"Bom dia, senhor Litre": a árvore que provoca uma alergia complexa e a tradição que esconde
“Bom dia, senhor Litre“ — com essa frase, as pessoas que passam por essa árvore evitam contrair uma perigosa alergia, pelo menos é o que indica a tradição.
O Lithrea caustica, da família Anacardiaceae, ou mais conhecido como Litre, é uma planta distribuída por diversas regiões do país.
De acordo com o “Catálogo das plantas vasculares do Chile” da Universidade de Concepción, essa espécie está presente nas regiões de Atacama, Coquimbo, Valparaíso, Metropolitana, O’Higgins, Maule, Ñuble, Biobío, Araucanía e Los Ríos.
Espécie nativa do Chile
Segundo Juan Pedro Elissetche, doutor em Ciências Biológicas pela Universidade de Concepción, o litre “não é uma planta invasora, é uma espécie nativa típica do bosque esclerófilo do Chile” e muito comum, afirmou em conversa com o BioBioChile.
“É uma espécie xerófita que cresce especialmente nas encostas dos morros e em lugares abertos. Também faz parte do bosque transicional da costa”, destaca o site Cidades Verdes.
“Por ser uma árvore do bosque esclerófilo, apresenta características que permitem seu crescimento em locais com invernos chuvosos e verões secos, em condições semiáridas. Suporta longos períodos de seca e grandes variações de temperatura entre o dia e a noite no vale central e na cordilheira, além de diferenças moderadas de temperatura no litoral”, complementa.
Também possui frutos que podem ser consumidos e com os quais se prepara a tradicional chicha por meio de fermentação. Além disso, suas folhas são usadas como remédios naturais.
No entanto, essa árvore, que à primeira vista parece comum, provoca uma alergia complexa em quem tem o ‘azar’ de tocá-la, pois suas folhas também causam uma forte reação alérgica em contato com a pele.
Alergia ao litre
O litre, assim como muitas outras plantas, contém substâncias que podem causar reações na pele após sensibilização.
“No primeiro contato, a reação pode ser leve e levar até três semanas para aparecer. Porém, em um segundo contato, quando a pele já está sensibilizada, a reação pode ocorrer em 24 a 48 horas”, explicou Héctor Fuenzalida, dermatologista da IntegraMédica, ao BioBioChile.
Os efeitos são complexos, pois “podem causar fitofotodermatose, um tipo de reação cutânea que ocorre quando certos compostos presentes na planta interagem com a pele, gerando inflamação e irritação, ativadas pela exposição à radiação ultravioleta”, menciona Fuenzalida.
“Como resultado, surgem linhas vermelhas na pele, que podem evoluir para grandes bolhas visíveis, acompanhadas de ardência, queimação e coceira”, detalha o especialista.
A situação pode ser ainda mais grave se houver “generalização dos sintomas, o que poderia levar a um colapso cardiovascular e, em casos extremos, desencadear um choque anafilático”, acrescenta.
No entanto, esse tipo de alergia, assim como outras similares, tem tratamento.
Entre os tratamentos, o especialista recomenda evitar o sol e o uso de medicamentos como antialérgicos ou anti-histamínicos (receitados por um profissional de saúde).
Em alguns casos, “utilizar corticoides, orais ou em creme, por um período de 7 a 10 dias. Posteriormente, é essencial aplicar protetor solar, pois podem surgir áreas de pigmentação”, ressalta o especialista.
“Bom dia, senhor Litre”
Assim, a árvore é conhecida por causar reações alérgicas em algumas pessoas, e há uma tradição peculiar relacionada a isso.
Trata-se do costume de cumprimentar o litre com um típico “Bom dia, Senhor Litre“ ou “Boa tarde, Senhor Litre“ (conforme a hora), para evitar a alergia provocada por sua proximidade.
Mas por que é preciso cumprimentá-lo? Qual é a razão? Segundo o Medium, um camponês de Machalí, na sexta região do Chile, explicou que sua origem remonta a muitos anos.
Segundo ele, a alergia ao litre surge como um castigo. Antes da chegada dos espanhóis no Chile, “índios lutavam contra índios”, deixando muitos mortos. Como punição, um ‘Deus’ os transformou em diferentes plantas — alguns em ervas daninhas, outros em quisco (planta) e os guerreiros, os mais fortes, em litre.
“Como são tão bravos, atacam e irritam a pele de quem não sabe”… “Um ancião muito sábio me contou isso”, afirmou o camponês.
Fonte:BiobioChile