Relatório da Multigremial afirma que 12.700 hectares na macrorregião sul são inacessíveis para o Estado
Apesar de completar mais de mil dias sob a medida de estado de exceção constitucional, existem extensas áreas na macrorregião sul onde funcionários de instituições estatais não podem entrar. Isso é mostrado no último Relatório de Violência elaborado pela Multigremial de La Araucanía, referente a março.
De acordo com o estudo ao qual "El Mercurio" teve acesso, apenas na Região de La Araucanía foram identificadas 12.700 hectares (equivalente a quase 10 vezes a área da comuna de Macul ou 5,5 vezes a área de Santiago) onde nem as polícias nem o Exército conseguiram entrar nos últimos anos.
Trata-se de seis zonas localizadas nas comunas de Ercilla (5.200 ha), Carahue e o limite com a província de Arauco (3.800 ha), Lumaco (1.800 ha), Traiguén (1.300 ha) e áreas rurais de Lautaro (600 ha). Lá, grupos radicalizados se estabeleceram, mantendo propriedades usurpadas, onde impediram — por meio de ataques armados — o acesso de funcionários estatais.
Para Patricio Santibáñez, presidente da entidade sindical, isso demonstra "a necessidade de aprofundar as estratégias para combater as bandas criminosas".
Diante disso, a Multigremial propõe "aprofundar o estado de emergência constitucional em vigor há três anos" e avaliar a criação de uma Força Estatal de Combate ao Terrorismo e Crime Organizado, composta por pessoal de elite, com dotação permanente e faculdades especiais, para atuar coordenadamente com as polícias, Forças Armadas e Ministério Público.
Acrescentam que, para desarticular as organizações radicalizadas, é necessário maior respaldo legal para policiais e militares, por meio de "autonomia técnica para o Ministério da Segurança", de modo que seja uma entidade independente do ciclo político, que agrupe as polícias e o Ministério Público sob um comando profissional.
Retomar o controle
Além disso, Santibáñez propõe a criação de um Plano Nacional Contra o Terrorismo e revisar o "controle excessivo sobre as polícias", que limita a capacidade de reação diante de eventos urgentes, segundo ele. Também sugere fortalecer o investimento regional, com ênfase nas comunas mais afetadas, "já que são as que se encontram abandonadas pelo Estado nas últimas décadas".
Por isso, enfatizam na Multigremial, que não são necessárias novas leis nem mais diagnósticos. "A autoridade civil e militar tem as ferramentas para recuperar o controle dessas zonas (...). Pedimos que seja instruída imediatamente uma operação sustentada para retomar o controle das áreas fora do Estado, com presença permanente de forças especializadas, respaldo político e prestação de contas pública semanal".
Para a senadora por La Araucanía e uma das autoras da Lei de Usurpações, Carmen Aravena (P. Republicano), a existência dessas áreas de exclusão "onde não opera o Estado de direito" é um "grave sinal".
A também integrante da Comissão Presidencial para a Paz e o Entendimento afirma que "elaboramos esta lei para dar ao Estado as ferramentas para fazer o que é correto". Acrescenta que isso requer um acordo de toda a classe política para que as Forças Armadas possam entrar nesses territórios.
Exumação frustrada
Em 26 de março, uma operação policial e militar planejada "durante meses", segundo informado pelo Ministério Público regional, que pretendia exumar o corpo do militante da Coordenadora Arauco Malleco (CAM) Pablo Marchant, viu sua tentativa frustrada devido aos tiroteios sofridos pela comitiva que participava do procedimento. O procedimento fracassado deveria ser realizado dentro da fazenda Pidenco, na comuna de Lumaco, ao norte de La Araucanía. Após o ocorrido, tanto o Ministério Público quanto o Governo confirmaram que não havia condições para realizar o procedimento solicitado pelos Tribunais.
O deputado Miguel Mellado (RN) classificou como "uma vergonha" que o Governo "se ajoelhe diante dos terroristas da CAM" e questionou a presença do Estado de direito na macrorregião sul.
O relatório elaborado pela Multigremial também registrou uma redução de 54% nos casos de violência rural em comparação com o mesmo período de 2024 e um total de 635 episódios durante a administração do Presidente Gabriel Boric. No documento, lê-se que "mantém-se a latência e brutalidade dos grupos que semeiam terror na zona sul".
Fonte:El Mercurio