Setor florestal manifesta incerteza após primeiro mês de nova tarifa imposta pelos EUA
No final de setembro deste ano, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou uma tarifa especial de 10% sobre as importações florestais, que entrou em vigor.
Pouco mais de um mês após a implementação da medida, o Governo e associações do setor na Região fizeram um balanço preliminar da situação, além de projetar o cenário para encerrar o ano em termos de exportações florestais.
Alejandro Casagrande, presidente regional da Corma Biobío e Ñuble, manifestou que lhe preocupa a queda das exportações do setor, "que em outubro recuaram cerca de 23% em relação ao ano anterior, completando quatro meses consecutivos de baixas".
De acordo com o líder associativo, a principal causa dessa diminuição "está relacionada à queda do preço internacional da celulose, especialmente na China, nosso principal mercado. A isso soma-se a menor dinâmica nas remessas de painéis, folhas, madeira serrada, aplainada e molduras, cujos retornos diminuíram tanto por preços mais baixos quanto por uma menor demanda internacional".
Em sua análise, Alejandro Casagrande acrescentou que, neste cenário, "também influi a incerteza associada às tarifas impostas pelos Estados Unidos, que tem dificultado a estabilidade comercial em um mercado chave. Esta situação tensiona ainda mais a competitividade de um setor que já vinha sendo afetado por fatores internos como incêndios, roubo de madeira e maiores custos operacionais no Chile".
Por sua vez, Michel Esquerré, presidente regional e nacional da Pymemad, associação que reúne pequenas e médias empresas do setor florestal e madeireiro, considerou que as exportações podem estar caindo fortemente no que diz respeito à madeira serrada, "dada a incerteza que está sendo gerada no mercado não apenas no Chile, mas internacionalmente".
Do Governo
Enquanto isso, Javier Sepúlveda, seremi de Economía, Fomento e Turismo de Biobío, manifestou que os dados estatísticos fornecidos pelo INE relativos às exportações regionais só estão disponíveis até agosto de 2025. Por isso, "ainda não é factível realizar uma avaliação definitiva do impacto gerado pela imposição da tarifa adicional pelo Governo dos Estados Unidos sobre as exportações do setor florestal originadas na Região de Biobío. O saldo acumulado durante o período compreendido entre janeiro e agosto de 2025 reflete uma contração de 16,4% no valor das exportações florestais da Região de Biobío, em comparação com o mesmo intervalo do ano anterior".
O seremi de Economía, Fomento e Turismo de Biobío detalhou ainda que a diminuição mencionada é atribuível à redução nas exportações dos produtos-chave do setor, como Celulose (-17,4%), Madeira Serrada (-15,3%) e Painéis de Fibra de Madeira (-20,3%), em que "apesar da tendência geral, é importante destacar o aumento no nível de exportação de certos produtos, o que sugere uma capacidade de adaptação no setor empresarial, como Madeira Compensada (+4,4%) e Papéis e Cartões (+3,7%). Este comportamento indica que o setor produtivo internalizou as novas condições do contexto econômico internacional, focando na busca de alianças comerciais e na diversificação dos destinos para seus produtos florestais".
Para Sepúlveda, é relevante assinalar, além disso, que a imposição das tarifas a esses produtos constitui uma decisão unilateral do Governo dos Estados Unidos, "adotada sem que houvesse uma negociação bilateral prévia com nosso governo".
"Não obstante, o Ministério das Relações Exteriores, por meio da Subsecretaria de Relações Econômicas Internacionais, mantém uma agenda de trabalho ativa desde o início do presente ano", acrescentou.
Análise acadêmica prévia
"De acordo com o comunicado da administração do presidente Donald Trump, o atual cenário de importações deixou de empregar a capacidade produtiva da indústria florestal estadunidense, que desempenha, além disso, um papel fundamental nas atividades próprias do aparato militar dependente da Secretaria de Defesa, hoje Secretaria de Guerra", contribuiu Andrés Acuña, diretor do Mestrado em Economia Aplicada (MagEA-UBB) do Departamento de Economia e Finanças da Faculdade de Ciências Empresariais da Universidade do Bío-Bío (UBB), que analisou, em primeiro lugar, a importância do setor florestal no Produto Interno Bruto da Região, num contexto de revisão de possíveis efeitos futuros na economia regional das novas tarifas.
Mais detalhadamente, Acuña assinalou que, de acordo com as informações disponíveis no INE e no Banco Central, naquele momento, "as exportações do setor florestal da região de Biobío superaram os 3.600 milhões de dólares (MMUS$) em 2024, cifra que equivale a 18,2% do Produto Interno Bruto (PIB) de nossa região em termos nominais. Por sua vez, no período janeiro-julho de 2025, as exportações florestais de Biobío superaram os MMUS$ 1.700. Dessa cifra, mais de 20% teve como destino os Estados Unidos em 2024, enquanto 37,3% dos envios foram para a China no mesmo ano. Até julho de 2025, a participação dos envios florestais para os Estados Unidos e a China alcançou 23% e 31,2%, respectivamente".
Em linha com o indicado, Andrés Acuña destacou que as exportações do setor florestal para os Estados Unidos "perderam sua importância relativa de maneira significativa desde 2023 até agora, ano em que representaram 37,5% dos envios florestais. Isto pode ser um sinal de que o setor da construção estadunidense não está privilegiando os produtos chilenos como insumos de maior demanda, ou bem, a estratégia de posicionamento internacional do setor florestal local tem privilegiado a relação comercial com a Ásia Pacífico, considerando que a Coreia do Sul foi o terceiro destino em importância em 2024".
Sobre o que implica para a economia regional um acréscimo de 10% nas tarifas, o professor da FACE da UBB contribuiu com um dado relevante para a análise, ao explicar que, de acordo com o comunicado emitido pela Casa Branca no passado 29 de setembro, existem razões de peso em matéria de segurança nacional para limitar a importação de madeira, madeira serrada e seus derivados, segundo o informe preparado pela Secretaria de Comércio em 1 de julho do presente ano.
Quanto a eventuais projeções, segundo o diretor do Mestrado em Economia Aplicada (MagEA-UBB), quase a totalidade das exportações florestais de Biobío serão afetadas pela nova medida tarifária. "Não obstante, seria cauteloso em prognosticar um cenário totalmente negativo para o setor florestal regional e nacional, já que o Federal Reserve (Fed) explicitou uma tendência de baixa na taxa de juros no que resta do ano".
"Independentemente do anterior, o que é chave, segundo minha perspectiva, neste cenário de incerteza tarifária, é a disposição das autoridades econômicas e comerciais de nosso país para se envolverem de maneira proativa em uma negociação com a administração do presidente Donald Trump, a fim de fortalecer a relação comercial com um de nossos principais parceiros e retornar o valor das tarifas àqueles estabelecidos no Tratado de Livre Comércio vigente entre ambas as nações", concluiu.
Fonte:Diario Concepción
