"A floresta nativa poderia estar em ascensão se tivéssemos seguido o modelo do Decreto Lei 701"
Roberto Ipinza, presidente do Colégio de Engenheiros Florestais da Região de Los Ríos e pesquisador do Instituto Florestal (INFOR), destacou em "Conversando com a Acoforag" que a falta de incentivos econômicos adequados para os proprietários florestais condenou a lei a um estagnação.
No episódio 44 do programa "Conversando com a Acoforag", Roberto Ipinza, presidente do Colégio de Engenheiros Florestais da Região de Los Ríos e pesquisador do Instituto Florestal (INFOR), apresentou uma série de reflexões e preocupações sobre a gestão florestal, a prevenção de incêndios e as políticas públicas no Chile.
Ipinza destacou que a Lei de Recuperação da Floresta Nativa tem sido ineficaz devido ao seu desenho. Segundo o especialista, ela não conseguiu replicar o sucesso do Decreto Lei 701, que integrou concertações público-privadas para incentivar a reflorestação e o manejo sustentável. "A floresta nativa poderia estar em ascensão se tivéssemos seguido o modelo do Decreto Lei 701", afirmou. Acrescentou que a falta de incentivos econômicos adequados para os proprietários florestais condenou a lei a um estagnação.
Um dos pontos mais preocupantes destacados foi a carga que recai sobre os pequenos proprietários na prevenção de incêndios. Atualmente, a legislação exige que eles assumam os custos de medidas como a construção de corta-fogos. "É injusto que o proprietário, muitas vezes vítima de incêndios provocados, seja obrigado a custear as medidas de prevenção", afirmou. Segundo dados da CORMA, em 2024 foram realizadas 900 denúncias de incêndios florestais, resultando em apenas dois detidos, o que reflete uma institucionalidade insuficiente para abordar a problemática.
Recursos não madeireiros
O impacto dos incêndios vai além da perda de florestas, alertou Ipinza. Destroem-se recursos não madeireiros como o mel, que depende da polinização realizada por abelhas, uma espécie chave para a biodiversidade. "Cada incêndio destrói colmeias, meios de subsistência e biodiversidade, afetando os pequenos apicultores, que representam 87% do setor", explicou.
Apesar dos avanços, como o aumento orçamentário para a prevenção e o uso de tecnologias como câmeras de monitoramento, Ipinza insistiu que é crucial mudar o enfoque para a educação e a prevenção. “O incêndio mais controlado é o que não ocorre”, enfatizou, destacando a importância de campanhas de conscientização para romper com uma cultura que, historicamente, normalizou o uso do fogo.
Finalmente, o presidente do Colégio de Engenheiros Florestais fez um apelo para desenvolver leis mais inclusivas, robustas e focadas na proteção dos ecossistemas e dos proprietários florestais. “Não basta alocar mais recursos; precisamos de uma legislação que puna efetivamente os responsáveis pelos incêndios e que apoie de maneira concreta aqueles que trabalham para conservar o patrimônio florestal do país”, concluiu.
Esta conversa reafirma a necessidade de uma abordagem colaborativa entre o Estado, a sociedade civil e o setor privado para enfrentar os desafios atuais e futuros da gestão florestal no Chile.
A entrevista completa está disponível no canal do Youtube da Acoforag: