MapBiomas Chile: na região Centro-Sul do país, 500 mil hectares de floresta nativa foram perdidos em duas décadas
- A inovadora iniciativa lançada em abril de 2024 oferece a primeira coleção pública de mapas anuais de cobertura e uso do solo desde 2000 até 2022, com resultados que proporcionam uma visão única da evolução do território chileno em um contexto de mudanças climáticas e megasseca.
Mais de meio milhão de hectares de floresta nativa chilena foram perdidos na região Centro-Sul do país, entre Valparaíso e Los Lagos, nas últimas duas décadas. Este é um dos muitos resultados disponibilizados pela plataforma MapBiomas Chile (chile.mapbiomas.org), que reúne informações sobre áreas úmidas, gelos e geleiras, cobertura florestal, intervenção humana no território, plantações florestais, atividades agropecuárias e silvícolas, além de pastagens e arbustos, entre outros.
A iniciativa surge da colaboração entre especialistas em análise geoespacial, sensoriamento remoto, sistemas de informação geográfica (SIG) e programação. Utilizando imagens de satélite Landsat da NASA, processamento em nuvem e classificadores de inteligência artificial operados na plataforma Google Earth Engine, este projeto estabeleceu uma parceria estratégica de longo prazo com o Google para cumprir sua missão.
Dessa forma, no caso da região centro-sul, a mudança mais significativa é o recuo das espécies nativas do clima mediterrâneo. Desde 2000, cerca de 8% do território de floresta nativa foi perdido (500 mil ha), embora em nível nacional esse número ultrapasse 16,7 milhões de hectares. No entanto, esse cenário contrasta com a situação na Patagônia, Aysén e Magallanes, onde os resultados indicam um aumento de 450 mil hectares, compensando a perda na região Centro-Sul do Chile.
As áreas com solo exposto ou desérticas representam 24% do país, concentrando-se na região norte, onde correspondem a mais da metade do território (56%). Outro resultado destacado é a situação dos gelos e geleiras, com uma perda líquida de cerca de 10% desde 2000 até hoje, equivalente a mais de 410 mil hectares. Além disso, 80% das geleiras estão concentradas na Patagônia.
O acadêmico Jaime Hernández, coordenador geral do MapBiomas Chile, destaca a importância de dispor desses dados inéditos, agora acessíveis ao público. “Os mapas anuais de cobertura e uso do solo permitem avaliar a evolução espaço-temporal da ação humana sobre o território. É uma ferramenta crucial para que os tomadores de decisão tenham um suporte técnico robusto sobre as consequências das políticas de gestão dos nossos recursos naturais e dos assentamentos urbanos ou, complementarmente, da ausência delas”, explica o professor Hernández.
Por sua vez, a pesquisadora do MapBiomas Chile, Valentina González, ressalta que a informação é de fácil acesso, gratuita e livre para qualquer interessado. Além disso, González destaca que “essa informação poderá ser usada por todos, o acesso é simples através do site e poderá ser utilizada para múltiplos objetivos, como avaliar mudanças na paisagem, monitorar coberturas de interesse ou tomar decisões sobre o território, entre outros”.
Entre as mudanças mais relevantes estão a expansão das plantações florestais em 39%, cobrindo cerca de 3,1 milhões de hectares. Além disso, os usos agropecuários ocupam 4,8 milhões de hectares, equivalente ao tamanho da região de Los Lagos. Adicionalmente, entre 2000 e 2022, a expansão urbana aumentou 33%, correspondendo a 127 mil hectares.
“O MapBiomas tem uma lógica de melhoria contínua. Isso significa que cada coleção aprimorará a precisão e a exatidão dos dados. Nas futuras coleções, aumentaremos o número de classes incluídas nos mapas e adicionaremos módulos para temas específicos e relevantes para o país, como o monitoramento de incêndios florestais e corpos d’água, com frequência anual e mensal”, conclui o professor Jaime Hernández.
Sobre o MapBiomas Chile
Desde seu início em 2015 no Brasil, o MapBiomas consolidou-se nos países da América do Sul e expandiu-se para a Indonésia. Em 2022, instituições chilenas integraram-se, dando início à Rede MapBiomas Chile, composta por especialistas da Universidade do Chile, Universidade de Concepción, Universidade da Fronteira, Universidade de Magallanes e WWF Chile. Em nenhum dos territórios onde existe uma iniciativa MapBiomas busca-se substituir fontes de dados ou plataformas oficiais de monitoramento, mas sim complementá-las.
Tanto os dados gerados quanto os códigos adaptados para seu processamento e a metodologia serão de acesso aberto, livre e gratuito, oferecendo uma ferramenta independente respaldada pela academia e contribuindo para a conservação da natureza, o planejamento territorial, o monitoramento de recursos hídricos, a agricultura e outros setores.
A iniciativa também se apresenta como uma oportunidade única para compreender a dinâmica do uso e cobertura do solo de forma mais eficiente e atualizada. O MapBiomas postula que isso é possível por meio do uso de processamento em nuvem, dados satelitais de acesso livre e alta automação de processos, contando com a participação ativa da comunidade de especialistas.
Fonte:www.forestal.uchile.cl