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Os torpes WhatsApp dos brigadistas da Conaf acusados de provocar incêndios em Viña del Mar

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Ministério Público formalizou acusação contra quatro integrantes da organização. "Tira algo bom, po", repreendia um deles a um colega por não iniciar um incêndio grande.

- Tô entediado. A ideia é ir jogar bola.

- Vai logo, que tô há três dias aqui. Quero muito sair.

- Como tá o vento.

- Bom pra pescar, no caminho antigo.

- Beleza, tá aí o esquema. Quando quiser.

Lido assim, cru, sem nenhuma referência, esse diálogo poderia muito bem ser uma inocente tentativa de um grupo de amigos combinando de jogar futebol ou talvez empinar pipas, dada a quantidade de vezes que mencionam o vento. Nada disso.

As palavras aqui estão escritas em um código torpe. Tão torpe quanto os atos aos quais se referem.

Segundo explicou o promotor regional de incêndios de Valparaíso, Osvaldo Ossandón, perante o Tribunal de Garantia de Valparaíso, esse diálogo corresponde a uma conversa entre membros de um grupo WhatsApp chamado "Permitido se Entediar", que incluía brigadistas da Conaf. Para esse grupo, que Ossandón chamou de "uma associação criminosa" organizada para provocar incêndios florestais, "se entediar" significa "ficar muito tempo no quartel sem combater incêndios", e "jogar bola" é "o código para ir provocar incêndios".

O vento, portanto, refere-se à possibilidade de haver vento suficiente para o fogo ganhar intensidade, sendo o "caminho antigo" um setor onde poderia surgir um foco.

Até o momento, o Ministério Público identificou e prendeu sete membros dessa organização. Entre maio e setembro, prendeu os três primeiros, acusados de provocar o incêndio de 2 de fevereiro em Viña del Mar e arredores, que resultou na morte de 136 pessoas, enquanto na tarde desta quinta-feira prendeu outros quatro, acusados de iniciar mais 20 incêndios florestais no Parque Nacional Lago Peñuelas.

Como provas, apresentou uma série de conversas entre os integrantes do grupo, além da correspondência entre o que diziam e os incêndios reportados pela Conaf.

Todos os diálogos, reproduzidos pelo promotor, têm um tom similar. Parece que falam de coisas cotidianas, meras histórias, e não de algo terrível como destruição.

- Faz uma besteira boa, que tem que esticar a temporada - repreende um dos brigadistas a um colega para que provoque um incêndio.

- Faz você, po. Já te ensinei como se faz (os incêndios).

Em outra conversa:

- Quando vai vir um alerta vermelho bom?

- Poxa, companheiro, ainda falta. Faltam uns 15 dias pro matinho pra que pegue (refere-se a que a grama ainda está muito baixa).

Outro diálogo:

- Oi, cachorro, tá de plantão?

- Que foi, cachorro. Tô, de plantão. - Tira algo bom, po, homem.

- O vento tá bom, mas não dá pra fazer nada (porque quem fala tá acompanhado). Vai pra (Rota) 68 e joga um fósforo. Joga um fósforo e amanhã entra cedo.

- Sim, e o vento tá no auge.

Em uma conversa ocorrida em 6 de dezembro de 2022, um dos brigadistas entrou em contato com um colega que, naqueles dias, não trabalhava na Conaf, mas sim no Terminal de Ônibus de Placilla.

- Oi, como tá. Isso aqui tá uma merda... Nada em três semanas.

- Tô de olho. Um presentinho, aqui do lado onde trabalho. Não tem muito vento, mas mesmo assim vai soltar fumaça. O combustível é ruim, tá meio a meio (altura da grama).

Nesse mesmo dia, ocorreu um incêndio florestal justamente ao lado do Terminal de Ônibus de Placilla, que durou seis dias.

O Ministério Público explicou que a organização tinha como líder um chefe de equipe da Conaf, que era quem designava os plantões "e dava permissão aos cúmplices para se ausentarem do quartel e provocarem incêndios"; seguido por um "coordenador", que propunha os locais com condições ideais para gerar focos, enquanto o restante dos brigadistas eram executores.

[22:23, 29/11/2024] Javier: - Amanhã entro, então quero horas extras - reclamava em outro diálogo um brigadista.

Eu entro na quarta - completava outro.

- Não se preocupa, se essa coisa pegar bem (um incêndio recém-provocado), vamos ter trabalho por uns 20 dias no mínimo. Tem muito vento.

Fonte:LUN