Promotor Regional de O´Higgins e investigação de incêndios florestais no Biobío: "Há muitas semelhanças, a causa é a mesma"
Em abril de 2017, o promotor regional de O´Higgins, Emiliano Arias, levou aos tribunais os executivos da empresa elétrica CGE, a quem imputou acusações por sua responsabilidade na série de incêndios que ocorreram no verão daquele ano nas comunas de Paredones, Marchigüe e Peralillo, que consumiram milhares de hectares.
Nessa audiência, que durou 3 dias, o promotor formulou acusações aos executivos da empresa elétrica por sua responsabilidade na falta de manutenção da rede elétrica, o que teria originado sinistros em cinco pontos.
Embora este caso tenha terminado em uma suspensão condicional do procedimento, com acordos milionários que a empresa elétrica teve que pagar aos afetados. Hoje, quase 7 anos depois, é usado como exemplo pela promotora regional do Biobío, Marcela Cartagena, pelos incêndios ocorridos no verão e que custaram a vida de 17 pessoas.
Durante a semana, o promotor Emiliano Arias se reuniu com seu par do Biobío, analisaram os dossiês investigativos e encontraram várias semelhanças. Por sua vez, Arias também participou da prestação de contas da promotora Cartagena, onde anunciou a primeira rodada de formalizações pelos incêndios de Nacimiento e Santa Juana.
Em meio a essa prestação de contas, o promotor regional de O´Higgins, Emiliano Arias, concedeu uma de suas últimas entrevistas ao Sabes.cl, antes de deixar seu cargo em maio próximo, onde abordou as semelhanças entre os sinistros de 2017 e 2023.
- Como foi o trabalho do Ministério Público de O´Higgins para investigar esses incêndios florestais?
- Essa investigação começou antes dos incêndios, pois iniciamos o trabalho no inverno de 2016 com a Conaf, já que se previa que a região iria queimar. Com esse trabalho, vimos que havia um aumento sustentado de incêndios florestais de origem elétrica, que eram os mais devastadores. Começamos a analisar o fenômeno e então ocorre a "tempestade de fogo" que afetou O´Higgins e o Maule, que foi uma catástrofe. Como já tínhamos as equipes preparadas para investigar, o trabalho foi realizado, determinou-se a origem elétrica de vários, negligência de uma empresa elétrica, algo que até então era desconhecido. Foi documentado e na época formalizamos os gerentes responsáveis pela manutenção das linhas e outras áreas dessas empresas elétricas, e daí veio a formalização e investigação, seguida da indenização de mais de 600 vítimas que perderam tudo.
- Aqui houve indenizações milionárias
- Foram bilhões de pesos, o valor concreto foi de $13.000 milhões, além de certos acordos, que nunca soubemos, pois foram nas propriedades maiores, então foi muito maior e isso levou a uma mudança na cultura da empresa CGE, que agora está permanentemente encarregada da limpeza da faixa e reduziu os incêndios florestais na região.
- Por que se chegou apenas à suspensão condicional e não se avançou mais?
- Estamos falando de penalidades associadas a esses crimes, que eram o incêndio sob a Lei de Florestas, no melhor dos casos seriam 541 dias para cada executivo, e depois disso começaria um longo processo de cinco a até 10 anos de indenização civil, que as vítimas teriam que exercer independentemente. Portanto, nosso objetivo como promotores era mais do que obter uma condenação, era buscar uma solução adequada para o conflito penal, e essa solução passava por indenizar as vítimas.
- Que aprendizados o Ministério Público obteve nesse tipo de investigação?
- O aprendizado buscado é o trabalho interinstitucional, não apenas no Ministério Público, você tem que trabalhar com ambas as polícias, como sempre, mas também com outros agentes, como a Conaf e outras instituições que sabem mais sobre incêndios do que nós, e o Ministério Público Nacional, a partir desse trabalho, que este ano gerou um forte aumento na colaboração entre nós. Realizamos capacitações, estamos implementando um plano semelhante àqueles anos, mas melhorado, no Biobío e em outras regiões, com resultados.
- Qual foi a colaboração do Ministério Público de O´Higgins com o do Biobío nesta investigação?
- Trabalhamos há tempos, coordenados por muitas reuniões via Zoom, também em campo viemos há um tempo com o promotor especializado que temos no Ministério Público de O´Higgins, e junto com a equipe designada pela promotora Marcela Cartagena, os promotores Michelangelo Bianchi e Jorge Lorca, estivemos vendo os incêndios, analisando os dossiês, decretando diligências, e esse trabalho culminou na segunda-feira com o anúncio da promotora sobre a formalização de duas pessoas.
Há semelhanças entre os incêndios de 2017 em O´Higgins e os de 2023 no Biobío?
- É o mesmo, se um incêndio ocorre por origem elétrica, é porque houve um acaso, alguém bateu em um poste e o derrubou, ocorre a origem elétrica e não há responsabilidade penal, mas também pode ser falta de manutenção, e todo incêndio elétrico por falta de manutenção geralmente ocorre em zonas muito remotas, e por isso são tão devastadores e grandes. Então, há muitas semelhanças, a causa é a mesma, a figura é a mesma, a orientação é a mesma. Espero que tenham sucesso no desafio que vem agora, porque antes da formalização também houve várias diligências de entrada e busca nas empresas elétricas.
Fonte:www.sabes.cl