“13% menos de incêndios, mas ainda há muito a percorrer”: balanço do diretor regional da Conaf no Biobío
Para o novo diretor regional da Corporação Nacional Florestal, Esteban Krause, a ocorrência de sinistros é um tema preocupante; assim como os focos simultâneos que surgem em estradas acendem alertas sobre a intencionalidade na região.
O começo do verão traz consigo uma tríade perigosa. Calor, vento e baixa umidade relativa nos territórios são as três variáveis que favorecem a ocorrência de incêndios florestais. Segundo informações da Corporação Nacional Florestal (Conaf), cerca de 1.113 hectares foram queimados no Biobío, no início da temporada.
Além disso, um ponto crítico da temporada de verão no Biobío é a suspeita de intencionalidade nos sinistros registrados em Penco, onde, em menos de 12 horas, foram registrados oito focos simultâneos. Tudo isso em um contexto de discussão parlamentar sobre projetos de lei que buscam endurecer as penas para quem provocar incêndios e outra moção que propõe a criação de instrumentos para prevenir e responder adequadamente a esses casos.
Sobre isso e um pouco mais, falou Esteban Krause, diretor regional da Conaf Biobío, em entrevista ao Diario Concepción.
– Como frear a intencionalidade dos incêndios no Biobío?
– Há algum tempo, temos trabalhado com uma boa coordenação com as empresas florestais em uma metodologia que permita incorporar as comunidades no tema da responsabilidade que se tem em relação aos incêndios florestais, seja tomando medidas preventivas ou também na fiscalização e na possibilidade de que elas possam denunciar situações que gerem algum temor ou risco.
– Como identificar essa intencionalidade?
– Geralmente, isso se repete em algumas localidades com mais frequência do que em outras. Há certas características no início do incêndio que podem, de alguma forma, indicar que são intencionais. Primeiro, na repetição constante desses incêndios em certos territórios, em certas localidades. Segundo, em alguns lugares, como Hualqui, Penco e Los Álamos, houve muitos focos simultâneos na mesma área.
Por isso, tanto as empresas florestais quanto a Conaf, a Polícia de Investigação e os Carabineiros estabeleceram brigadas investigadoras de incêndios florestais. Ou seja, unidades que nos permitem conhecer as causas do incêndio. E isso possibilita não apenas ações legais em situações em que efetivamente existam antecedentes e provas para levar um caso como esse aos tribunais, mas também nos permite criar planos de prevenção de acordo com a realidade das zonas.
– Até agora, são pouco mais de mil hectares queimados nesta temporada de verão, que, há alguns meses, já era prevista como complexa. Qual é o seu balanço da situação?
– A região do Biobío é a segunda região, depois da Metropolitana, em número de incêndios, de acordo com as estatísticas gerais. Mas nós, nesta temporada atual, temos, segundo nossas estatísticas, 365 incêndios no total, com uma área de 1.013,79 hectares.
Ou seja, temos 13% menos incêndios, o que, até agora, é um bom indicador, mas ainda há muito pela frente nesta temporada. E nos preocupa a ocorrência. A ocorrência porque cada um dos incêndios pode se transformar em um grande incêndio, em uma tragédia, como já temos alguns exemplos.
Do ponto de vista da ocorrência, a região do Biobío tem, em termos de área, números mais baixos do que outras regiões do país e mais baixos do que no ano passado. Na mesma época, tínhamos 420 incêndios. E, a nível regional, somos uma das regiões que reduziu a ocorrência. Mas ainda somos, depois da região Metropolitana, a região com mais incêndios até hoje.
É importante trabalhar ainda mais na prevenção. Acredito que o Governo Regional já está envolvido há algum tempo e queremos que continue se envolvendo no tema da prevenção. Com recursos, por exemplo.
– Sobre essa mesma linha, como avalia o trabalho com os prefeitos e prefeitas recém-chegados?
– Na maioria dos casos, diria que os prefeitos estão muito sensíveis ao tema. Temos que aproveitar essa disposição para fazer boas coordenações e trabalhar em conjunto. E temos algumas fragilidades em alguns territórios, principalmente em pessoal e recursos. Muitas vezes, o responsável pelas emergências desempenha outras funções dentro do município, o que gera certa postergação. Mas o esforço existe.
– E o senhor, diretor, acaba de se reintegrar à Conaf em uma época complexa, devido à ocorrência de sinistros. O que tem gerado mais complexidades?
– Eu sou, digamos, nascido e criado na função pública na Conaf, então volto a uma instituição que conheço, seus protocolos, sua forma de trabalhar, os esforços que realizam. Mas também quero reconhecer aqui que há um esforço importante, especialmente nos últimos dois anos; o Governo injetou uma quantidade significativa de recursos.
Hoje, temos um convênio que nos permite observar, diretamente através das torres das empresas, o que acontece no setor rural. Estamos trabalhando para combater incêndios, independentemente do proprietário, seja uma grande empresa, um pequeno ou médio proprietário, com uma coordenação muito boa. Ou seja, os recursos das empresas privadas, mais os da Conaf e os que os municípios aportam em algumas das tarefas importantes, como a fiscalização, têm permitido abordar os incêndios rapidamente.
Temos um número melhor de área abordada, basicamente porque o ataque inicial é muito rápido e estamos trabalhando com o "golpe único", ou seja, levar todos os esforços e equipamentos que temos, tanto equipes de pessoas quanto máquinas e equipamentos aéreos, de forma rápida e em grande número, para evitar que os incêndios cresçam.
– Nessa mesma linha, como avalia o trabalho com o setor privado? Acredita que eles assumem a responsabilidade em relação ao cuidado com os cidadãos que vivem próximos às plantações florestais?
– As empresas têm um programa chamado Rede de Prevenção e trabalham há vários anos no que chamamos de "comunidades preparadas", que é preparar comunidades que vivem na periferia, próximas ou em alguns setores mais distantes de suas propriedades, com o objetivo de que todos nos tornemos responsáveis pelo que é necessário para evitar um incêndio.
Estive em vários Comitês de Gestão de Riscos de Desastres (Cogrid) municipais, e lá as empresas florestais também participam, como mais um vizinho, um vizinho que tem responsabilidade no entorno onde estão suas plantações florestais.
– Sobre a lei de prevenção e mitigação de incêndios; esta moção está em fase final. É negativo que ainda não tenha sido aprovada?
– É um bom instrumento que nos permitirá ter mais medidas voltadas à prevenção e fiscalização. Hoje, do ponto de vista legal, tanto os municípios quanto a própria Conaf têm algumas restrições para obrigar alguns proprietários a tomar medidas preventivas. Acredito que a lei visa principalmente a isso.
– Em relação ao projeto que busca agravar as penas por incêndios intencionais, é importante estabelecer medidas nesse sentido?
– É importante, mas também é importante capacitar cada vez mais as polícias, o Ministério Público e os promotores. Haverá um processo de capacitação sobre quais são as provas necessárias para que um juiz possa declarar um acusado culpado. Há todo um processo que melhorará a judicialização e os processos judiciais, para que terminem em sentenças que declarem culpados aqueles que realmente causaram esses incêndios.
– Seja por negligência ou intencionalidade?
– Claro, por exemplo, um senhor que está trabalhando com uma máquina elétrica e causa um incêndio, essa pessoa também deve ser sentenciada, assim como se eu dirigisse descuidadamente e atropelasse alguém. Talvez não tenha sido intencional, mas se não estou atento às condições do trânsito, sou responsável por esse acidente. O mesmo deve valer para um incêndio causado por negligência.
– Qual é o seu apelo à população?
– Reforçar a responsabilidade que cada um de nós tem. Os incêndios são combatidos pelas empresas florestais, pela Conaf, pelos municípios, mas não foram eles que os originaram. Então, essa responsabilidade pela ocorrência, que para nós esperamos que possa chegar a números mínimos, é uma questão cultural, tem a ver com olhar o entorno, o risco que existe. Portanto, faço um apelo para que, solidariamente, nos ajudem a criar condições para reduzir o nível de risco e estejam atentos a qualquer situação de intencionalidade que possa ocorrer.
Fonte:Diario Concepción