Projeto da União Europeia integra Chile em trabalho para enfrentar incêndios florestais
Os incêndios florestais extremos estão se tornando uma grande ameaça ambiental, econômica e social em todo o mundo. À medida que os limites das estratégias focadas no combate a incêndios se tornam evidentes, profissionais, pesquisadores e formuladores de políticas reconhecem cada vez mais a necessidade de desenvolver novas abordagens que abordem as causas fundamentais e os impactos dos desastres em grande escala.
FIRE-RES é um projeto de 4 anos (2021-2025) liderado pelo Centro de Ciência e Tecnologia Florestal da Catalunha (CTFC) na Espanha e financiado pelo programa de pesquisa e inovação H2020 da União Europeia (UE).
O Chile é o único país fora da UE que participa deste projeto, que inclui 35 instituições de 11 países da UE (Espanha, Suécia, Noruega, Bulgária, França, Grécia, Alemanha, Países Baixos, Portugal e Itália) e conta com um investimento de mais de 21,5 milhões de euros para sua implementação.
Resiliência
A iniciativa tem como objetivo apoiar a transição para paisagens e comunidades mais resilientes diante dos Fenômenos de Incêndios Florestais Extremos na Europa e em outras regiões.
Nesse sentido, Pablo Lobos Stephani, gerente de Proteção contra Incêndios Florestais da Conaf, comentou que o Chile foi convidado não apenas pela experiência dos incêndios ocorridos em 2017, mas também pelas capacidades técnicas presentes no país, principalmente relacionadas a análise e previsão. “Desde 2017, a Conaf compartilhou conhecimento e informações, além de técnicos institucionais terem apoiado os especialistas da UE que elaboraram o relatório técnico naquele ano. Principalmente, a tarefa da corporação está estabelecida no primeiro pacote de trabalho do projeto, que serve como base para o futuro, onde é muito importanteestabelecer a definição de Fenômenos de Incêndios Florestais Extremos (EWE, em inglês) e utilizá-la como eixo principal para abordar o desafio que temos pela frente”, explicou.
Lobos Stephani afirmou queé de grande importância para a Conaf participar deste projeto após esta última temporada de incêndios florestais, pois é possível analisar as informações deste novo evento extremo, causas específicas, tendências e comportamento desses fenômenos.
“São informações úteis para planejar ações de prevenção, mitigação e preparação para a resposta a esses fenômenos. Como se sabe, no Chile coexistem muitos atores na gestão de incêndios, como os setores público, privado, academia e comunidade. A abordagem daGestão Integrada de Incêndios (GII) do projeto nos agradou, pois segue uma linha de trabalho estabelecida pela corporação, com um enfoque de planejamento nas dimensões: social, econômica, cultural e ecológica”, destacou o especialista da Conaf.
Ele esclareceu que a GII se baseia em 4 pilares: comportamento dos incêndios florestais extremos e suas causas, gestão de emergências, paisagem e economia, além de governança, sociedade, comunicação e conscientização do risco.
Dentro do projeto,o FIRE-RES vai desenvolver, implantar, demonstrar e potencializar 34 soluções inovadoras para enfrentar os desafios impostos pelos incêndios florestais extremos.
Essas ações serão testadas em condições reais ao longo de 11 "LivingLabs" (Laboratórios Vivos), localizados em um amplo espectro de regiões da Europa e de outros lugares, sendo o Chile o único laboratório fora da Europa.
Aqui, a Conaf participa junto ao Instituto de Sistemas Complexos de Engenharia (ISCI) e a Corporação Chilena da Madeira (Corma). A Região do Biobío é o LL-Chile, onde serão implementadas 4 das 34 soluções inovadoras mencionadas anteriormente.
Portanto, Pablo Lobos Stephani, gerente de Proteção contra Incêndios Florestais da Conaf, destacou que tanto os resultados intermediários quanto os finais deste projeto são importantes de analisar, pois, embora o foco esteja na UE, a problemática dos incêndios florestais extremos é global e podemos extrair muitos exemplos sobre possíveis linhas de trabalho a serem implementadas no futuro em nosso país.
Tomada de decisões
Por sua vez, o chefe do Departamento de Proteção das Florestas da Corma, Ramón Figueroa Lizana, comentou que é positivo que o Chile, não sendo um dos maiores países no setor florestal, tenha uma indústria forte e que participar deste projeto seja muito benéfico, especialmente pela experiência vivida em 2017.
“Além disso, temos uma seca de 15 anos e uma mudança climática que tem sido dura, pois não temos um clima continental, mas sim marítimo. Somos um território que deve enfrentar com decisão o que está por vir, já que seremos um dos mais afetados pela mudança climática e também em outros aspectos”, afirmou.
Como Região do Biobío, ele destacou que fazer parte do FIRE-RES é relevante, pois a Corma tem uma parte operacional importante nesta zona, e as conclusões desta iniciativa não serão apenas para a macrozona florestal, mas terão uma visão integral dos incêndios para todo o mundo. “Os incêndios vieram para ficar, e com a mudança climática, os combustíveis serão mais agressivos devido à seca. No Chile, além disso, quase todos os incêndios são provocados pelo homem, e somos um caso de estudo, pois temos 7.000 emergências por ano, e a ocorrência é chave, pois as vítimas são as florestas, assim como nós”, explicou Figueroa Lizana.
Por isso, ele acrescentou que “devemos entender que, se não trabalharmos em equipe, de forma integrada, os danos serão muito piores. Nesta temporada, houve incêndios que se propagaram a 18 quilômetros por hora, e isso é algo impossível de combater”.
Ele afirmou que o FIRE-RES visa a comunidades resilientes e preparadas para os incêndios e florestas que podem se autoproteger e resistir à passagem do fogo. “Por isso, é muito importante apostar neste projeto, pois nele está o futuro da convivência que teremos com os incêndios florestais no futuro”, destacou.
A visão da academia veio do professor e pesquisador da Universidade do Chile e do ISCI, Andrés Weintraub, que destacou a heterogeneidade do grupo, afirmando que “há poucos lugares no mundo onde se pode reunir um grupo tão diversificado e qualificado. Esperamos identificar, entre todos, as coisas que sabemos que não estão bem, onde queremos estar, quais são as lacunas entre esses dois pontos e quais são as ações que devemos tomar para resolvê-las e reduzi-las”.