Solo, fogo e restauração: Cientistas analisam novas estratégias para enfrentar impactos dos incêndios
Nas últimas semanas, as comunas de Mulchén, Tucapel e Los Ángeles tiveram que enfrentar seis incêndios florestais ativos, cuja área de devastação superou 5 mil hectares.
A emergência obrigou a ordenar evacuações, suspender aulas em várias comunas e decretar um alerta regional pelo Sistema Nacional de Prevenção e Resposta a Desastres.
No entanto, além dos danos visíveis, os incêndios florestais geram efeitos profundos no solo e nos ecossistemas, cujas consequências se estendem por anos.
“Assim que o fogo é apagado, começa outra etapa igualmente crítica: a recuperação da paisagem e a restauração do solo. Sem um manejo adequado, os ecossistemas queimados podem se tornar zonas de maior risco, sujeitas à erosão, menos férteis e com menor capacidade para resistir a futuros eventos de fogo”, afirma o Dr. Sergio Contreras, pesquisador do Departamento de Química Ambiental da Universidade Católica de la Santísima Concepción (UCSC).
O acadêmico explica que, após um incêndio, um dos principais elementos que se forma é o carbono pirogênico, um tipo de carvão que se infiltra nos solos e modifica sua estrutura e funcionamento. “Esse material pode ser benéfico em certas concentrações, mas se não for gerenciado corretamente, altera a dinâmica de nutrientes, inibe a regeneração vegetal e pode aumentar o escoamento superficial, o que, por sua vez, eleva o risco de erosão e inundações”, acrescenta.
Essas preocupações estão no centro do projeto de pesquisa recentemente aprovado pela ANID e liderado pelo Dr. Contreras junto ao Dr. Gustavo Saiz, ambos acadêmicos da Faculdade de Ciências da UCSC, “Ciência e inovação para avaliar os impactos dos incêndios florestais nos ecossistemas do centro-sul do Chile e gerar propostas de paisagens resilientes ao fogo baseadas em diferentes cenários de mudança ambiental”. A iniciativa busca avaliar cientificamente os efeitos ecológicos e químicos do fogo, para desenvolver estratégias integrais de restauração que considerem as particularidades de cada território.
“Precisamos reconstruir a paisagem de forma inteligente. Não se trata apenas de reflorestar, mas de repensar quais espécies são plantadas, como são distribuídas e qual papel desempenham na resistência ao fogo”, sustenta o Dr. Saiz, acadêmico do Departamento de Ciências Ambientais da UCSC. Em sua opinião, continuar replicando monocultivos florestais sem corredores biológicos ou gestão de combustível é uma fórmula para repetir as catástrofes atuais.
Ambos os pesquisadores concordam que é fundamental que essas decisões sejam tomadas com base em evidências científicas, em articulação com as comunidades locais e considerando as projeções das mudanças climáticas. “Não basta apagar o incêndio, é preciso evitar que o próximo seja pior”, enfatiza Contreras.
Dos cientistas da UCSC, o chamado é claro: avançar para uma restauração que não apenas repare o dano, mas transforme as paisagens em sistemas mais resilientes, sustentáveis e seguros para as gerações futuras. A ciência está disponível para guiar esse processo, mas requer vontade, planejamento e uma visão compartilhada do território.
Fonte:La Discusión