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Incêndios florestais: prevenção e lei, sem mais demora

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Por Ignacio Vera Izquierdo, gerente geral da Forestal Santa Blanca

O setor florestal observa com preocupação o cenário projetado para os próximos anos. O balanço nacional da temporada 2023–2024 registra 73.841 hectares queimados, dos quais 58.965 figuram na categoria "Investigada". Este número reflete a magnitude do dano e a urgência de aperfeiçoar os processos de investigação, prevenção e sanção. Somam-se a isso relatórios recentes que confirmam um aumento sustentado na ocorrência de sinistros, ondas de calor que superam os 30 °C e condições meteorológicas que favorecem a propagação do fogo. Tudo isso obriga o setor florestal a repensar, com caráter prioritário, seu papel na prevenção, resposta e recuperação.

A memória recente confirma a gravidade do problema. Em 2017, o Chile enfrentou os incêndios mais devastadores de sua história, com mais de 500 mil hectares consumidos entre Coquimbo e Los Lagos, 11 mortos e perdas superiores a 350 milhões de dólares que afetaram plantações, infraestrutura produtiva e ecossistemas de alto valor. Anos mais tarde, em 2023, Santa Juana se tornou o epicentro de outra tragédia: mais de 200 mil hectares devastados, 26 vítimas fatais e um forte impacto social e econômico em comunidades rurais e na cadeia florestal e agrícola. Estes marcos revelam a vulnerabilidade do modelo florestal e a urgência de fortalecer o planejamento territorial e a resiliência frente às mudanças climáticas.

A ameaça é territorialmente diversa. Em La Araucanía, os alertas se mantêm devido a altas temperaturas e abundante massa de combustível. Em Biobío, a ocorrência cresceu de maneira notável: Los Ángeles, Lebu, Hualqui, Tomé, Coronel e Penco concentram a maior parte dos focos, o que obrigou a reforçar patrulhas e coordenação com forças policiais. Em Ñuble, embora a resposta rápida tenha limitado danos em alguns casos, a região segue vulnerável pela combinação de calor, vento e combustível.

O risco se estende para além do sul. Em Maule, o Alerta Preventivo Precoce permanece ativo diante de episódios de altas temperaturas na serra, costa e vale. Na macrorregião norte, Limarí registra 19 incêndios nos últimos meses, 13 deles em Ovalle, equivalente a 70% do total provincial. Embora a superfície afetada tenha diminuído em relação ao ano anterior, o aumento do número de eventos — 111% — evidencia a necessidade de manter recursos focalizados. Da mesma forma, os incêndios na alta serra, como o complexo de Alto Biobío, mostram a complexidade logística quando o combate depende de helicópteros e recursos especializados.

Diante deste cenário, urge uma Lei de Incêndios que articule prevenção, combate, investigação e recuperação, com responsabilidades claras entre Estado, governos regionais, municípios e privados. Deve contemplar um registro público de acusados e sanções efetivas, além de obrigações para a gestão da paisagem: faixas corta-fogo, regulamentação de distâncias de plantações e promoção de mosaicos produtivos que reduzam a continuidade do combustível.

A prevenção comunitária e a corresponsabilidade são pilares inescapáveis. O setor florestal está disposto a financiar programas de educação, capacitação em corta-fogo e campanhas de fiscalização, juntamente com mecanismos de apoio a pequenos proprietários e municípios. A adoção de tecnologia — câmeras com inteligência artificial, drones e análise de dados em tempo real — e a modernização operativa de brigadas e frotas aéreas são igualmente prioritárias.

Finalmente, a recuperação pós-incêndio e a mitigação de riscos hidrológicos devem ser parte obrigatória da política pública. Restauração vegetal, controle da erosão e monitoramento hidrológico são essenciais para proteger bacias hidrográficas e comunidades. O desafio para 2026 é grande e multifacetado, mas com decisão e coordenação poderemos reduzir a vulnerabilidade do país e garantir a segurança daqueles que dependem de nossas florestas.