Crise florestal no Chile: escassez de madeira, incêndios e uma legislação desconectada
Em Conversando com a Acoforag, Julio Torres, engenheiro florestal e secretário executivo do Colegio de Ingenieros Forestales de Chile, destacou a importância de compreender o impacto que a legislação tem na atividade florestal e no emprego.
Explicou que, embora a discussão legislativa possa parecer distante e complexa, seus efeitos são diretos e determinantes para o bem-estar das pessoas e a sustentabilidade do setor.
Um dos temas centrais abordados foi o projeto de fomento florestal e manejo sustentável, que se encontra em uma fase preliminar. Segundo Torres, este anteprojeto ainda não ingressou no Congresso e, portanto, não pode ser considerado formalmente um projeto de lei. No entanto, o Ministério da Agricultura e a Corporación Nacional Forestal (CONAF) apresentaram suas diretrizes gerais em reuniões com atores do setor.
Necessidades do país
Uma das principais preocupações dos sindicatos florestais é a insistência do governo em restringir o fomento exclusivamente a plantações mistas, deixando de lado os monocultivos florestais. Esta medida surge da Lei Marco de Mudança Climática, que desincentiva os monocultivos. No entanto, Torres ressalta que o fomento deve responder às necessidades do país, que atualmente enfrenta dois grandes problemas: o desabastecimento de madeira e o descumprimento de compromissos internacionais de redução de emissões.
O desabastecimento de madeira foi agravado por incêndios florestais, roubos e a violência rural. De acordo com a Corporación Chilena de la Madera (Corma), há aproximadamente 100.000 hectares de plantações inacessíveis devido à violência em algumas regiões. Isso afeta principalmente as pequenas e médias empresas florestais. Além disso, o país está longe de cumprir sua meta de plantar 200.000 hectares de floresta até 2030, já que até o momento apenas 10.000 hectares foram plantados.
Outro aspecto relevante é a gestão de incêndios. Torres criticou a falta de medidas preventivas e a tendência de punir os proprietários de terrenos florestais em vez de focar naqueles que provocam os incêndios. Ressaltou que, embora a persecução penal dos responsáveis seja tarefa do Ministério Público, a prevenção é responsabilidade do Estado. Neste contexto, destacou que os estados de exceção preventivos têm se mostrado ferramentas úteis para a redução de incêndios.
Os números refletem a gravidade do problema. Na temporada atual, 62.000 hectares foram queimados, com mais de 50% dos danos concentrados em La Araucanía. Nos últimos oito anos, esta região liderou o ranking de área queimada em sete temporadas. A situação exige uma abordagem estratégica para garantir a sustentabilidade do setor e a segurança das comunidades afetadas.
A entrevista completa está no canal do YouTube da Acoforag: