Plano Bem Viver: autoridades e organizações civis apresentam visões opostas
Após a divulgação de que o Plano Bem Viver tem um novo responsável nacional, o advogado Francisco Arellano, autoridades locais da província de Arauco, assim como representantes da indústria florestal e de vítimas de violência rural, comentaram sobre como o avanço dessa estratégia governamental tem sido percebido e implementado.
Lembremos que este plano territorial tem como objetivo resolver e reconhecer a dívida histórica entre o Estado do Chile e o povo Mapuche, além de melhorar a qualidade de vida dos habitantes da região por meio de diversas ações, como diálogo e investimento em obras públicas nas regiões de Biobío, La Araucanía, Los Ríos e Los Lagos.
Balanço do Plano Bem Viver
Especificamente, esta iniciativa busca resolver os conflitos vividos pelas regiões que compõem a Macrozona Sul, acelerando a restituição de terras às comunidades indígenas, criando o Ministério de Assuntos Indígenas (que está em segundo trâmite constitucional desde julho de 2022), realizando parlamentos com as comunidades e gerando investimentos para o desenvolvimento integral da região.
Nesse sentido, o delegado provincial de Arauco, Humberto Toro, além de reiterar a redução da violência rural na região, como diminuição de roubos de madeira e ataques, afirmou que o Plano Bem Viver está permitindo que “não apenas avancemos em segurança, mas também em termos de ativação, por parte das comunidades, do trabalho relacionado à relação com as empresas florestais”.
Segundo o delegado Toro, isso se refere ao fato de que já há comunidades dedicadas à produção de madeira, que vendem diretamente às empresas florestais. “Isso ataca diretamente o roubo de madeira”, enfatizou Toro.
Ele também explicou que estão trabalhando em “questões de água, estradas, fomento produtivo, de modo que as comunidades e a sociedade sintam que a segurança gerada também está alinhada com o desenvolvimento. Isso mostra que a coordenação entre segurança e desenvolvimento caminham juntas”.
Por sua vez, o prefeito de Lebu e presidente da Arauco 7, Cristián Peña, afirmou: “Tenho uma boa avaliação do Plano, primeiro no aspecto teórico, porque acredito que era o que se necessitava e sinto que cumpriu certas expectativas, não totalmente, mas sim em um tema que me surpreendeu, que foi a disponibilização de recursos”.
“Por exemplo, conseguimos financiar a reconstrução da Escola da Ilha Mocha, já que o Plano aportou $5 bilhões, complementando o que o Governo Regional investirá no mesmo projeto. Isso, somado a outras iniciativas financiadas na Província de Arauco, como parte de um dos liceus em Cañete”, disse Peña.
No entanto, destacou que seria ideal ter maior comunicação com os líderes da estratégia territorial para avaliar o alcance das medidas adotadas na região. Isso porque, segundo Peña, a última reunião ocorreu há dois meses.
“Isso falta, porque sempre que há um plano, é bom que o responsável vá fazendo um check-list, comunicando o andamento e, talvez, nisso houve uma falha. Ainda assim, tenho uma boa avaliação, foi muito melhor que o Plano Arauco”.
Contratistas Florestais
No entanto, a visão da Associação de Contratistas Florestais diverge, pelo menos, do que explica o delegado provincial de Arauco. Segundo René Muñoz, presidente da associação, não há muita informação sobre o funcionamento do Plano Bem Viver, e o ambiente continua tenso.
“Metade da Província de Arauco ainda está controlada por grupos violentos, não se pode transitar livremente pela rota que vai para Purén ou para a região de Tirúa”, disse Muñoz.
Ele acrescentou que, embora considere o Plano Bem Viver uma boa iniciativa, desde que os projetos da estratégia sejam implementados, a atividade econômica continua lenta: “A Província de Arauco é uma zona de atraso há muito tempo”.
Disse ainda que conversou com as autoridades relevantes para “começarmos a buscar normalidade, porque isso não pode se estender por mais tempo, já que a atividade econômica, não apenas a florestal, está totalmente paralisada”.
Vítimas de violência rural
Embora o Programa Bem Viver não inclua um foco de reparação às vítimas de violência rural (há outros programas para isso, como o Programa de Apoio a Vítimas de Violência Rural), conversamos com uma organização que auxilia essas pessoas e, apesar dos programas estatais em curso, explicaram que o apoio governamental é muito baixo.
Em conversa com Solange Etchepare, diretora executiva da Fundação Vítimas do Terrorismo no Chile, ela explicou, sobre o Plano Bem Viver: “Não tivemos nenhum contato com essas pessoas, nem mesmo uma conversa ou reunião”.
Além disso, Etchepare comentou que, em relação a algum trabalho com vítimas na região, pelo menos com sua fundação, “não vejo grandes avanços, ou seja, não sei se estão fazendo algo concreto na região com as vítimas”.
“Hoje estamos em ações legais aqui no Chile contra o Estado e através de uma estratégia internacional que começará agora por crimes e delitos de lesa-humanidade no Tribunal de Genebra”, disse Etchepare.
Fonte:www.diarioconcepcion.cl