Namuncura diz que se Comissão de Paz não alcançar acordo, "a primeira derrota é do Governo"
O Governo e a situação política seriam os principais "derrotados" se a Comissão de Paz e Entendimento não conseguir apresentar uma proposta de consenso ou apenas medidas mínimas sem abordar os problemas de fundo, alerta o ex-diretor da Corporação de Desenvolvimento Indígena (Conadi), histórico líder do PPD e atual acadêmico, Domingo Namuncura. Isso ocorre em um contexto em que o prazo final, sem possibilidade de prorrogação, para essa instância presidencial expira depois de amanhã. Durante a semana que terminou, o grupo de oito comissários reuniu-se por quatro dias sem chegar a acordos e, na noite passada, continuava reunido virtualmente em busca de unanimidade nas propostas que serão apresentadas.
"Se o relatório que esperamos nascer com dificuldades significativas, com alguns partidos políticos apoiando e outros rejeitando, com comissários concordando apenas em mínimos comuns e sem abordar o essencial, a primeira derrota disso é do Governo e da situação política", argumenta Namuncura. Ele também afirma que haverá um impacto "para o mundo político e social e, certamente, gerará, mais uma vez, desânimo entre os povos indígenas".
Permanência do conflito
Sobre isso, ele afirma que "isso só poderá alimentar a permanência do conflito, e o que é preciso ter em mente é que os povos indígenas, por sua história ancestral de mais de 500 anos, desenvolveram ao longo dos séculos uma enorme capacidade de resiliência espiritual, social, política e cultural. São povos derrotados, mas sobreviveram a todas as crises com o Estado. As lutas sociais e culturais às vezes demoram para se concretizar, mas se há algo que os indígenas aprenderam ao longo das gerações é a ter uma paciência ativa e histórica".
"Sem acordo, perdemos mapuches e não mapuches"
Hugo Alcamán, presidente da Corporação de Profissionais Mapuches, considera que, se não houver acordo, "o custo será para La Araucanía e Arauco, que são as zonas mais pobres do Chile", e enfatiza que "aqui todos perdemos: mapuches e não mapuches".
Ele pediu para "fazer os últimos esforços, porque, por menor que seja o passo dado, significará um avanço em direção à paz, mesmo que não seja na dimensão ou na velocidade que precisamos, mas, de qualquer forma, valorizamos todas as instâncias e contribuições feitas para superar a violência e alcançar aproximações e acordos".
Ele lamentou as pressões surgidas nos últimos dias contra os membros da instância presidencial. "Os comissários fizeram um grande esforço, e isso deve ser valorizado, mas as pressões vindas de partidos e grupos radicalizados são absolutamente deploráveis, porque aqui o que cabia era aguardar as conclusões e somar-se a esse esforço de Estado", destacou o líder mapuche.
"Qualquer fórmula de paz tem um preço"
Namuncura enfatizou que "para resolver o conflito da demanda de restituição de terras, a primeira coisa que o país e o mundo conservador devem considerar é que qualquer fórmula de paz e entendimento com o povo mapuche tem um preço".
Na mesma linha, Namuncura afirmou que "o Estado e a sociedade chilena devem entender que, se queremos verdadeiramente a paz no Chile, com o povo mapuche e as comunidades demandantes, essa paz tem um preço a ser pago por meio de um compromisso de compra de terras". Ele propôs que a aquisição dessas terras, seja "de empresas florestais ou privados, deve ser feita em um prazo de vários anos" e devem ser colocadas "à disposição de um Fundo Nacional de Terras em Bens Nacionais, e a partir daí trabalhar em um plano de restituição".
Para Namuncura, "tudo isso é o cerne do conflito e não se resolve com muitas promessas periféricas de novas ou melhores políticas sociais".
Fonte:El Mercurio