Investimento da Arauco no Brasil e suspensão do projeto da Colbún afetaram o ânimo empresarial em setembro
O Índice de Confiança Econômica da Deloitte-Cadem mostrou que 92% dos empresários classificam o investimento no país como ruim ou muito ruim. Os olhares tendem a se voltar para os ministros Maisa Rojas e Diego Pardow.
O desânimo predominou no mundo empresarial durante setembro. O entusiasmo em torno da celebração das Festas Pátrias e dos três dias feriados pareceu ofuscado por duas importantes decisões de investimento: a suspensão do projeto Central de Bombeio Paposo da Colbún em Antofagasta, que envolvia um montante de US$ 1,4 bilhão; e o anúncio de um investimento de US$ 4,6 bilhões por parte da Arauco, mas não no Chile, e sim no Brasil.
Nesse contexto, 92% do Painel de Negócios que integra o Índice de Confiança Econômica elaborado pela Deloitte e Cadem acredita que o Chile está no caminho errado. Isso representa um aumento de 0,3 ponto percentual em relação ao mês anterior.
E se em agosto 79% dos empresários consideravam a situação atual do investimento no país ruim ou muito ruim, no nono mês do ano esse número subiu para 92%.
O gerente geral da Cadem, Roberto Izikson, opinou que as decisões da Colbún e da Arauco refletem o estado de ânimo predominante no setor empresarial e afirmou que "cada vez fica mais difícil investir no país".
"A falta de clareza no avanço de reformas estruturais, como a reforma do sistema político e da permissologia, está gerando grande preocupação entre os empresários", acrescentou o CEO e Managing Partner da Deloitte Chile, Christian Durán.
Esse cenário, como refletido pela medição do mês passado entre o grupo de representantes do setor privado, composto por executivos de diversos ramos, incluindo diretores da AFP Habitat, Banco Internacional, CMPC, Ripley, BTG Pactual, SQM, entre outros, teve um efeito colateral na imagem de alguns ministros de Estado.
92% do painel de negócios classificou como "ruim ou péssimo" o esforço em matéria de investimento do ministro da Energia, Diego Pardow. O número sobe para 100% no caso da ministra do Meio Ambiente, Maisa Rojas.
Izikson afirmou que essas avaliações se baseiam no fato de que "ambas as pastas são as que apresentam maior conflito e problemas no desenvolvimento de projetos de investimento".
No caso do ministro Pardow, "a má avaliação se explica principalmente pela forma como está abordando o tema dos subsídios elétricos, mudando as regras do jogo para geradoras que tomaram a decisão de investir com base em condições estabelecidas na época e que agora se pretende ignorar", disse o presidente do conselho do Centro de Empresa e Sociedade da Universidade do Desenvolvimento (CIES-UDD) e integrante do painel, Hernán Cheyre.
No caso de Rojas, o ponto do economista é que "boa parte dos projetos que foram questionados enfrentaram obstáculos do ponto de vista da avaliação ambiental, e não se viu por parte dela um compromisso genuíno com a remoção desses entraves".
Os secretários de Estado melhor avaliados pelo Painel de Negócios foram a ministra de Obras Públicas, Jessica López, e o ministro da Fazenda, Mario Marcel. Em ambos os casos, os executivos lhes atribuíram uma nota azul – em uma escala de um a sete, com 4,0 e 4,3, respectivamente.
CAE: pouco provável
O ânimo pessimista de setembro entre os empresários também se refletiu nas reformas impulsionadas pelo Executivo e suas chances de serem aprovadas antes do término da administração Boric.
26% classificaram como "pouco provável" a aprovação do pacto fiscal (que agora carece da dimensão do imposto sobre a renda), e o número sobe para 43% no caso da reforma das pensões. Mas a mudança à qual o setor privado vê menos chances é a relacionada ao perdão do Crédito com Aval do Estado (CAE).
Na semana passada, o governo apresentou o projeto que extingue esse sistema e o substitui pelo Financiamento da Educação Superior (FES), além de comprometer um perdão parcial do CAE.
Quando questionados, 70% consideram "pouco provável", embora a pesquisa tenha sido realizada antes da publicação do projeto do Executivo. "A probabilidade nula que o painel atribuiu ao perdão do CAE se explica pelo elevado custo fiscal que isso representaria", disse Cheyre.
Enquanto isso, o diretor de empresas, Hans Eben, mencionou que, embora se entenda que seja "um alívio econômico e emocional" para muitas famílias, "são necessárias muitas outras reformas estruturais na educação antes de discutir seu financiamento".
Ainda assim, 71% acreditam que a reforma mais relevante para o futuro é a do sistema político. "É a base para voltar a conversar, buscar acordos e soluções que representem a grande maioria dos chilenos", disse a diretora da Horizontal, Pauline Kantor.
Fonte: edição assinatura doDiario Financiero