Jan Köster revela o futuro florestal do Chile: Crise e oportunidades nas florestas nativas
Em Conversando com a Acoforag, Jan Köster, engenheiro florestal com vasta experiência e vice-presidente da Aprobosque, abordou temas-chave relacionados à gestão das florestas nativas e às políticas que regulam seu uso.
Em sua intervenção, refletiu sobre a importância de um manejo adequado dos recursos florestais, a necessidade de adaptação a novas regulamentações e as tensões entre a proteção ambiental e o desenvolvimento econômico.
O potencial da floresta nativa
Köster destacou a grande extensão de florestas nativas no Chile, que ultrapassam 14 milhões de hectares. "O verdadeiramente relevante é que cerca de 4 milhões desses hectares têm a capacidade de fornecer bens e serviços diretamente tangíveis para o ser humano, o que representa uma grande oportunidade para o desenvolvimento sustentável do país. Embora muitas dessas áreas estejam protegidas, seja em zonas de difícil acesso ou dentro de parques nacionais, continuam sendo um recurso valioso para o país", ressaltou. Segundo suas palavras, esses hectares podem fornecer madeira ou fibra, tornando-os elementos essenciais para a indústria madeireira e o bem-estar humano, já que foram vitais para a vida humana desde tempos imemoriais.
"As florestas nos forneceram recursos como a madeira, que foi fundamental para a civilização humana. No entanto, muitas dessas áreas ainda estão subutilizadas", comentou. Esse fato destaca a contradição entre o potencial da floresta nativa e a falta de aproveitamento sustentável realizado em grande parte dessas áreas.
Em sua opinião, o Chile possui um dos bancos de dados mais avançados em termos de caracterização geográfica de suas florestas, o que permite identificar aspectos cruciais como volume, qualidade das espécies e tipos florestais. Essa informação, disponível há muitos anos, é inestimável para o planejamento e manejo florestal, permitindo decisões informadas sobre o uso e conservação desses recursos.
Desafios
Quanto à normativa que regula a gestão das florestas nativas, Köster mencionou a Lei 20.283, que regula a floresta nativa, assim como o Decreto Lei 701, que tem sido alvo de críticas, mas que, segundo ele, teve um impacto positivo na proteção das florestas. "A Lei da Floresta Nativa tem suas limitações, mas a lei 701 foi muito boa em termos práticos. Na minha opinião, era até melhor que a Lei da Floresta Nativa", destacou.
Apesar da existência dessas leis, o setor florestal enfrenta grandes desafios na aplicação efetiva da normativa. "O maior problema não está na lei nem nos regulamentos, mas na aplicação. Muitas vezes, quem administra essas leis, como a Conaf, está muito aquém em sua implementação", comentou o profissional.
A burocracia e a "permisologia"
Uma das maiores críticas de Köster ao sistema florestal chileno é a burocracia excessiva, que ele chama de "permisologia". Em sua opinião, o atual sistema de permissões e regulamentações é tão complexo que muitos profissionais do setor são obrigados a abandonar o trabalho florestal devido à dificuldade de cumprir as normas. Isso gera uma desconexão com a realidade territorial e com as necessidades do país, contribuindo para o abandono das florestas e sua eventual degradação.
"O trabalho nas florestas já é complexo por si só. Se a isso você acrescenta que os reguladores têm que responder a duas ou três entidades, o processo se torna quase impossível", explicou Köster. O engenheiro destacou que muitos colegas optaram por mudar de ramo ou até emigrar, devido à complexidade dos trâmites administrativos e às diferenças de critério entre os diversos escritórios da Conaf. "No final, esse desgaste leva ao abandono das florestas, o que não é sustentável. Quando isso acontece, as terras são destinadas a outros usos, geralmente não profissionais, o que leva à sua degradação", acrescentou.
O futuro da regulamentação florestal
O debate sobre a possível criação de uma nova entidade responsável pela biodiversidade, o Serviço de Biodiversidade e Áreas Protegidas (SBAP), gerou preocupações no setor. Segundo Köster, embora seja positivo que exista uma entidade para regular a biodiversidade, a criação de duas entidades com competências na área técnica da floresta nativa poderia gerar confusão e mais trâmites burocráticos, afetando ainda mais a eficiência na gestão dos recursos.
"A pior situação seria ter que responder a duas entidades, o que geraria ainda mais trâmites e burocracia, inviabilizando um desenvolvimento florestal sustentável", afirmou. Essa situação poderia atrasar a implementação de planos de manejo e aumentar os custos para os proprietários florestais, que seriam obrigados a cumprir uma dupla regulamentação.
O caminho para a sustentabilidade
Em sua intervenção, Köster enfatizou que a chave para o sucesso do setor florestal no Chile está em uma colaboração eficaz entre os atores públicos e privados, assim como na simplificação dos processos burocráticos. É fundamental que os tomadores de decisão, como legisladores e ministérios envolvidos, compreendam a complexidade do território e as necessidades do setor, para evitar que a super-regulação acabe prejudicando tanto as florestas quanto a indústria.
"A permisologia não só afeta o desenvolvimento florestal, mas também a qualidade de vida das pessoas. Se continuarmos por esse caminho de complexidade, perderemos a oportunidade de aproveitar nossos recursos de forma sustentável", concluiu Köster.
O futuro do setor florestal no Chile depende de encontrar um equilíbrio entre a conservação da biodiversidade e o desenvolvimento econômico, onde a simplificação da burocracia e a melhoria na aplicação das leis são elementos-chave. A gestão sustentável das florestas nativas não é apenas uma oportunidade econômica, mas também uma responsabilidade ambiental que deve ser levada a sério por todos os atores envolvidos.
A entrevista completa está disponível no canal do YouTube da Acoforag: