Detido por megaincêndio: “Precisava, assim como todos, de mais dinheiro. Se não há (sinistros), a temporada acaba”
Em sua declaração ao promotor Osvaldo Ossandón, o ex-brigadista da Conaf admite sua participação e aponta o papel de Franco Pinto, outro dos detidos pelos fatos.
“Algumas vezes eu disse a Franco Pinto para provocar incêndios, já que precisava, assim como todos, de mais dinheiro. Se não houver, a temporada acaba e também não haverá horas extras. E como Pinto era muito ambicioso, falava de grandezas, como um carro mais caro e outras coisas; ele sempre estava disposto a realizar incêndios florestais”.
Isso é parte do que relatou ao promotor Osvaldo Ossandón e dois comissários da PDI o suposto líder da associação ilícita acusada pelo Ministério Público de operar dentro da Conaf, gerando sinistros florestais intencionais —entre eles, o ocorrido em 2 de fevereiro, que deixou 136 mortos— para aumentar a renda de seus membros.
O chefe de equipe da brigada mecanizada “Palma 30”, José Stalin Atenas Gaete (26 anos, ensino médio), foi detido ao meio-dia da última quinta-feira na altura do 400 do Troncal Urbano, em frente a uma passarela, em Viña del Mar, e no quartel Curauma da PDI resolveu renunciar ao seu direito de permanecer em silêncio, detalhando como a rede operava.
De acordo com o que expôs, trabalhou entre 2016 e 2023 na Conaf, atuando em uma brigada que operava na Reserva Nacional Lago Peñuelas (RNLP). Mas foi a partir de 2021 que começou a participar da geração de incêndios florestais, confessou.
Foi naquele verão que, segundo ele, conheceu Pinto, o primeiro brigadista da Conaf a ser detido após ser denunciado pelo bombeiro Francisco Mondaca e que está em prisão preventiva desde maio. Como motoristas de caminhonete, Pinto e o também acusado Maximiliano Vélez estavam sob seu comando, assim como o brigadista Ángel Barahona. Por alguns dias, também se integrou um quinto acusado, Claudio Gamboa.
Naquela ocasião, de acordo com seu relato, Pinto se vangloriou de que, na temporada anterior, enquanto trabalhava como motorista de caminhões-pipa, “ele junto com outro indivíduo do qual não tenho mais informações entraram de moto no interior da RNLP, gerando vários focos de incêndio no período noturno, os quais acabaram saindo de controle e cobrindo uma grande área, chegando até a cidade de Quilpué”.
“Ele se vangloriava para que eu percebesse sua capacidade de gerar incêndios e para que eu o autorizasse a fazê-lo durante o horário de trabalho. Para isso, saía em seu veículo particular sozinho ou com Barahona. Foi a primeira vez que fiquei sabendo da forma de operar”, afirmou.
"Naquele momento, entendi que a geração de incêndios tinha o objetivo de obter maiores rendimentos por horas extras”, relatou, contando que, por isso, Pinto os executava nos horários de mais calor e vento, escolhendo topografias inclinadas e com combustíveis de qualidade favoráveis para que se propagassem e ativassem alertas vermelhos.
No final da temporada 2022, disse, Pinto lhes ensinou a fabricar artefatos incendiários amarrando fósforos a cigarros.
Atenas também declarou que não tem conhecimento de que pessoas de maior hierarquia do centro de operações da Conaf em “Palma 1” tenham dado ordens a Pinto para causar incêndios florestais, mas que ele se vangloriava de ser o “favorito” de um comandante de incidentes, que ele identifica. Inclusive, detalha que Pinto foi acusado de roubar combustível, mas que tal comandante o ajudou para que, na temporada 2023-2024, continuasse como brigadista, funções que usou para seguir provocando incêndios florestais. Dessa atividade, Atenas, como seu superior, tinha ciência, “pois, como código, ele me dizia: ‘Vou dar uma volta, jogar bola’, e eu entendia que ele ia provocar incêndios. Sempre tive isso claro”.
Mensagens da prisão
Além disso, houve outro detido na última quinta-feira que resolveu declarar à PDI: o chefe de equipe da brigada florestal “Palma 8” da Conaf na RNLP, Maximiliano Barahona (22 anos, ensino médio). No quartel Curauma, ele relatou que, na temporada 2021-2022, após o horário de trabalho, viajou no veículo de Pinto junto com quem hoje sabe ser o ex-operador do Senapred e ex-bombeiro Elías Inostroza, já que viu nas notícias quando ele foi detido em setembro, acusado como autor do megaincêndio de 2 de fevereiro.
Os três se dirigiram no veículo até o setor de Quintay, onde o estacionaram e seus dois acompanhantes caminharam para dentro de um bosque de pinheiros para pegar alguns ferros oxidados deixados em um incêndio anterior. No dia seguinte, ele teve que combater um sinistro no mesmo local, por isso suspeitou que Pinto e Inostroza o haviam causado.
Barahona declarou que Pinto tentou contatá-lo da prisão por WhatsApp e Instagram, pedindo-lhe “que combinássemos uma versão em comum diante das possíveis declarações relativas aos seus incêndios, indicando-me que eu poderia ser uma testemunha a seu favor em relação à investigação sobre o ocorrido em 2 de fevereiro de 2024 e as acusações que lhe foram feitas”.
Fonte: Edição assinatura deEl Mercurio