Sindicatos da Madeira: “Estamos destinados a desaparecer se não forem tomadas medidas urgentes”
● A rede Futuro Madeira rejeitou categoricamente as declarações do ministro da Agricultura, que afirmou não ser verdade que exista um “recuo” da indústria florestal.
Os sindicatos agrupados na rede Futuro Madeira, composta pela Associação Chilena de Biomassa (AChBIOM); Associação de Contratistas Florestais (Acoforag); Associação de Proprietários de Floresta Nativa (Aprobosque); Colégio de Engenheiros Florestais (Cifag); Corporação Chilena da Madeira (Corma) e os Pequenos e Médios Industriais da Madeira (PymeMad), somam-se à avaliação crítica que tem sido exposta por diversos atores do setor florestal nestes dias, reforçando que há um balanço muito negativo para o setor florestal chileno, especialmente para os pequenos proprietários, as PMEs madeireiras e os contratistas florestais.
Além dos devastadores incêndios florestais que ocorrem a cada temporada, muitos deles intencionais, o setor enfrenta um cenário econômico complexo, com altas taxas de juros, colapso da demanda, desaceleração da construção e a consequente queda no preço dos materiais, provocando o fechamento ou falência de 200 pequenas serrarias, três plantas industriais, 20 empresas contratistas, além da perda de 35 mil hectares de plantações florestais por ano. Isso resultou em uma redução de 14% das plantações e uma queda de 20% no produto interno bruto florestal, explica o presidente da Corma Biobío e Ñuble, Alejandro Casagrande, que acrescentou: “A solução é que o país volte a plantar”.
A isso soma-se a violência e os ataques que ocorrem nas operações florestais. Sobre isso, o gerente da Acoforag, René Muñoz, afirmou: “A violência contra os trabalhadores se normalizou, e ninguém, incluindo as autoridades, parece se surpreender que isso ocorra periodicamente na macrozona sul”.
“Esse retrocesso se transformou em uma tragédia econômica, social e ambiental, como temos alertado como Colégio de Engenheiros Florestais, e diante disso, observa-se pouca empatia e senso de urgência por parte do governo”, declarou o secretário executivo do CIFAG, Julio Torres, argumentando que a agenda legislativa “não busca impulsionar, mas sim mudar um modelo que consideram insustentável com base em um viés ideológico que desacredita o aporte das plantações produtivas”.
Um exemplo disso é o atual projeto de lei sobre incêndios que está sendo tramitado no Congresso, que não aborda a ocorrência intencional de incêndios, nem a recuperação das áreas afetadas nas mãos de pequenos e médios proprietários.
Por sua vez, o presidente nacional da Pymemad, Michel Esquerré, destacou que uma das grandes urgências é o fomento ao reflorestamento: “Não se está recuperando nem plantando, então nem a lei que cria um novo serviço florestal nem a lei de incêndios abordam corretamente os desafios dos pequenos e médios proprietários, nem o desafio de descarbonizar a economia nacional (...) Com toda certeza, as PMEs vão desaparecer”, enfatizou.
Rodrigo O’Ryan, presidente da AChBIOM, compartilha um diagnóstico similar da crise do setor, afirmando: “Não concordamos com a visão otimista baseada nos números de exportação do último ano, pois acreditamos que a crise atual é de natureza estrutural e seus efeitos devastadores serão sentidos intensamente em breve”.
A Rede Futuro Madeira instou as autoridades, especialmente o ministro da Agricultura, a considerar o trabalho e as propostas apresentadas pelos sindicatos nos últimos meses, tanto em audiências com as autoridades quanto na participação em instâncias formais como a Mesa da Madeira e o Conselho de Política Florestal, que não feche as portas ao mundo da madeira, que envolve milhares de famílias da região centro-sul do Chile, e, finalmente, que não ignore uma crise que é evidente e urgente de ser enfrentada, antes que seja tarde demais.