Acoforag: "O setor florestal vive uma tempestade perfeita"
O gerente da Associação de Contratantes Florestais (Acoforag), René Muñoz, alertou sobre um cenário crítico para a indústria florestal chilena após a entrada em vigor de uma tarifa de 10% sobre as exportações para os Estados Unidos, que afeta quase a totalidade dos envios do setor.
Em conversa com a Rádio Sago de Osorno, Muñoz explicou que o imposto equivale a 120 milhões de dólares anuais, considerando que as exportações florestais para o mercado norte-americano somam cerca de 1,2 bilhão de dólares. "É outro golpe que já estava anunciado há muito tempo e que agora se concretiza", afirmou, acrescentando que a medida gera pressão adicional em um setor que já atravessa um cenário complexo.
Preços internacionais em baixa e fechamento de serrarias
O dirigente detalhou que os preços da celulose permanecem "muito baixos", rondando os 500 dólares por tonelada, o que representa apenas um terço do seu valor de um ano atrás. Isso reduziu drasticamente a compra de madeira e afeta tanto grandes empresas quanto pequenos contratantes e serrarias locais, que encontram dificuldades para colocar seus produtos no mercado interno.
"Está tudo muito deteriorado. O mercado nacional é limitado e em cinco anos foram fechadas 169 serrarias formais. O maior impacto é sofrido pelas PMEs, que não têm respaldo financeiro para resistir", sustentou.
Um coquetel de pressões sobre as PMEs
Muñoz alertou que a combinação de novas regulamentações trabalhistas, como a jornada de 40 horas ou os aumentos de aposentadorias, juntamente com a violência rural, os incêndios florestais e a perda de patrimônio, configura "uma tempestade perfeita" para o setor. "As grandes empresas podem diversificar, mas os contratantes e serrarias pequenas ficam asfixiados", explicou.
O gerente da Acoforag insistiu que o setor florestal continua sendo estratégico para o Chile, tanto por sua contribuição ao emprego regional quanto por seu papel na meta de carbono neutralidade 2050. "60% do que é absorvido é feito pelas árvores. Sem florestas, não alcançamos a carbono neutralidade", ressaltou.
Além disso, sublinhou a urgência de retomar o reflorestamento, que anos atrás alcançava entre 30 e 40 mil hectares anuais, e que hoje se encontra muito abaixo. "Precisamos voltar a plantar e recuperar solos erodidos. Mas nada disso será possível sem segurança nem certezas jurídicas", advertiu.
Complexa percepção social
O dirigente também se referiu ao clima de tensão que cerca o setor, marcado por questionamentos ambientais e casos midiáticos que associam as empresas florestais a conflitos comunitários. "Finalmente, é como se as empresas florestais fossem as más. Mas o país precisa da floresta", enfatizou, conclamando a colocar o debate em perspectiva.
Para Muñoz, o futuro da atividade dependerá das decisões políticas nos próximos meses e de que o Estado reconheça o caráter estratégico do setor. "Estamos em um ponto de inflexão. O mundo precisa de fibra, e o Chile tem o recurso, mas sem segurança e investimento não haverá desenvolvimento", concluiu.