Executivo classifica temporada de incêndios como "aceitável", mas buscará discutir projeto que previne sinistros
Todos os verões tornou-se um hábito que o Ministério da Agricultura conviva com as crises de incêndios florestais no país. Esta pasta tem sob sua dependência a Corporação Nacional Florestal (Conaf), cujas funções para o combate a esses sinistros passarão ao novo Serviço Nacional Florestal (Sernafor), que surge a partir da lei que criou o Serviço de Biodiversidade e Áreas Protegidas (SBAP).
No balanço dos avanços e desafios enfrentados pela pasta, realizado ontem pelo ministro Esteban Valenzuela perante um salão repleto de representantes da
atividade silvoagropecuária nacional, houve uma frase que não passou despercebida para alguns presentes na plateia.
Durante sua intervenção no seminário “Como vem a temporada 2025-2026?”, organizado pela Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Valenzuela afirmou que, na temporada recente, particularmente na província de Malleco, “tínhamos uma temporada de incêndios muito, entre aspas, aceitável, que se divide em hectares queimados e sinistrados”.
No entanto, afirmou que durante “a última quinzena de fevereiro e a primeira de março houve muitos incêndios em Malleco e, certamente, indícios de intencionalidade evidentes”.
Apesar do reconhecimento da intencionalidade, Rodrigo O'Ryan, presidente da Corporação Chilena da Madeira (Corma), destacou em um painel após a apresentação de Valenzuela que não é admissível classificar a última temporada de incêndios como “aceitável”.
Questionado pelo “El Mercurio”, O'Ryan afirmou que, embora “toda avaliação dependa com o que se compara”, as cifras ainda refletem um forte impacto e uma alta intencionalidade. “Se compararmos com o que tivemos em 2017 ou 2023, com cerca de 500.000 hectares queimados por ano em média, poderíamos tirar uma conclusão um pouco mais positiva (...). Mas acredito que isso é começar a se acostumar a normalizar esse tipo de catástrofe, porque isso obedece a uma alta intencionalidade e a uma linha de crime”, disse.
Nesse sentido, O'Ryan sustentou que “não podemos considerar como ‘aceitável’ uma temporada que contabiliza mais de 6.000 incêndios e 165.000 hectares queimados. Na macrorregião, vimos mais de 1.600 focos de incêndio intencionais, onde a intencionalidade superou 60%”.
Questionado por este veículo sobre essa declaração no seminário, o ministro da Agricultura esclareceu que se referia à média do quinquênio, considerando a última temporada de incêndios. “Até meados de fevereiro, estávamos muito melhor, cerca de 20% a menos de hectares sinistrados, mas infelizmente os incêndios, particularmente na província de Malleco, em Victoria, Ercilla, Traiguén, entre outras comunas, nos levaram às médias do quinquênio, em torno de 80.000 hectares (danificados)”.
O ministro afirmou que o Executivo busca a aprovação da lei de incêndios, para mitigação e prevenção — por meio de corta-fogos e outras medidas — desse tipo de sinistro, a fim de proteger os setores rurais. “Queremos chegar a esta temporada em…
Violência rural
O mundo rural enfatizou em suas críticas sobre o aumento da insegurança no campo, que afeta a atividade silvoagropecuária.
Antonio Walker, presidente da SNA, afirmou em seu discurso que um dos principais problemas enfrentados pelo mundo rural está vinculado à violência e roubos contra agricultores. Segundo uma pesquisa realizada pelo sindicato, 80% dos entrevistados foram vítimas de roubo no último ano e 40% em três ou mais ocasiões. “O crime organizado deve ser expulso do campo e do Chile. É um desafio urgente para todos os poderes do Estado, polícias e autoridades locais”.
Embora tenha destacado que a violência na macrorregião sul diminuiu, afirmou que ainda existe uma “célula terrorista”…
Em um dos painéis do encontro, Aurelio Montes del Campo, diretor técnico da Vinícola Montes, relatou que recentemente sofreram o roubo de um caminhão carregado de vinhos, que finalmente “encontramos no Mercado Livre, mas praticamente não conseguimos chegar diretamente a quem cometeu o crime”.
Acrescentou que “não é fácil o acompanhamento de um roubo” que ocorre no campo, o que dificulta obter condenações de prisão nesse tipo de delito. “Os juízes não ajudam no julgamento e os criminosos saem livres (...). Não os condenam e nos pedem mais provas, mas muitas vezes as provas são ridiculamente óbvias”.
Outros líderes, como Ricardo Montesinos (Sago) e Víctor Catán (Fedefruta), comentaram que há um estagnamento nos progressos em segurança.
Por outro lado, a SNA também alertou que alguns aspectos ambientais podem ser novos focos de incerteza para o setor. “Preocupa-nos a aplicação, sem debate legislativo, de normas ambientais que afetam o mundo produtivo. Por exemplo, a implementação acelerada do Serviço de Biodiversidade e Áreas Protegidas, com 11 regulamentos em tramitação simultânea, e as novas diretrizes do SEA, que impõem graves restrições sem participação do setor nem respaldo científico”, disse Walker.
Fonte:El Mercurio