A tragédia silenciosa da floresta nativa chilena
Por Simón Berti, presidente do Colégio de Engenheiros Florestais
O Chile possui cerca de 15 milhões de hectares de floresta nativa. Aproximadamente um terço cumpre uma função primordial de proteção de solos frágeis e encostas abruptas; outro terço está sob resguardo em parques e reservas; e o terço restante é perfeitamente suscetível de ser manejado de maneira responsável e sustentável. É justamente ali onde se joga o futuro da floresta nativa e, paradoxalmente, onde menos ocorre.
A falta de manejo não é neutra. Uma floresta degradada, empobrecida em espécies valiosas e sem intervenção silvícola perde valor ecológico e econômico. Quando a floresta não entrega benefícios aos seus proprietários — muitos deles pequenos — torna-se invisível, irrelevante e, finalmente, prescindível.
A história rural do Chile mostra com clareza as consequências desse desinteresse: sobrepastoreio, incêndios, substituição e erosão dos solos. O protecionismo absoluto, longe de salvar a floresta, pode terminar empurrando-a para sua desaparição.
Por que, então, se maneja tão pouco a floresta nativa? Há razões estruturais evidentes. A primeira é econômica: os bônus atuais são insuficientes e não cobrem uma fração significativa dos custos reais de recuperação, cujos retornos se medem em décadas.
A segunda é institucional e cultural: uma autoridade florestal — Conaf, hoje em transição para Sernafor — que se instalou com comodidade em um papel meramente fiscalizador, distante e pouco empático, em vez de ser um colaborador técnico ativo do manejo sustentável da floresta nativa. Sem incentivos adequados e sem um Estado que acompanhe, é ilusório esperar que os proprietários assumam sozinhos um esforço de longo prazo.
Resulta ainda chamativo — e criticável — que nem as grandes empresas florestais nem o próprio Estado, através da Conaf e das reservas e parques sob sua administração, contribuam com maior decisão para o manejo demonstrativo de algumas das dezenas de situações de florestas nativas de norte a sul e de mar a cordilheira.
A engenharia florestal nasceu precisamente para tirar as florestas da degradação, acelerando sua dinâmica natural e recuperando espécies valiosas. Parcelas demonstrativas, alianças entre empresas, universidades e a autoridade, e a compilação de experiências reais de muitos proprietários poderiam contribuir mais do que muitos discursos para mudar percepções e gerar confiança.
Um aspecto adicional, sistematicamente omitido no debate público, é o papel da floresta nativa manejada na mitigação das mudanças climáticas. A evidência técnica mostra que uma floresta nativa sob manejo sustentável, ao manter uma maior taxa de crescimento e renovação, pode absorver significativamente mais CO2 do que uma floresta não manejada e degradada, onde o acúmulo de biomassa estagna. Ignorar o manejo não é apenas um erro produtivo e social, mas também climático.
Reverter esta situação exige uma estratégia clara. Atualizar os incentivos econômicos, incorporar a floresta nativa manejada nos mercados de créditos de carbono e, sobretudo, construir uma nova relação entre o Estado e os proprietários florestais. Uma institucionalidade florestal que deixe para trás a lógica da fechadura e da suspeita permanente — e que assuma explicitamente sua responsabilidade em fomentar, orientar e acompanhar o manejo sustentável — é tão importante quanto uma boa lei.
A verdadeira tragédia da floresta nativa chilena não é que ela seja aproveitada, mas que seja ignorada. Sem manejo não há futuro, nem ecológico nem social, para um recurso que poderia ser orgulho nacional, motor regional e legado para as próximas gerações.
Fonte:BiobioChile
