Incêndios florestais e seu impacto na fauna silvestre
Por Carlos Barrientos Donoso, diretor de Medicina Veterinária da Universidade Andrés Bello
Nos últimos 10 anos, os incêndios florestais têm aumentado em número e frequência em diversas zonas do nosso país, gerando um grande impacto ambiental, econômico e social. Na Região do Biobío, foram registrados mais de 2.000 incêndios florestais por ano, o que afetou e causou a perda de milhares de hectares. Entre as diversas causas, é importante mencionar que a origem da maioria dos incêndios que afetaram nosso território está relacionada, em primeiro lugar, à intencionalidade, seguida por causas acidentais, geralmente associadas a negligências de origem antrópica.
Esses incêndios geram repercussões complexas sobre diversos processos ecológicos relevantes, associados a fatores como duração, recorrência e área afetada pelo(s) evento(s). Os efeitos podem ser agrupados em diretos e indiretos. Os primeiros estão relacionados à perda direta de fauna devido à morte de indivíduos, perda de abrigos e fontes de alimentação, perda de vegetação e degradação do solo, enquanto os efeitos indiretos estão relacionados à erosão do solo, perda de nutrientes, diminuição da matéria orgânica e contaminação da água.
Nas zonas afetadas por incêndios, as populações de pequenos mamíferos, anfíbios e répteis são reduzidas, pois são grupos de animais com capacidade de dispersão limitada, o que os expõe ao efeito direto do fogo, sofrendo queimaduras de diferentes graus ou intoxicação por inalação de fumaça. Como resultado, a maioria morre, e os que sobrevivem enfrentam cenários com menor disponibilidade de nichos após os incêndios. A diminuição dessas espécies pode ter um efeito negativo na cadeia alimentar, afetando especialmente os carnívoros, como felinos silvestres e aves de rapina, que dependem delas como fonte de alimento. Por outro lado, os animais que conseguem escapar do fogo devido à sua maior mobilidade enfrentam desafios adicionais, como competir por recursos em áreas fora de seus habitats originais, o que aumenta sua vulnerabilidade à predação ou à falta de recursos necessários para sobreviver.
Nesse sentido, é fundamental destacar que existem diretrizes fornecidas pelo Serviço Agrícola e Pecuário (SAG) sobre o que devemos fazer se nos depararmos com fauna afetada por incêndios florestais. Entre elas, destacam-se: não entrar nas zonas afetadas pelo incêndio sem autorização prévia das autoridades competentes; em caso de avistamento de indivíduos saudáveis, não se aproximar e permitir que se realoquem naturalmente; não alimentar a fauna silvestre; não levar exemplares de fauna silvestre para casa; manter os animais de estimação protegidos e, idealmente, não levá-los para passear na área durante o evento, pois isso aumentará o estresse dos animais silvestres que fogem do incêndio. Se for indispensável fazê-lo, deve ser sempre com meios de contenção adequados para evitar qualquer ataque à fauna silvestre; dirigir com muita cautela nos arredores da zona afetada pelo incêndio; e, finalmente, caso seja detectada a presença de um animal afetado, entrar em contato com o SAG, que realizará a captura e o encaminhará para o centro de resgate de fauna mais adequado.
Por fim, a crescente incidência de incêndios florestais em nosso país exige um compromisso coletivo para mitigar seus impactos e proteger tanto os ecossistemas quanto as comunidades afetadas. A implementação de medidas de prevenção, juntamente com a colaboração ativa da população, é fundamental para reduzir os riscos e garantir a conservação da nossa biodiversidade. É essencial promover nas pessoas comportamentos de cuidado que assegurem a redução do risco de incêndios florestais, como, por exemplo: não acender fogueiras ou queimar lixo, não jogar lixo e/ou materiais inflamáveis, evitar o uso de maquinários que possam gerar calor e/ou faíscas, nunca deixar ao alcance de menores de idade fósforos, isqueiros ou combustíveis que possam ser manipulados, entre outros.