Com árvores nativas protegerão de incêndios florestais o novo parque Catirai de Santa Juana
Serão plantadas espécies como murta, boldo, peumo, quillay, maitén, corcolén, espinheiro e maqui. Atualmente, o espaço natural está em processo de design, projeto que deve ser concluído em novembro do próximo ano e no qual se espera investir 2 bilhões de pesos.
O plantio de hualle, peumo e litre que Santiago Quezada, presidente da União Comunitária de Juntas de Vecinos de Santa Juana, tinha ao redor de sua casa, localizada no setor Paso Hondo, evitou que sua casa queimasse durante os incêndios florestais que no ano passado afetaram a comuna.
“Por outro lado, o galpão que tinha perto do plantio de pinheiros do meu vizinho queimou completamente porque os pinheiros não são uma espécie nativa que contenha o fogo. O dano causado pelos incêndios depende muito das espécies plantadas. Por isso é tão importante que nos locais onde serão feitas novas obras e nas áreas da comuna afetadas pelo fogo sejam plantadas espécies nativas, como as que eu tinha, por exemplo, para evitar que o fogo avance”, afirmou o líder comunitário.
Elisabeth Leighton, prefeita interina de Santa Juana, afirmou que, diante dos eventos vividos no ano passado, que devastaram 200 mil hectares da comuna, a prevenção é vital. Por isso, com a próxima criação do novo Parque Catirai, área que sofreu a queima de 5 hectares durante o mencionado sinistro, não apenas criarão corta-fogos, mas também plantarão espécies nativas que limitem a propagação do fogo.
“É importante o planejamento que será feito, o design da gestão do parque, não apenas porque é um investimento muito grande, de 2 bilhões de pesos, mas porque tem a ver com a recuperação de um valor patrimonial da comuna. Não podemos deixar ao acaso questões tão importantes como a prevenção e o cuidado do futuro parque para evitar que isso (incêndio) aconteça e, caso aconteça, estarmos preparados”.
Claudio Garrido, responsável pelo departamento de Meio Ambiente e Sustentabilidade do município, detalhou que o projeto será realizado com base no diagnóstico de restauração da biodiversidade ecológica feito pela Conaf. “Está comprovado que as espécies nativas têm maior resistência ao fogo”.
Rodrigo Jara, diretor regional da Conaf Biobío, afirmou que, por meio do projeto “+ (Mais) Bosques”, da Estratégia Nacional de Mudança Climática e Recursos Vegetacionais da Conaf, planejam intervir em 45 hectares no Cerro Catirai, incluindo controle de erosão, etapa já executada, e um total de 60 mil plantas. “Até o momento, foram estabelecidas 4.809 plantas, aguardando a liberação de novas áreas pós-colheita de pinheiros queimados para estabelecer as plantas restantes”.
Segundo ele, serão plantadas espécies como “murta, boldo, pelú, peumo, sob copa e quillay, maitén, corcolén, espinheiro e maqui em áreas mais abertas. Espera-se que as espécies selecionadas respondam melhor às condições de solo degradado pós-incêndios florestais e à contínua erosão que afeta o Cerro Catirai”.
Em Santa Juana, detalhou, foram consideradas 3 etapas de trabalho, das quais 2 já foram executadas, com um total de 90 milhões de pesos comprometidos.
O diretor da Conaf destacou que “+ (Mais) Bosques” conta com 255 projetos adjudicados até o momento, localizados em 31 das 33 comunas do Biobío, abrangendo uma extensão de 2.445 hectares, e que atualmente está em processo um concurso público para alcançar uma meta de 3.575 hectares no total.
Enquanto isso, o responsável pelo departamento de Meio Ambiente e Sustentabilidade do município de Santa Juana afirmou que os plantios que a Conaf realizará, localizados em lugares estratégicos para proteger os cursos d’água e a futura infraestrutura, contribuirão para mitigar os efeitos dos incêndios florestais a médio e longo prazo “porque, obviamente, as plantas precisam de tempo (…) esperamos não sermos afetados por incêndios para que este trabalho não seja perdido”, disse, esclarecendo que não se podem plantar árvores maduras, pois sua chance de sobrevivência é menor.
Corta-fogos
Ao longo das 95 hectares do Cerro Catirai, estão sendo construídos corta-fogos, afirmou Garrido, com entre 5 a 10 metros de largura nas áreas de maior densidade.
“Este trabalho consiste na remoção de material combustível, orgânico, restos de madeira, cascas, folhas, resíduos florestais, árvores caídas, resíduos orgânicos combustíveis (…) Isso nos permitiria, em caso de um novo incêndio florestal, evitar que o fogo devastasse todo este parque que está sendo projetado e proteger o pulmão verde de Santa Juana, parque que está inserido na zona urbana da comuna”.
O profissional disse que, após o incêndio, começaram a fazer corta-fogos no cerro e agora falta finalizá-los na parte mais alta do maciço, mas que também devem prestar atenção ao risco de remoção em massa, pois para reflorestar é “necessário remover as árvores existentes e explorar o que há, que são pinheiros e eucaliptos. Assim, o solo ficará sem nenhuma sustentação. Obviamente, isso aumenta o risco de remoções em massa”.
Além do trabalho em andamento, reforçou que é sempre importante que a comunidade seja responsável pelo uso dos espaços públicos, não deixando lixo, bitucas acesas e não fazendo fogueiras dentro do parque. “Precisamos ser conscientes e proteger, digamos, este pulmão verde que temos aqui na comuna. É um espaço de recreação e lazer”.
Novo parque
“Estamos trabalhando em um parque que destaque a natureza original do setor (…) projetando também um parque que reconheça o caráter camponês da comuna, que também permita atividades mais esportivas, como caminhadas e corridas. E, basicamente, o que queremos é devolver à comuna este importante espaço. Vamos melhorar o skatepark que existe lá, ter também um marco comemorativo do incêndio de 2023”, disse María Luz Gajardo, diretora do Serviu.
Afirmou que o design do projeto, adjudicado à Consultora Benjamín Murua por 81 milhões de pesos e que deve ser concluído no final de 2025, busca resgatar a história do parque, dotá-lo de acessos controlados e sistema de iluminação eficiente para permitir seu uso por mais tempo.
Acrescentou que, para o desenvolvimento do projeto, previsto para 19 hectares, espera-se um investimento de 2 bilhões de pesos. “Nos interessa recuperar esse espaço para os vizinhos de Santa Juana, e é para isso que estamos trabalhando”, disse.
A prefeita destacou que a iniciativa está sendo desenvolvida com participação cidadã, definindo como será o parque, e que as primeiras ideias levantadas pela comunidade incluem a construção de um anfiteatro, uma pista de patinação, circuitos para campeonatos de motociclismo e outros relacionados ao atletismo.
“Também são realizadas atividades recreativas lá, o parque convive com o clube de huasos, então hoje também é visto como uma área de fomento produtivo onde podem ser instalados comércios. Nós projetamos, por exemplo, fazer um espaço para festas tradicionais”.
A chefe comunal interina disse que também espera adicionar mobiliário urbano, brinquedos para crianças e circuitos de calistenia, sem perder o patrimônio ecológico e a pertinência cultural do local.
Santiago Quezada, presidente da União Comunitária de Juntas de Vecinos, afirmou que a construção do parque é um desejo antigo da comunidade e que esperam que, por meio da participação cidadã em curso, seja possível ter o melhor projeto para a comuna.
Propriedades das árvores nativas
As árvores nativas, segundo explicou Claudio Garrido, responsável pelo departamento de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Prefeitura de Santa Juana, podem ser benéficas na mitigação de riscos de incêndios por várias razões:
1. Resistência ao fogo: Algumas espécies nativas têm características naturais que as tornam mais resistentes ao fogo, como cascas grossas ou sistemas de raízes profundas.
2. Espaçamento natural: As árvores nativas geralmente crescem de forma dispersa, o que reduz a continuidade do combustível e dificulta a propagação do fogo.
3. Cobertura vegetal: A vegetação nativa que cresce sob as árvores pode atuar como barreira contra o fogo, reduzindo sua intensidade.
4. Retenção de umidade: As árvores nativas ajudam a manter a umidade no solo e na atmosfera, reduzindo o risco de incêndios.
5. Biodiversidade: Os ecossistemas nativos têm uma variedade de espécies adaptadas às condições locais, aumentando a resiliência contra incêndios.
6. Raízes profundas: As árvores nativas têm raízes profundas que estabilizam o solo e reduzem a erosão após um incêndio.
7. Ciclo de nutrientes: As árvores nativas ajudam a manter o ciclo de nutrientes no solo, reduzindo a quantidade de combustível disponível para incêndios.
8. Microclima: As árvores nativas criam microclimas locais que podem reduzir a temperatura e a velocidade do vento, ajudando a mitigar a propagação do fogo.
“É importante mencionar que a eficácia das árvores nativas na mitigação de riscos de incêndios depende de fatores como a espécie, a densidade, a distribuição e a manutenção adequada”, comentou o profissional.
Fonte:Diario Concepción