Magdalena Lisboa: a mulher que lidera o único cultivo industrial de Eucalyptus Regnans no Chile
“Eu cresci em Arauco e continuo aqui”, diz com convicção Magdalena Lisboa, engenheira florestal e gerente geral da Regnans, uma empresa da Região do Biobío com uma história tão singular quanto a espécie que cultiva: o Eucalyptus Regnans.
Desde seu escritório na cidade que a viu nascer e crescer, a profissional lidera hoje uma empresa que não só é pioneira a nível nacional, mas provavelmente única no mundo em seu ramo.
Lisboa pertence a uma família profundamente ligada ao desenvolvimento florestal chileno. Seu pai, engenheiro florestal da Universidade do Chile, foi o primeiro profissional do ramo a chegar a Arauco, quando ainda se fundava a Forestal Arauco. “Meu pai tem 89 anos e ainda vem todos os dias ao escritório. É uma enciclopédia viva”, conta ela com orgulho.
Inspirada, mas não pressionada, pelo caminho do pai, estudou Engenharia Florestal na Universidade de Concepción, formando-se em 2010. Após alguns anos dedicados à pesquisa acadêmica, incluindo um doutorado em silvicultura, retornou definitivamente a Arauco em 2014 para integrar-se plenamente à empresa familiar.
A virada da empresa
“Comecei como sua assistente, ajudando-o em tudo. Mas pouco a pouco fui me envolvendo mais, e hoje estou à frente de toda a gestão”, explica. A grande virada que deu à empresa foi profissionalizar e intensificar o trabalho com o Eucalyptus Regnans, uma espécie originária do sul da Austrália que seu pai começou a plantar no Chile nos anos 80, após conhecê-la em ensaios do Instituto Florestal (INFOR).
Esta espécie destaca-se por seu crescimento acelerado, seu tronco reto e a alta qualidade de sua madeira. Diferentemente de outras variedades de eucalipto cultivadas no Chile, cujo destino principal é a produção de celulose, o Regnans é cultivado para obter madeira serrada de alto valor, destinada à fabricação de pisos, móveis e revestimentos.
“Atualmente estamos colhendo árvores de cerca de 20 anos, porque precisamos de um diâmetro e maturidade específicos para poder secar e processar a madeira adequadamente”, comenta a profissional.
O processo completo, desde o viveiro até a remanufatura da madeira, é realizado na mesma empresa, fechando assim um ciclo produtivo que mistura conhecimento técnico, tradição familiar e inovação.
Um dos aspectos mais surpreendentes do negócio é sua inserção internacional. Apesar de ser uma empresa pequena, a Regnans exporta para a Austrália —país de origem da espécie—, além da China e Malásia. “É curioso, vendemos madeira australiana para os australianos”, diz entre risos. Mas a razão é clara: enquanto na Austrália esta espécie provém de bosques nativos e longevos, no Chile é cultivada industrialmente sob padrões de silvicultura moderna.
Abrindo caminhos
A equipe da Regnans é composta atualmente por 45 pessoas, das quais 6 são mulheres. Embora a diferença de gênero persista no ramo florestal, Magdalena soube abrir caminho em um mundo tradicionalmente masculino. “O desafio foi grande, mas também muito enriquecedor. Espero que no futuro mais mulheres se juntem ao setor e vejam que há espaço para liderar”, destaca.
A Regnans é hoje uma empresa que encarna a interseção entre ciência, empreendedorismo e território. Desde Arauco, Magdalena Lisboa pegou o bastão de uma história familiar para projetá-la ao mundo, demonstrando que a inovação pode surgir até nos lugares mais inesperados.
“Gosto de pensar que estamos fazendo algo único, mas também útil. Estamos valorizando uma espécie que pode oferecer muito mais que celulose: pode dar madeira nobre, trabalho local e oportunidades reais de desenvolvimento para Arauco e sua gente”, finalizou.