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Nove incêndios em 42 dias no mesmo terreno: o padrão das queimas intencionais para usurpar campos no sul

Nove incêndios em 42 dias no mesmo terreno: o padrão das queimas intencionais para usurpar campos no sul

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De 6 de novembro até 18 de dezembro de 2024, o terreno florestal “Pehuén” foi incendiado nove vezes. Por esses fatos, a Forestal Arauco, proprietária do campo, apresentou uma queixa no início deste ano, argumentando que a frequência dos sinistros e a forma como começaram e se propagaram permitem concluir “que estamos diante de ilícitos reiterados de incêndios de caráter intencional”.

O campo está localizado entre as comunas de Lebu e Los Álamos, na Região de Biobío, onde o Senapred declarou Alerta Vermelha por incêndios florestais na noite de 13 de fevereiro. Naquele dia, cerca de 50 hectares foram queimados na comuna, como resultado de cinco incêndios, alguns deles quase simultâneos, em setores como Villa Bosque Sur, Playa Millaneco e caleta Millongue.

E embora os fatos denunciados pela Forestal Arauco tenham ocorrido no final de 2024, o ano de 2025 tem sido complexo nos arredores onde aconteceram os incêndios repetidos em Pehuén: no próprio 13 de fevereiro, houve um novo incêndio naquele campo.

A queixa da Forestal Arauco explica que os nove incêndios ocorridos no período de 42 dias estão relacionados, por um lado, com o corte de árvores para extrair madeira e, por outro, com a derrubada e queima de árvores para a preparação de terrenos que se pretende usurpar. “Tudo isso fica evidente desde o momento em que, no mesmo dia, existem múltiplos focos em diversos setores do terreno em questão”, diz o documento.

Na opinião de René Muñoz, gerente da Associação de Contratistas Florestais, as usurpações em terrenos florestais são um problema de Estado, devido ao déficit habitacional e ao fato de que “o Ministério da Habitação não funciona e o Governo Regional não se preocupa com os planos reguladores”. A isso, soma-se a impunidade.

“É um círculo vicioso que faz com que isso aumente, porque nada acontece com os responsáveis (...). Quem está preso hoje por incêndio? Se ao tema das usurpações, da municipalidade, dos governos regionais, do Ministério da Habitação, você acrescenta que queimar é de graça... Nós temos a experiência de que sempre queimam nossos equipamentos, e de quase 500 atentados, apenas três foram resolvidos, três. O mesmo ocorre com esse tipo de incêndio. Os promotores não sabem investigar, não estão capacitados para isso. E por isso propusemos como observação no projeto de lei de incêndios que está na Comissão de Agricultura do Senado que é preciso dar mais atribuições e melhores condições às polícias e aos promotores, para que possam chegar a algum resultado”, diz Muñoz.

Muñoz explica que, nos casos em que houve detidos, “normalmente alegam problemas mentais, reduzem a pena ou a comutam, e acabamos sem ninguém preso”.

Discussão da nova lei de incêndios

Quanto às ferramentas legais, Muñoz menciona o projeto de lei de prevenção e mitigação de incêndios florestais que está atualmente no Senado. A iniciativa tem enfrentado críticas do setor florestal.

Muñoz indica que as críticas se devem ao fato de que o projeto “não fala nada sobre intencionalidade, não menciona promotores exclusivos, não fala sobre patrulhas mistas durante esses eventos extraordinários. Então, estamos diante de um problema grave em que o Estado não é capaz de fornecer ferramentas para que isso seja resolvido”.

O líder dos contratistas florestais acrescenta que “loucos e desalmados existem em todos os lugares, e piromaníacos também. O que precisamos fazer hoje é atacar esse foco, na intencionalidade é onde devemos concentrar os esforços, onde os legisladores devem colocar os esforços, mas o novo projeto de lei não estabelece nada disso e por isso estamos contra; por isso dizemos que é uma má lei”.

Usurpações nos corta-fogos

Ramón Figueroa, subgerente de Proteção contra Incêndios da Arauco, explica que se trata de um bosque de pinheiros, e também há outras espécies arbóreas, arbustos e matos. O modus operandi dos que pretendem usurpar esses terrenos consiste em incendiar os campos, depois “as árvores morrem em pé, e no inverno cortam a madeira e vendem madeira seca para lenha. Depois, limpam esses terrenos, se instalam e começam a vendê-los, sem serem os proprietários”.

Figueroa indica que, até agora, têm 1.200 hectares de bosque ocupados em setores como Curanilahue, Cerro Alto, Los Álamos e Lebu. “Portanto, o que se busca é identificar os responsáveis pelos incêndios, que depois, uma vez que cortam a madeira, a roubam e começam a vender os terrenos a terceiros para instalar moradias precárias”, diz.

Figueroa lembra o atentado de 1º de fevereiro contra um helicóptero que trabalhava no combate a um incêndio. Naquele dia, desconhecidos, armados com armas de fogo longas, atiraram contra a aeronave, atingindo o fuselagem. O subgerente de Proteção contra Incêndios da Arauco afirma que o fato ocorreu muito perto do setor de Pehuén, onde houve os incêndios repetidos. Relata que, antes dos tiros contra o helicóptero, os Carabineiros estiveram no local porque havia pessoas roubando madeira; os uniformizados conseguiram deter alguns dos envolvidos, mas outros fugiram. “Uma hora e meia depois, causaram um incêndio no mesmo terreno”, diz.

Acrescenta que, na zona, além de roubarem madeira, estavam instalando moradias precárias no corta-fogo: “O corta-fogo busca proteger as pessoas e acaba sendo transformado por essa gente em uma ocupação ilegal de moradias, desativando o corta-fogo”.

Especificamente, em Pehuén, as queimadas começaram às 17h36 do dia 6 de novembro de 2024, chamas que não puderam ser extintas até a tarde do dia seguinte e, posteriormente, ocorreram sinistros nos dias 8, 14 e 17 de novembro. Nessas ocasiões, as chamas começaram durante a noite, quando as aeronaves não podem operar e quando não há raios de sol que possam iniciar um fogo pelo efeito lupa. Por exemplo, em 8 de novembro, o incêndio começou às 00h08 e só pôde ser extinto às 09h21 do mesmo dia. Em 14 de novembro, começou às 21h21, e em 17 de novembro, às 22h20. Nessas duas ocasiões, os incêndios consumiram parte do bosque de pinheiros com mais de 14 anos.

Afetações no terreno Pehuén

Enquanto isso, em dezembro, houve vários incêndios no mesmo dia. No dia 16 de dezembro, houve dois. O primeiro ocorreu às 17h57 e foi extinto às 19h56 do mesmo dia. O segundo começou em um local diferente às 20h44 e durou até às 21h12. Algo semelhante aconteceu no dia 17 de dezembro. Naquela ocasião, o primeiro incêndio começou de madrugada, às 03h27, e foi extinto duas horas depois; o segundo ocorreu às 22h21.

O último dos nove incêndios sucessivos foi no dia 18 de dezembro e durou mais de 24 horas. Começou às 22h24 do dia 18 e só conseguiram apagá-lo às 23h42 do dia 19 de dezembro.

Figueroa indica que esse tipo de situação é vista todos os anos. Lembra até casos extremos, como o do terreno em Los Álamos, San Ambrosio, onde em uma temporada de incêndios foram contabilizados 173 sinistros.

Sobre o assunto, Figueroa afirma que, nos últimos anos, a Região de Maule tem 42 casos bem-sucedidos em que chegaram aos responsáveis pelas queimadas. No entanto, ressalta que Maule “tem mais sucesso que todas as outras regiões juntas”.

“No Chile, menos de 1% das denúncias de incêndio chegam aos responsáveis. Em contraste, em países como Espanha, chega a 23%. Está claro que algo não funciona aqui. O que fazem em Maule é um pouco o que fazem na Europa: assim que há um incêndio, a polícia sai para investigar no próprio incêndio. Não dias, semanas, meses depois ou nunca. E, em segundo lugar, as medidas de investigação consideram toda a tecnologia. Interceptação telefônica, posicionamento de antenas celulares, etc. As outras promotorias não fazem isso, ou fazem semanas, meses depois, quando as provas praticamente não existem mais”, acrescenta Figueroa.

Sobre a atuação da Promotoria, o ministro da Agricultura, Esteban Valenzuela, indicou na segunda-feira que conversará com o promotor nacional Ángel Valencia, já que em Biobío há uma proposta do Comitê de Gestão de Risco de Desastres (Cogrid) para que na região haja um promotor com dedicação exclusiva para investigar os incêndios.

Fonte:El Libero

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