ter clareza sobre o panorama do território, elaboram um mapeamento, porque a ideia é ver até onde vai o alcance de ação do comitê. Então, começa-se o trabalho com uma pequena indução sobre os riscos, os incêndios, como se propagam, junto a uma palestra preventiva.
Ações
"Nestes 6 anos de trabalho, há mudanças, em que diferenciamos as ações. Uma delas, aplicada no primeiro ano, foi física, com o objetivo de eliminar o risco, como a construção de corta-fogo ou limpeza de quintais. Por exemplo, se detectamos que as árvores estavam tocando o cabo elétrico de média tensão, contatamos a empresa elétrica, que é quem realiza a poda. Nós estabelecemos um prazo razoável para isso", contou.
No entanto, reconheceu que passar de uma cultura reativa para uma preventiva não foi simples. Por isso, houve uma gradualidade, com planos que incluíam ações preventivas. Além disso, havia um componente de educação para a prevenção, e hoje as empresas elétricas, sanitárias e florestais se antecipam, porque sabem quando fazem o mapeamento de risco. A respeito disso, enviam um relatório e depois realizam o acompanhamento, algo que é feito durante todo o ano.
Mesmo assim, Paola Méndez acredita que ainda falta prevenção e, por isso, todos os anos fazem porta a porta para entregar material gráfico com ênfase em certos pontos. Além disso, o trabalho é bem específico em cada localidade, porque cada uma tem causas de incêndio diferentes.
"Como realizamos essa tarefa constantemente, ela tem tido resultados positivos, o que se reflete no fato de que os vizinhos, ao verem algo fora do normal, avisam, porque qualquer ação negligente pode terminar em um incêndio. Então, todos os moradores estão super alertas e alertam de maneira oportuna", afirmou.
Análise positivo
Dentro do comitê, há uma análise sobre os incêndios que ocorrem em sua área de atuação. Desde o surgimento da rede até a terceira semana de março, houve um total de 794 incêndios, dos quais 60% foram causados intencionalmente. Mas, ao comparar com a temporada anterior, 35% dos comitês reduziram seu número de sinistros. E um dado relevante é que 120 comitês não tiveram emergências.
O interessante é que, com o passar dos anos, a tarefa da rede se tornou conhecida, e muitas vezes são os municípios, as associações de bairro ou algum líder que buscam criar essa iniciativa.