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Dados incongruentes: O silêncio institucional diante da perda de floresta nativa no Chile

Dados incongruentes: O silêncio institucional diante da perda de floresta nativa no Chile

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Por Simón Berti. Presidente do Colégio de Engenheiros Florestais

Recentemente, duas notícias reativaram a já bizantina discussão sobre quanto de floresta nativa existe e quanto foi perdido ou está sendo perdido atualmente no Chile.

A primeira delas foi a publicação da primeira coleção de mapas da plataforma MAPBIOMAS, uma iniciativa colaborativa entre quatro universidades (do Chile, de Concepción, Magalhães e La Frontera). Nela, monitora-se a dinâmica de mudanças de coberturas para diferentes usos do solo (Ver aqui).

A primeira coleção de mapas abrange o período 2000-2022 e parte dos resultados aponta uma perda de 590 mil hectares de floresta nativa entre as regiões de Valparaíso e Los Lagos no período estudado. Ou seja, pouco mais de 25 mil hectares anuais.

O número apresenta uma diferença significativa em relação aos relatórios oficiais da Corporação Nacional Florestal (CONAF), com base no cadastro de recursos vegetacionais.

A segunda notícia relacionada a este tema foi a publicação da última versão do Informe País: Estado do Meio Ambiente, publicação periódica do Centro de Análise em Políticas Públicas da Faculdade de Governo da Universidade do Chile. Em sua última edição (2023), informa uma perda de floresta nativa de 450 mil hectares no período 2001-2019.

Novamente, o número apresenta uma diferença significativa em relação aos relatórios oficiais da Corporação Nacional Florestal.

As discrepâncias no caso do MAPBIOMAS poderiam se dever a questões metodológicas ou diferenças na classificação de coberturas. Onde alguns veem florestas, outros observam arbustos. Pode ser.

Mas não deveria ser o caso dos dados publicados pela Universidade do Chile, já que utiliza a mesma fonte de informação do cadastro elaborado pela CONAF. Com esses mesmos dados, outra análise — registrada no livro “Meio século de políticas públicas de conservação da natureza”, do engenheiro florestal Leonardo Araya — estima uma perda de floresta nativa de 187 mil hectares no mesmo período.

Com a ressalva de que Araya inclui uma recuperação natural de florestas de 111 mil hectares, de modo que o saldo líquido de perda é de 76 mil hectares.

Quanta floresta nativa está realmente sendo perdida?
O próprio Leonardo Araya também destacou, ao revisar alguns dos mapas publicados pelo MAPBIOMAS, que estes apresentam erros, colocando em dúvida seus resultados. Será necessário analisar um número maior de mapas para tirar conclusões mais definitivas, mas os erros, segundo Araya, são evidentes.

Por questões de espaço, não incluo os dados de inúmeras outras publicações nos últimos anos que também apresentam números discordantes dos registros oficiais.

A gravidade dessas discrepâncias reside no fato de que os dados oficiais de uso do solo e das dinâmicas de mudança de uso são fundamentais para orientar as políticas públicas do país.

Quanta floresta nativa está realmente sendo perdida?
Quais são as causas?
As plantações florestais estão crescendo ou recuando, como acusam os diferentes atores do setor?
Atualmente, está ocorrendo substituição de floresta nativa por plantações?

Se um manto de dúvida paira sobre os dados oficiais de uso e mudança do solo, então todas as informações oficiais que dependem desses números podem ser questionadas, incluindo o Inventário Nacional de Emissões de Gases de Efeito Estufa (INGEI) reportado à Convenção-Quadro sobre Mudança do Clima.

Estariam em dúvida os avanços na redução de emissões e os recursos internacionais que o país recebe por tais conquistas. Por isso mesmo, é incompreensível que os órgãos do Estado responsáveis por esses dados, a Corporação Nacional Florestal e o Instituto Florestal, não se manifestem decididamente para explicar essas diferenças. E, se for o caso, esclarecer e reforçar a precisão dos dados oficiais.

Silêncio institucional
Observa-se certa indiferença de ambos os serviços públicos em esclarecer, por exemplo, a veracidade da afirmação de que se perderam no Chile quase 600 mil hectares de floresta nativa nos últimos vinte anos.

Se isso fosse verdade, significaria que a gestão do serviço florestal deveria ser fortemente questionada por não ter impedido tal perda. E, se o número não representar a realidade, seria imperdoável que o próprio serviço não fizesse um desmentido público. Em qualquer das situações, o silêncio institucional é gravíssimo.

O mesmo ocorre com os números de substituição de floresta nativa por plantações florestais. Entre outras situações, o Relatório da Universidade do Chile denuncia uma substituição de floresta nativa por plantações de mais de 16 mil hectares no período 2017-2019, sendo que essa é uma prática proibida pela legislação, legislação que a Corporação Nacional Florestal deve aplicar e fiscalizar.

Minha convicção é que esse número está absolutamente distante da realidade, mas é o serviço público que deve confirmá-lo ou desmenti-lo. É o mínimo que devemos exigir para dissipar o manto de dúvida que paira sobre os dados oficiais associados à cobertura florestal de nosso país.

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