O trabalhador florestal tem hoje melhores condições de trabalho
Juan Fonseca, presidente da Federação dos Trabalhadores Florestais (Fetrafor), analisa a evolução do mundo do trabalho e a necessidade de diálogo entre empresa e colaboradores.
Se há quem desempenhe um papel fundamental no setor florestal, são os trabalhadores, que diariamente adentram os bosques para contribuir com o desenvolvimento da atividade.
Muitas vezes, eles enfrentam um trabalho duro, que sem dúvida rende frutos tanto no âmbito pessoal como no coletivo, quando se alcançam avanços nas condições laborais e na melhoria do desempenho das tarefas.
Quem tem uma vida dedicada ao setor é Juan Fonseca, presidente da Federação dos Trabalhadores Florestais (Fetrafor), que é motosserrista e conhece de perto os avanços e problemas enfrentados por quem atua nesse ramo.
Está desde os 18 anos trabalhando nos bosques e hoje tem 57. Começou nas atividades silviculturais e de fertilização, para depois se dedicar como motosserrista de desbaste e colheita, onde está focado atualmente.
Natural de Curanilahue, na província de Arauco, Região de Biobío, ingressou no mundo do sindicalismo há muitos anos, embora tenha confessado que nunca imaginou que isso seria uma parte tão importante de sua vida, tendo sido também vereador e candidato a prefeito. Mas foi em 2004 quando, por meio de um amigo que o incentivou a ser dirigente, tomou a decisão, candidatou-se e foi eleito como secretário de atas do sindicato Antillanca, onde trabalhou por 11 anos.
Na próxima eleição, foi presidente e mais tarde tornou-se secretário de atas da Fetrafor, até 2007, quando assumiu como líder do sindicato até os dias atuais.
- Como tem sido o trabalho de ser dirigente sindical? Mudou ao longo dos anos, já que as necessidades dos trabalhadores florestais são diferentes, por exemplo, das dos pescadores ou mineiros?
- Nós evoluímos muito nos movimentos sindicais. Para ser honesto, hoje temos um sindicato na federação. Há muitos sindicatos que optaram por federações novas, e bem, não podemos dizer nada porque tudo tem seu processo na vida, mas sim avançamos, porque a ação sindical tem um antes e um depois. O trabalhador florestal tem melhores condições de transporte, conta com alimentação, condições de trabalho mais adequadas, e nós, motosserristas, temos mais autonomia, porque antigamente, com muito vento, parávamos as atividades, mas hoje houve avanços na segurança.
- E melhorias nos rendimentos, vocês tiveram?
- Antigamente, não sabíamos o que era superar o salário mínimo. Na empresa em que comecei minha vida laboral, os trabalhadores não chegavam ao salário mínimo, que na época era de $11.400, e para alcançar esse valor, o empregador completava o restante. Mas hoje estamos muito acima desse rendimento.
- Isso se deve ao fato de que o trabalhador florestal está mais qualificado?
- O mundo florestal evoluiu tanto na técnica como na seleção dos trabalhadores, que com certificação podem conseguir emprego em outros lugares. Agora temos diálogo com as empresas contratantes, embora muitas já não conversem com a federação, o que gerou um afastamento entre nós e os sindicatos. Espero que isso possa se reverter, porque nada deve criar uma divisão tão grande a ponto de não podermos restabelecer os laços.
- Isso acontece porque as empresas preferem conversar diretamente com seus trabalhadores ou com seus sindicatos em vez de uma federação?
- Bem, a empresa contratante conversa com os empresários, e cada companhia com seus sindicatos internos. Além disso, muitas empresas não têm uma organização sindical. Então, perdemos força depois da mobilização que fizemos devido aos ataques. Praticamente fomos defender a fonte de trabalho, dando segurança à empresa, mas no final saímos prejudicados. Sinto que a empresa não recebeu a mensagem. Houve ocupações de plantas que geraram um afastamento e fechamento de portas que espero que um dia se abram.
- Portanto, parece que hoje as empresas estão mais relutantes ao diálogo, mas mesmo assim, vocês alcançaram conquistas relevantes para o setor florestal?
- Sim. A partir de 2007 e após a greve de 2009, quando muitos trabalhadores foram demitidos, houve uma mudança. Até então, vários não sabiam o que era um abono ou gratificação, eram apenas sonhos. Hoje temos esses benefícios e um aumento do salário mínimo. Conquistamos coisas. Lembremos, por exemplo, que antes nos transportávamos em caminhões sem lona, comíamos nos bosques em pé, mas hoje temos refeitórios e transporte melhor, conquistados com diálogo. Por isso acredito que as empresas deveriam voltar a conversar com a federação, já que a disposição existe.
- Além disso, os trabalhadores estão mais propensos a se sindicalizar, a trabalhar mais unidos?
- Sim, acredito que há muitos trabalhadores dispostos a isso, assim como há outros que têm medo, pois muitos empregadores, ao ouvirem a palavra sindicalismo, começam a demitir. Essa é a força que algumas empresas têm, algo que precisamos conversar para evitar que se repita. Nós, como federação, acreditamos em um diálogo sério, que permita tanto aos trabalhadores como aos empresários chegarem a bons acordos.
- Em um tema complexo, é difícil trabalhar nos bosques considerando a situação de ataques e ameaças? Vocês vivem com esse temor constante ou não?
- Felizmente, temos estado tranquilos ultimamente. Acredito que há cerca de um ano e meio, desde nossa última mobilização, não sofremos ataques, e eu, que me manifestei publicamente contra os atentados, tenho estado tranquilo. É preciso seguir avançando, e os Carabineros contam com mais investimento e recursos para perseguir quem provoca ataques. Acreditamos que podemos continuar trabalhando normalmente, desde que permaneçamos unidos, trabalhadores e empresários.