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O apelo da mãe de Pablo Marchant à CAM: "Peço que permitam retirar o corpo do meu filho"

O apelo da mãe de Pablo Marchant à CAM: "Peço que permitam retirar o corpo do meu filho"

  • No dia 4 de setembro passado, Miriam Gutiérrez recebeu um duro golpe que dificultou suas pretensões. Naquele dia, a comitiva que iria realizar uma perícia de viabilidade para exumar os restos foi atacada a tiros por encapuzados e tiveram que sair do local sem conseguir realizar a diligência.

Sob um sol morno de primavera, a Rádio Biobío chegou à comuna costeira de Tomé, na Região do Biobío, para conversar com Miriam Gutiérrez Vergara (51), mãe de Pablo Marchant Gutiérrez, o ex-integrante da Coordenadora Arauco Malleco (CAM) morto em um confronto com Carabineiros após um ataque incendiário ocorrido em 9 de julho de 2021 em uma propriedade florestal em Carahue, na Araucanía.

Miriam vive em um pequeno apartamento na parte alta da comuna, setor que se alcança serpenteando uma das principais vias. Esse espaço, que divide com seus dois filhos, também é cenário das travessuras recorrentes de Chuky e Princesa, seus dois gatos que percorrem as instalações com autoridade diante de nossa presença.

Ali, em um móvel encostado em uma das paredes, há dezenas de fotos de Pablo Marchant, do jovem que, após estudar no Instituto Nacional, ingressou no curso de Antropologia da Universidade de Concepción e começou a viajar para o Alto Biobío, onde conheceu a complexa situação de algumas comunidades em resistência e onde foi recrutado pela CAM, sem imaginar que nessa luta encontraria a morte.

“Pablo era um jovem muito inquieto, muito inteligente também, era um jovem muito audaz, queria aprender de tudo. E ele optou por vir para cá, para a cidade de Concepción, junto com meus pais. E bem, aceitei esse pedido porque ele estaria perto dos meus pais e porque ele tinha essa necessidade de vir para o sul, pois não queria mais ficar em Santiago”, conta Miriam.

Hoje, essa mãe e chefe de família está focada em uma batalha para conhecer a verdade sobre como seu filho foi morto e, para isso, necessariamente precisa exumar os restos de Pablo, que estão em uma propriedade em processo de recuperação pela CAM em Pidenco, comuna de Lumaco, e realizar uma nova autópsia.

No dia 4 de setembro passado, Miriam Gutiérrez recebeu um duro golpe que dificultou suas pretensões. Naquele dia, a comitiva que iria realizar uma perícia de viabilidade para exumar os restos foi atacada a tiros por encapuzados e tiveram que sair do local sem conseguir realizar a diligência.

Nesta entrevista, Miriam conta parte de sua luta para encontrar essa verdade esquiva sobre a morte de seu filho e como enfrenta o novo desafio de recuperar os restos dele, que foram enterrados em uma propriedade vigiada pela CAM.

-Como a senhora soube que Pablo era integrante da Coordenadora Arauco Malleco?

-Eu soube apenas quando Pablo foi assassinado, soube quando cheguei ao Serviço Médico Legal que ele pertencia à CAM. Eu não sabia o que era a CAM, não tinha conhecimento sobre a organização, só sabia que Pablo ajudava nas comunidades, era o que ele me dizia. Eu aceitava porque acreditava e acredito que a recuperação de suas terras é algo justo. E foi assim que soube que ele pertencia à CAM.

-Como foi esse dia? O que a senhora lembra quando soube da morte de Pablo?

-Durante o dia, soube que haviam assassinado Ernesto, e eu sabia que ele era filho de Héctor Llaitul, amigo de Pablo. Fiquei preocupada porque não sabia nada dele, comecei a ligar, mas nem imaginei que poderia ter sido ele ou que estivesse envolvido nisso. Fiquei preocupada, mas não obtive resposta. Depois liguei para uma pessoa que também não sabia dele, sua namorada. E fiquei assim o dia todo, sem resposta. À noite, fui dormir e por volta das duas da manhã me ligaram avisando que não era Ernesto, mas sim meu filho que havia sido assassinado.

-Como explicavam essas desaparecidas de Pablo? Ele nunca disse que estava envolvido na Coordenadora Arauco Malleco?

-Não, Pablo sempre vinha me ver, estávamos em constante comunicação, me dizia que estava lá, que estava bem, que às vezes estava em lugares diferentes. Não dava muitos detalhes sobre onde estava ou o que fazia. Apenas que estava ajudando, que arava, que fazia todas as tarefas do campo. E claro, não tinha um relato claro de onde andava. Sempre me dizia: “Não, estou por aqui, mãe, estou bem, não se preocupe”.

-O que passou pela senhora ao saber que seu filho pertencia a uma organização que muitos chamam de terrorista ou envolvida em atos violentos na Macrozona Sul?

-A verdade é que, pela forma como Pablo era, não me surpreendeu muito, porque ele sempre foi um lutador das causas sociais, não gostava de injustiças, e acho que na Coordenadora encontrou uma forma de lutar contra tudo o que repudiava. Talvez, claro, para alguns não seja a melhor forma, mas eu conhecia meu filho e sabia que ele não faria nada contra seus princípios, que não mataria ninguém, apenas lutaria pelo que era justo.

-Como os líderes e seus companheiros da CAM o apresentam?

-Bem, meu filho para mim sempre foi um orgulho, como filho e como pessoa. Para eles, era um bom rapaz, um bom jovem, muito cooperativo, muito humilde, prestativo, um bom lutador. Sempre ouvi coisas bonitas sobre ele e ainda continuo ouvindo como as pessoas falam dele.

-Eles o chamaram de waichafe da organização?

-Sim, claro, o chamaram de waichafe, assim o reivindicaram. E não me surpreende, porque Pablo sempre quis ser o melhor em tudo, sempre se destacou em tudo o que fazia.

-E a senhora não o repreende por nada ou ficou chateada porque ele nunca contou que pertencia a essa organização?

-Não, não tenho nada a repreender. Entendi tudo o que ele buscava ali, entendi sua necessidade de lutar contra todas essas injustiças. Talvez repreender por não me contar completamente o que fazia, mas também entendi que ele tentava nos proteger como família e sabia que isso me preocuparia muito, pois obviamente ele estava expondo sua vida.

-E a senhora, como mãe, também legitima essa luta?

-Bem, entendo que há muita injustiça na região da Araucanía, especialmente para as comunidades. Quanto aos territórios, muito lhes foi tirado, vivem em uma pobreza que não é justa. E sim, concordo que se lute pelos territórios, que lhes devolvam o que lhes pertence. Talvez haja diferentes tipos de organizações, diferentes formas, não posso falar de todas porque não as conheço.

-Quem é o responsável pela morte do seu filho Pablo?

-Para mim, os responsáveis materiais são os Carabineiros, e eles são os responsáveis pela morte do meu filho. Não posso dizer se a CAM está envolvida nisso, porque isso é matéria de investigação. Não tenho mais informações, mas sei claramente quem matou meu filho.

-Por que os restos de Pablo estão enterrados em um terreno que hoje está sendo reivindicado pela CAM?

-Quando Pablo me visitava, na última vez que veio, ele me falou sobre isso, que se algo lhe acontecesse, queria que eu o deixasse naquela região. Não me disse qual especificamente, mas disse que me diriam onde. Na hora, eu disse que não, dei várias explicações, e ele entendeu. Disse: “Sim, mãe, você tem razão, deixo a decisão para você”. Quando cheguei lá, muitas pessoas vieram falar sobre isso, sobre onde deixá-lo, e sugeriram Pidenco, em Lumaco.

Eu não conhecia o lugar, não sabia onde era. Quando chegamos, me explicaram que era um lugar que havia sido recuperado, etc., e perguntei às pessoas do local se havia documentos caso entrassem e retirassem o corpo. Na hora, me disseram que sim, que os documentos existiam, que havia papéis da empresa florestal.

Então fiquei mais tranquila, pensando que, se um dia isso fosse necessário, os documentos apareceriam. Bem, aceitei deixar o corpo do meu filho lá porque entendi que era o que ele queria.

-Por que a senhora solicita a exumação dos restos do seu filho?

-A exumação é solicitada porque há muitas irregularidades no caso. Nós, como família, estamos há três anos nessa busca. Há um informe do Serviço Médico Legal que diz que Pablo levou um tiro na cabeça, o único que causou sua morte. Mas surgiram dúvidas, pois muitos disseram que Pablo levou mais tiros, não apenas um.

-O que aconteceu no dia em que foram ao local onde estão os restos do seu filho em Lumaco?

-Isso já estava conversado com as pessoas do lof, desde o começo eu disse que iria até o fim com essa investigação. Que precisava da verdade sobre o que aconteceu com meu filho, diante de todas as contradições sobre sua morte. E eles concordaram, disseram que me apoiariam. Da Coordenadora, também tive o apoio de Héctor.

-Héctor Llaitul?

-Sim, ele disse que me apoiaria. Eles, claro, não acreditam na justiça chilena, mas ele concordou em cooperar, porque era justo encontrar a verdade e justiça para Pablo. Eu ia contando tudo o que fazia na investigação, até chegar ao ponto em que falei sobre o pedido de exumação. Eles disseram que sim, que concordavam, que não iriam se opor.

-Naquele dia em que foram à propriedade em Lumaco, era para exumar os restos do seu filho?

-Não, naquele dia seria feito um relatório de viabilidade do local para, posteriormente, em outro dia, fazer a exumação. Isso também expliquei.

-E o que aconteceu?

-Chegamos lá e elas estavam bloqueando a entrada. Perguntei por quê, o que havia acontecido, e me disseram que o lof, a coordenadora, seus companheiros, não queriam que o corpo de Pablo fosse retirado e que a exumação fosse feita. Bem, entramos em uma discussão verbal com elas, porque isso já havia sido conversado, como disse.

-Foi um momento muito tenso?

-Foi muito desagradável, porque já são três anos e tínhamos um bom relacionamento, não havia discórdia. Foi muito tenso, amargo para mim, porque não entendia por que estavam fazendo isso quando tudo já estava conversado, por que estavam fazendo isso com Pablo. Quis ver Pablo novamente, mas na discussão me disseram que só eu poderia subir para vê-lo, e nem isso pude fazer porque o caminho estava bloqueado com árvores.

-E que sensação isso lhe deixa?

-Naquele momento, fiquei muito desiludida, muito triste, com muita raiva, muita dor, porque são três anos de sofrimento, de angústia sobre o que aconteceu com meu filho. Sem saber, sem clareza do que aconteceu naquele dia, porque ninguém da coordenadora foi capaz de me dizer o que houve. Depois do incidente na perícia de viabilidade, ninguém me ligou, não tive contato nem com o lof nem com a coordenadora. Essas relações simplesmente se romperam.

-A senhora não tem garantias de segurança?

-Não sei se teria, não quero ter outro momento tenso com eles. Preciso que meu filho seja retirado dali para que eu possa visitá-lo, porque agora não posso ir com a tranquilidade de antes. Porque eu ia vê-lo, estava com ele, e agora não posso, não posso.

-E a senhora nunca teve problemas quando ia visitar seu filho?

-Nunca tive problemas porque havia boa comunicação, como disse, estávamos conversando sobre o que eu estava fazendo. Nunca houve um não; claro, eles compartilhavam a questão da espiritualidade, de não retirar o corpo, mas entendiam o que eu buscava, era o que me diziam.

-Depois desse fato, mudou a percepção que a senhora tem da CAM?

-Não, quero deixar claro que a luta para mim continua válida, porque era pelo que meu filho lutava. Talvez nem todos os que participam dessa luta tenham os ideais e a convicção que meu filho tinha.

E é claro que muda, porque sinto que não estão respeitando a justiça para meu filho. Sinto que, para o lado dos presos deles, tem que haver justiça, mas para Pablo não. Então não entendo qual é a percepção deles sobre acreditar ou não nas instituições que tanto rejeitam.

-E hoje, o que é a CAM para a senhora?

-É uma organização que luta pelos direitos, pelo território dos mapuches, simplesmente isso.

-Mas quem falhou aqui, porque a senhora me disse que o líder da CAM havia se comprometido com vocês?

-Sim, claro. Por isso digo que não tive uma explicação da
coordenadora. Ninguém veio me dizer o que aconteceu, isso ou aquilo. Entendo que nem todos concordam com essa decisão que tomaram.

Não entendo por que seus companheiros se negam a que eu busque justiça e verdade para Pablo. Não consigo entender até agora. Se me explicassem o que houve, talvez entendesse, mas até agora não tive nenhuma resposta.

-Mudou sua imagem em relação a Héctor Llaitul?

-Claro que sim. Não acho que seja tão verdadeiro o que ele diz sobre acreditar ou não na justiça. Se, por um lado, como disse, os presos exigem julgamentos justos, e por outro não apoiam o que estou
fazendo, então seu discurso não é real.

-E o que a senhora espera que aconteça?

-Espero que permitam que as entidades responsáveis retirem o corpo do meu filho, que se faça a autópsia e tudo o que for necessário, para chegar à verdade do que aconteceu com meu filho.

-Há uma situação bastante estranha no caso do seu filho, porque hoje a organização à qual ele pertencia o tem, entre aspas, “sequestrado” em uma propriedade?

-Sim, olhando

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