Investigam clã familiar por suposta falsificação de documentos de madeira roubada
Uma investigação do Ministério Público em conjunto com a PDI resultou na detenção de 7 pessoas, formalizadas por diversos crimes como associação ilícita, receptação e fraude tributária.
Em um esforço conjunto do Ministério Público e da Polícia de Investigação, e em colaboração com o Serviço de Impostos Internos, sete pessoas foram detidas, supostamente membros de uma organização criminosa ligada ao roubo de madeira na Região de Biobío.
A operação policial também conseguiu congelar contas bancárias com valores de até $1.000 milhões, além da apreensão de bens no valor de $490 milhões, incluindo caras bicicletas aquáticas, relógios, computadores e dinheiro em espécie.
No total, os bens e contas apreendidos somam $1.609 milhões.
Com a detenção, esse grupo criminoso está sendo formalizado pela lei de roubo de madeira, por vários ilícitos relacionados, além de associação ilícita, receptação e fraude tributária. A audiência será retomada nesta quarta-feira.
A rota do dinheiro
Segundo informações da promotora regional Marcela Cartagena, os indivíduos, que são pais, filhos e outros parentes entre si, correspondem a um braço financeiro que falsificava a documentação legal da madeira roubada para venda no mercado, registrando vendas de até $13 bilhões.
Supostamente, essa organização familiar recebia o material roubado pela quadrilha liderada por “Mentolato”, que no início do ano foi declarado culpado e condenado a 9 anos de prisão.
Após a receptação da madeira, o clã falsificava a documentação legal para depois vendê-la a empresas florestais, o que faz parte da investigação para determinar o grau de conhecimento delas.
“O interessante disso é a quantidade de dinheiro envolvida. Aqui estamos falando de pelo menos $13 bilhões em movimentação financeira. Já estávamos acompanhando de perto para apreender esses produtos, não foi como se tivéssemos encontrado as notas em uma casa”, explicou a promotora regional Marcela Cartagena.
Segundo a promotora, os lucros obtidos seriam resultado dos crimes mencionados ocorridos entre 2020 e 2022, após os quais o nível de riqueza era mantido discretamente.
“Eles estavam mais ou menos em silêncio, já que o roubo de madeira na região diminuiu. Os crimes pelos quais serão formalizados são, em geral, ilícitos cometidos entre 2020 e 2022. Estavam quietos, pois com a quantidade de dinheiro acumulada não precisavam de muita atividade para sobreviver”, enfatizou Cartagena.
A operação
Em um trabalho conjunto entre o Ministério Público e a Polícia de Investigação, foi feito um monitoramento dos bens recebidos por esse grupo, resultando nas sete detenções mencionadas e em seis ordens de busca e apreensão.
A prefeita inspetora Claudia Chamorro, chefe regional da PDI, explicou que as buscas “ocorreram nas províncias de Arauco, Biobío e Concepción, especificamente nos municípios de Curanilahue, Los Ángeles, San Pedro de la Paz, Arauco e aqui em Concepción, resultando na detenção dos sete alvos que tínhamos em nosso registro, além da ligação com um oitavo integrante de outra organização que já estava preso”.
Além disso, a chefe regional detalhou os bens encontrados durante as buscas, destacando a aquisição de objetos e veículos de alto valor, incluindo 49 bicicletas aquáticas Manta 5 SL3, que são vendidas por pelo menos $10 milhões e que, supostamente, seriam comercializadas por essa organização.
“Havia apenas duas montadas, as demais estavam em caixas prontas para serem vendidas, o que faz parte da investigação para determinar qual era o destino delas. (…) Essas pessoas, por meio de uma empresa, lavavam esses recursos, dessa madeira, usando notas fiscais falsas, e assim as vendiam no mercado tentando simular uma venda comercial legal”, explicou a oficial.
A delegada presidencial de Biobío, Daniela Dresdner, agradeceu o trabalho do Ministério Público e da PDI, destacando o mandato do governo central no combate ao crime e no rastreamento do dinheiro.
“Quando chegamos em 2022 e começamos a investigar fortemente o roubo de madeira, uma das coisas que mais nos chamou a atenção foi a rota do dinheiro, e esses são os resultados concretos desse rastreamento. Graças a isso, conseguimos desmantelar uma organização criminosa que se dedicava a lavar o dinheiro do roubo de madeira”, declarou Dresdner.
O presidente da Corporação Chilena da Madeira (Corma), Juan José Ugarte, valorizou o trabalho do Estado no combate ao roubo de madeira desde a promulgação da Lei de Roubo de Madeira.
“Desde a lei do roubo de madeira, o roubo diminuiu 92% até 2024. Mais de 400 pessoas foram detidas e equipamentos milionários foram apreendidos. Isso significa que onde há crime, há corrupção, ocupação territorial, insegurança e pior qualidade de vida para os vizinhos. Portanto, o impacto social de uma medida como essa só nos leva a parabenizar as autoridades regionais, três mulheres líderes da região que realizaram uma tarefa tão importante”, declarou Ugarte.
Os compradores
Por outro lado, o caso abre uma nova questão: as empresas florestais teriam comprado a madeira roubada pelo clã familiar, cabendo à investigação apurar se houve participação delas ou se agiram sem conhecimento da origem criminosa do material.
Sobre isso, a delegada Daniela Dresdner destacou que “isso faz parte da investigação em andamento. Não podemos assumir nada neste momento. Esperamos ter resultados nesse sentido e verificar se há envolvimento dos compradores ou não. Ambas as possibilidades existem”.
Por sua vez, Ugarte distingue entre as empresas florestais enganadas por esses grupos organizados e aquelas que efetivamente participaram da cadeia criminosa, afirmando que estas “devem ser perseguidas e punidas”.
“É preciso seguir o crime até as últimas consequências. Nós, como setor privado, avançamos na adoção de documentação eletrônica registrada no Serviço de Impostos Internos, medindo o volume de madeira de cada propriedade para evitar que um registro diferente seja usado para lavar a madeira. (…) Fizemos nossa parte, mas sem dúvida o trabalho do Ministério Público, da PDI e a liderança regional é que trouxe esses frutos tão importantes”, afirmou o presidente da Corma.
Fonte:Diario Concepción