Delegação chileno-peruana explora na Finlândia e Suécia o modelo nórdico que revoluciona a construção em madeira
Em maio de 2025, uma delegação de profissionais do Chile e do Peru - arquitetos, acadêmicos, desenvolvedores - viajou para o norte da Europa para conhecer de perto o bem-sucedido modelo nórdico de construção em madeira. O objetivo: explorar casos concretos, dialogar com especialistas e coletar ideias aplicáveis ao contexto latino-americano.
Finlândia e Suécia são líderes mundiais em construção em madeira, graças à sua forte indústria florestal, inovação tecnológica e políticas públicas. Ambos os países, além de serem líderes mundiais na produção de madeira serrada, conseguiram transformar esse potencial em um modelo bem-sucedido de desenvolvimento urbano, convencendo consumidores, investidores, bancos e seguradoras sobre os benefícios de construir em madeira.
"O Chile é um dos principais produtores mundiais de madeira serrada", destaca Niina Fu, organizadora da viagem. "O modelo nórdico abre grandes oportunidades de cooperação para impulsionar uma construção mais sustentável no Chile".
Durante cinco dias intensivos na Finlândia e na Suécia, a delegação visitou projetos pioneiros, edifícios emblemáticos e centros de inovação, estabelecendo vínculos importantes com desenvolvedores, arquitetos, universidades e autoridades locais.
Cidades que traçam o rumo
Em Estocolmo, a atenção se concentrou no Stockholm Wood City, o projeto urbano em madeira mais ambicioso do mundo, projetado para 7.000 pessoas e que contempla mais de 250.000 m² construídos. Também foi conhecido o conjunto residencial Cederhusen, inteiramente construído com CLT, que alcança 13 andares e oferece soluções de alta densidade habitacional com baixo impacto ambiental.
Na Finlândia, a cidade de Turku apresentou seu bairro piloto Linnanfältti, com moradias de baixa altura projetadas para 1.500 pessoas, e um caso inédito: dois edifícios idênticos construídos com madeira e concreto respectivamente, que permitem comparar empiricamente seu desempenho técnico e ambiental.
O percurso terminou em Helsinque, com apresentações sobre o edifício Keilaniemen Portti - que alcançará 60 metros de altura em madeira quando concluído em 2026 - e a participação na conferência internacional WoodBuild Finlândia 2025.
Papel público
Além dos projetos visitados, a delegação conheceu o papel fundamental das políticas públicas na construção sustentável. Na Finlândia, exige-se que 45% dos novos edifícios públicos sejam de madeira até 2025, como parte do objetivo de alcançar a neutralidade de carbono em 2035. Na Suécia, desde 2022, toda nova construção deve considerar sua pegada de carbono, em cumprimento à sua Lei Climática, que estabelece a meta de neutralidade para 2045.
A visita também evidenciou como a Finlândia complementa sua legislação com um forte impulso à inovação. A delegação visitouKIRAHub, um centro essencial para o desenvolvimento de cidades inteligentes e construção sustentável, onde três startups finlandesas apresentaram suas inovações, destacando o valor da colaboração entre o setor público, a academia e as empresas.
Um olhar desde o sul
Além dos números e dos edifícios emblemáticos, a experiência permitiu refletir sobre o potencial da madeira como motor de desenvolvimento sustentável na América Latina. Entre os participantes, destacou-se a presença de representantes doConsórcio Cidade Madeira, uma iniciativa chilena que promove o uso desse material na construção.
Christian Cancino, do Consórcio Cidade Madeira, afirmou que "a visita confirmou que a construção em madeira é essencial para enfrentar os desafios do setor. Na Finlândia e na Suécia, a sustentabilidade se traduz em ação, e a madeira oferece eficiência e bem-estar. Para o Cidade Madeira e Territoria, essa experiência valida nossa estratégia e reafirma que estamos no caminho certo".
Outra das instituições participantes foi aUniversidade San Sebastián(USS), que incorporou a construção em madeira como eixo estratégico na formação de arquitetos e profissionais do ambiente construído. Anita Jara, representante da USS, destacou o valor do intercâmbio ao afirmar que "visitamos projetos emblemáticos, compartilhamos metodologias com diversas instituições e obtivemos aprendizados diretamente aplicáveis à formação acadêmica".
A viagem reafirmou que a madeira não é apenas parte do passado construtivo da humanidade, mas também uma peça fundamental na construção das cidades do futuro.