Por que as farmacêuticas estão usando uma árvore chilena para melhorar as vacinas contra a malária?
Já é sabido que o Quillay (Quillaja saponaria), árvore chilena endêmica, tem diversas utilidades na indústria farmacêutica, mas este mês marcou um marco na medicina ao ser utilizado em uma nova vacina contra a malária.
Acontece que no dia 15 de julho passado, na Costa do Marfim, África, foi lançada a nova vacina contra a malária que contém Quillay e que, nos testes prévios realizados em mais de 4.000 crianças, alcançou 75% de eficácia, a mais alta já registrada em uma vacina contra essa doença.
Este antídoto foi desenvolvido pelo Instituto Jenner da Universidade de Oxford e pelo Instituto Serum da Índia, e será aplicado na África pela farmacêutica Novavax, inicialmente em bebês de até 23 meses.
Mas por que incluir Quillay estaria melhorando as vacinas contra a malária? A chave foi combater o que poderia ser chamado de "o segredo sujo" das vacinas, utilizando as "saponinas" desta árvore nacional.
Por que o Quillay ajuda a curar a malária?
De acordo com um artigo publicado esta semana no The Telegraph, o problema que as vacinas como a da malária estavam enfrentando eram os adjuvantes, substâncias químicas adicionadas às vacinas para reforçar sua resposta imunológica a um antígeno.
No entanto, para a malária, os adjuvantes utilizados não estavam sendo eficazes, já que o parasita que causa a doença, proveniente dos mosquitos, muda de forma constantemente.
Para evitar esse obstáculo, os cientistas optaram por usar adjuvantes à base de saponinas, que são as moléculas encontradas na casca do Quillay. Segundo os especialistas, elas são muito melhores para impulsionar a resposta imunológica das vacinas.
A saponina tem diferentes partes, e a que está sendo usada para isso é a QS-21, também presente atualmente em vacinas para herpes zóster.
A QS-21 do Quillay é produzida triturando a casca da árvore e misturando-a com água para gerar um líquido marrom. Depois, essa substância se torna pastosa e é seca, virando um pó. Por fim, é combinada com colesterol e um lipídio, mistura que evita efeitos tóxicos da molécula.
Segundo a farmacêutica GSK, que já usava esse método em vacinas contra malária e herpes zóster, a que contém QS-21 reduziu em um terço as mortes por malária.
Já a Novavax, que chamou seu novo adjuvante com saponina de Matrix-M, aprovado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), seria atualmente o mais promissor devido ao seu alto percentual de eficácia em crianças.
Essa versão também utiliza QS-7, outra parte da saponina que é mais abundante na casca do Quillay. Além disso, especialistas estimam que ela poderia reduzir pela metade as mortes por malária.
"A vacina R21/Matrix-M representa uma mudança de paradigma na prevenção da malária. Supondo que combinemos a R21/Matrix-M com vacinas que bloqueiem a transmissão e a fase sanguínea, temos uma chance real de reduzir pela metade a mortalidade por malária na África até o final da década", comentou Adrian Hill, diretor do Instituto Jenner.
Por enquanto, está sendo distribuída em lugares da África como Benin, Burkina Faso, Camarões, Gana, Quênia, Libéria, Malauí e Serra Leoa, e planeja-se estender as doses para Uganda e a República Democrática do Congo.
Além disso, estimativas da OMS indicam que serão necessárias entre 40 e 60 milhões de doses anuais até 2026, número que aumentará para entre 80 e 100 milhões anualmente até 2030.
Uma árvore chilena contra a malária, mas ameaçada
A saponina do Quillay também funciona como antiviral e, de fato, é principalmente usada em sabões, razão pela qual também é chamada de "árvore da casca de sabão".
Também é utilizada em alguns cosméticos, xampus, entre outros, e é considerada uma das espécies mais interessantes que cresce apenas na zona semiárida do Chile, desde a região de Coquimbo até a Araucanía.
No entanto, sua utilidade também representa uma ameaça. Os Quillay amadurecem lentamente e podem levar até 25 anos até que sua casca esteja pronta para extrair a saponina.
Isso não combina com a urgência de sua extração. Por isso, já existem laboratórios onde se tenta acelerar esse processo, clonando as saponinas para reduzir o tempo de colheita para 10 ou 5 anos.
No Chile, o Quillay é uma espécie especial porque pode suportar condições que outras árvores não conseguem, como solos pobres em nutrientes e condições extremas de seca, mas tudo indica que está chegando aos seus limites.
De acordo com o Ladera Sur, desde 2010, essa árvore está sendo afetada pela mega seca que assola as áreas áridas do país. De fato, o meio relata que é uma das árvores que mais está perdendo verde nas zonas pré-cordilheiras devido à falta de água.
Por isso, estão sendo feitos esforços para que persista apesar das condições, como incluí-lo no arborismo urbano do Chile e usá-lo para reflorestar, já que cresce rápido e produz sombra, ajudando outras espécies mais lentas a crescerem sem secar no processo.
Igualmente, está protegido por uma lei que regula sua extração.
Fonte:biobiochile.cl