Menos crimes e problemas de emprego: o impacto econômico após a queda do roubo de madeira

Menos crimes e problemas de emprego: o impacto econômico após a queda do roubo de madeira

O setor florestal do Biobío, um dos pilares produtivos mais importantes da região, enfrenta um panorama econômico complexo apesar da notória diminuição do roubo de madeira na área. Embora a aplicação da Lei do Roubo de Madeira e uma maior coordenação entre instituições públicas tenham conseguido praticamente erradicar esse crime, a indústria regional mantém-se em crise devido ao fechamento sustentado de serrarias e à falta de abastecimento de matéria-prima.

De acordo com dados do Instituto Florestal (Infor), nos últimos cinco anos cerca de 200 serrarias baixaram a cortina a nível nacional, número que equivale a mais de 25% do total existente. A região do Biobío, onde se concentra grande parte das plantas e PMEs florestais do país, é a mais afetada. Apenas entre 2020 e 2023, cerca de 20 instalações fecharam definitivamente, deixando para trás centenas de pessoas sem emprego.

Uma diminuição drástica do crime

René Muñoz, gerente da Associação de Contratistas Florestais (Acoforag), assegura que o roubo de madeira já não representa a ameaça que foi há apenas alguns anos.

“Nossa percepção é que diminuiu de maneira sustentada e importante; já não é um crime que se destaque dentro dos temas de segurança do setor. Se compararmos com 2022, que foi o pico, quando se falava de mais de 100 milhões de dólares em perdas anuais, hoje estamos diante de reduções de até 90 ou 95%. Já não é um crime relevante, é marginal”, afirma.

Muñoz atribui essa mudança à efetiva aplicação da Lei do Roubo de Madeira, promulgada em 2022, a qual “teve um efeito dissuasivo nas gangues criminosas que operavam na área”. Segundo explica, a coordenação entre o Serviço de Impostos Internos, a Corporação Nacional Florestal (Conaf), a Tesouraria Geral da República e outras instituições públicas permitiu um acompanhamento muito mais estrito da cadeia de produção, transporte e comercialização da madeira.

“Não diria que o setor está mais vigiado, mas sim mais acompanhado. As autoridades se coordenaram em torno da informação de fretes, exploração e manejo das florestas. Tudo isso ajudou a fechar espaços ao crime”, acrescenta o dirigente.

No entanto, Muñoz adverte que essa melhoria na segurança não significou uma recuperação do ramo. “O setor florestal está atravessando uma crise profunda relacionada com a segurança, com os mercados e com as adequações internas das empresas. A atividade se reduziu e isso impactou diretamente o emprego, sua qualidade e o desenvolvimento produtivo regional”, enfatiza.

Um efeito dominó após os incêndios

A crise atual tem raízes mais profundas que a delinquência. Para os representantes do setor, a escassez de madeira é o fator estrutural que mantém em xeque as PMEs florestais. O déficit de abastecimento arrasta-se desde os grandes incêndios de 2017, os quais, segundo Muñoz, “produziram um déficit de madeira que ia durar pelo menos 15 anos”. A isso somaram-se os sinistros de 2023, que devastaram novamente milhares de hectares de plantações produtivas.

“O dano foi enorme e afetou principalmente os pequenos serradores, que se abastecem de diferentes proprietários. Muitos pequenos donos perderam seu patrimônio nos incêndios, e isso gera um efeito dominó que atinge contratantes, transportadores e trabalhadores”, adverte.

Muñoz também sustenta que a manutenção do Estado de Exceção em algumas zonas do Biobío tem contribuído para melhorar a segurança, embora considere que sua importância reside hoje mais na prevenção de incêndios que no combate ao roubo de madeira.

“Os incêndios intencionais são responsáveis por mais de 60% dos sinistros atuais. O Estado deve reforçar a prevenção e melhorar a perseguição penal, porque apenas 3% dos culpados por incêndios intencionais terminam condenados”, sublinha.

A contribuição da autorregulação

Da indústria também destacam que a baixa nos crimes se deve a uma autorregulação progressiva dos próprios atores florestais. Alejandro Casagrande, presidente da Corporação Chilena da Madeira (Corma) Biobío–Ñuble, explica que a partir de 2021 o setor implementou sistemas internos de rastreabilidade para garantir a origem legal da madeira.

“Naqueles anos não se podia entrar em muitos terrenos, roubava-se a madeira e havia um problema grave de segurança. Estabeleceu-se então um sistema onde os compradores verificavam que a madeira provinha de terrenos legais, usando um software que permitia rastrear caminhão a caminhão e verificar seu destino. Isso marcou uma diferença”, afirma.

Com a promulgação da Lei do Roubo de Madeira, acrescenta Casagrande, o Ministério Público e as polícias obtiveram maiores faculdades para perseguir e sancionar as organizações dedicadas a esse crime.

“Apareceram casos midiáticos onde se descobriram verdadeiras redes criminosas. Em alguns figuravam serrarias envolvidas, mas como em todos os ramos, onde há roubo, há quem compre. Se o fizeram com conhecimento ou foram enganados, isso deve ser determinado pela justiça”, esclarece.

Escassez e fechamento de serrarias

O dirigente sindical coincide com a preocupação pelo fechamento massivo de serrarias, embora pontualize que o problema principal não é a fiscalização, mas a falta de madeira disponível.

“As florestas e plantações produtivas no Chile têm diminuído. Entre os incêndios de 2017 e 2023 queimaram-se entre 500 e 600 mil hectares. Isso gera um déficit que começa a ser sentido três ou quatro anos depois, quando já não se pode aproveitar a madeira queimada”, explica.

Casagrande assinala que esta situação afeta tanto as grandes empresas quanto as PMEs, embora estas últimas sejam as mais vulneráveis. “Os pequenos serradores dependem da compra de florestas de terceiros, e se essas florestas desaparecem, não têm como continuar. Muitos acabam falindo ou fechando temporariamente”, sustenta.

A consequência mais visível é a queda do emprego florestal. Segundo estimativas do sindicato, as demissões acumuladas no setor durante os últimos anos superam vários milhares de postos diretos e indiretos, especialmente em comunas como Nacimiento, Mulchén, Curanilahue e Yungay, onde o ramo representa uma parte substancial da atividade econômica.

Fonte:Diario Concepción


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