Após 14 ondas de calor, Chile registra mais incêndios florestais que no ano passado, mas com menos destruição
Mais incêndios florestais, mas uma menor área devastada. Assim tem se comportado a atual temporada de sinistros em comparação com o período anterior, segundo a Corporação Nacional Florestal (Conaf).
Por trás dessa tendência, surgiram casos de intencionalidade, refletidos em focos simultâneos, denunciados pela Corporação Chilena da Madeira (Corma).
Além disso, diante do iminente início da fase crítica que ocorre anualmente no Chile, especialistas avaliam os riscos de o país repetir episódios como os que afetam a Califórnia, nos Estados Unidos.
Segundo a Conaf, entre 1º de julho de 2024 e 14 de janeiro, houve 2.711 incêndios, contra 2.263 no mesmo período anterior. No entanto, a área queimada diminuiu de 18.101 para 16.767 hectares. A Califórnia acumula mais de 16 mil hectares devastados em uma semana.
No Chile, as regiões com o maior número de incêndios são Biobío (472), Metropolitana (450) e La Araucanía (417).
A estratégia do "golpe único"
“Esta temporada é mais complexa em condições ambientais (...), porque desde 1º de outubro até 14 de janeiro houve 14 ondas de calor, diferentemente da temporada passada, quando, no mesmo período, houve apenas uma onda de calor”, detalha a diretora executiva da Conaf, Aída Baldini. Ela explica que “como também choveu na primavera, a grama cresceu muito, e isso é o que hoje chamamos de combustível fino morto. Daí dizemos por que há um aumento substancial dos incêndios”.
Sobre a menor área queimada, ela explica: “Tornou-se obrigatório para todo o combate realizar um 'golpe único', mesmo que às vezes soe um pouco exagerado, porque significa enviar um técnico, uma brigada, dois aviões que trabalham em tandem e realizar os lançamentos, inclusive brigadas
aerotransportadas para chegarem muito rápido.
Ela reconhece que “estamos falando de 0,01% da área, mas se demorarmos, chegaremos quando já estiver em um hectare e depois serão 10 hectares. Ao entender melhor o fogo, você sabe exatamente onde pode pará-lo, onde vai controlar um incêndio”.
Em dezembro, Daniel Berlant, chefe de Combate a Incêndios Florestais da Califórnia (Cal Fire), em uma visita ao país, abordou os fatores comuns com o Chile. Ele destacou que “ambas as regiões compartilham um clima mediterrâneo seco, com verões quentes, além de vegetação inflamável”. Segundo ele, ambos os territórios “enfrentam o desafio da interface urbano-rural, com moradias construídas perto ou dentro das florestas, aumentando o risco”.
“Mesmas características que na Califórnia"
Ramón Figueroa, presidente do Departamento de Proteção Florestal da Corma, ressalta que “a mudança climática avança mais rápido que o combate a incêndios, porque supera as capacidades de extinção”. Em sua análise, “com um outono e um inverno secos, com ventos quentes, criam-se condições propícias para a propagação de incêndios; o que acontece na Califórnia pode perfeitamente ocorrer aqui em um futuro próximo”.
Além disso, ele lembra que 99,9% dos incêndios são causados por pessoas, enquanto na Califórnia, “muitos incêndios são causados pela natureza”.
A especialista em meio ambiente e mudança climática da U. Central, Jadille Mussa, destaca que no país “já tivemos, em escala chilena, situações com grande destruição de moradias e afetação de pessoas, onde a diferença foi dada pela situação socioeconômica das vítimas”.
E, além de concordar que há mais intencionalidade nos incêndios no Chile, ela ressalta que esses estão se agravando pelo efeito do vento, condição que antes não existia. “Antes, nossos alertas de risco apareciam quando coincidiam 30°C de temperatura, 30% de umidade e 30 km/h de ventos. A Califórnia sempre teve ventos muito mais fortes, mas nós, já no ano passado, vivemos na zona central ventos acima de 120 km/h”, enfatiza e acrescenta que “isso significa que estamos tendo as mesmas características que influenciam o que acontece na Califórnia”.
Fonte:El Mercurio