Alto risco e prêmios impagáveis: a crise dos seguros que asfixia o setor florestal
O setor florestal chileno atravessa um momento crítico devido ao custo proibitivo para assegurar seus ativos em um contexto marcado pela insegurança e pelos altos índices de sinistralidade. A situação afeta igualmente o plantio de propriedades e a operacionalidade diária dos contratantes, que têm visto a oferta de apólices reduzir-se e suas prêmios dispararem em até 700% em poucos anos.
Porta-vozes das principais associações de classe levantaram a voz e apontam que as companhias de seguros estão aplicando taxas que não correspondem à realidade do mercado e que, na prática, impossibilitam uma operação rentável. A situação é tal que empurra empresas e pequenos proprietários a assumir riscos de descapitalização total.
SEGUROS INVIÁVEIS E ASSUNÇÃO DE PERDAS
A Associação de Contratantes Florestais A.G. (Acoforag) relatou que atualmente existe uma baixa oferta de seguros para a maquinaria especializada.
O gerente da entidade, René Muñoz Klock, explicou que as seguradoras, ao assumir este negócio, enfrentam a violência e a insegurança que hoje imperam na zona. Esses fatores tornam complicado para as companhias funcionar ou promover seguros, já que o risco é permanente.
O incremento nas taxas das apólices é um reflexo direto dessa insegurança. Muñoz Klock detalhou que, nos últimos quatro ou cinco anos, as prêmios dos seguros para a maquinaria dos contratantes subiram entre seis a sete vezes em relação ao que se cobrava antes. Igualmente, o representante dos contratantes florestais relatou que a rapidez com que se acumulam as vagas das prêmios e os altos custos têm levado as empresas a não contratar seguros.
Acrescentou que as firmas estão assumindo que seus equipamentos podem ser queimados ou destruídos, e calcularam que a reposição da maquinaria frente a um atentado aleatório implica um custo menor do que pagar regularmente à bolsa de seguros os valores atuais.
O diretor exemplificou a magnitude da crise com uma cifra impactante: se um equipamento tem um valor de $100.000, o seguro anual pode custar $70.000. Isso implica que as empresas estão fazendo a "aposta" de que os equipamentos não serão sinistrados em um ano.
INSEGURANÇA E O CHAMADO AO APOIO
A Corporação Chilena da Madeira (Corma) tem focado na proteção das florestas, um processo que se tornou extremamente complexo. Assegurar uma propriedade resulta muito difícil atualmente devido a dois fatores primordiais: os altos custos das prêmios e o baixo nível de retorno que oferece este instrumento, o que limita sua efetividade.
A gerente regional da Corma Biobío-Ñuble, Margarita Celis, solicitou formalmente que a nova Lei de Incêndios, que hoje se discute no Congresso, considere um apoio específico do Estado para a etapa posterior aos eventos destrutivos. "Hoje assegurar uma floresta resulta muito difícil. Por isso, desde a Corma, solicitamos que a nova Lei de incêndios considere apoio do Estado para a etapa posterior, de maneira que os proprietários, especialmente os pequenos, possam voltar a plantar e manter ativa sua atividade florestal", declarou Celis.
O IMPACTO NAS PMES
O presidente da PymeMad Biobío, Michel Esquerré, manifestou que as companhias de seguros estão aplicando uma taxa que não se ajusta à realidade do mercado.
Diante da situação, sugeriu que, após os grandes incêndios de 2017, pode ter havido uma "estigmatização" do setor florestal, o que se traduziu em taxas que hoje são impagáveis. Essas taxas são proibitivas inclusive para as grandes companhias e fundos de investimento, e são uma barreira intransponível para as pequenas e médias empresas (PMEs) e os pequenos e médios proprietários.
Esquerré sublinhou um ponto chave sobre a função dos seguros: que não atuam como uma medida dissuasiva contra os incêndios, mas sim são um instrumento cujo único fim é recuperar o capital investido no processo de plantio.
Desde a ótica da PymeMad, as seguradoras estão cometendo um "erro" ao manter tarifas tão altas, especialmente se se considera que o mercado florestal possui um potencial amplo.
Cabe destacar que hoje existe uma coordenação ativa entre o Estado, a Corma e as grandes empresas para prover resguardo e garantir que os incêndios não escalem.
Fonte:La Tribuna
