Especialistas: bom manejo de florestas e incentivo ao uso da madeira são chaves para mitigar as mudanças climáticas
Uma visão profunda de médio e longo prazo da atividade produtiva florestal foi o foco do segundo encontro “Biobío 2050”, organizado pelo Diário La Tribuna e que reuniu ontem especialistas, autoridades, acadêmicos e representantes dos setores público e privado local.
No evento, realizado nos salões do Club de La Unión, os palestrantes e painelistas destacaram a importância do bom manejo das florestas, do incentivo às plantações e do fomento à construção em madeira, como fatores-chave para mitigar as mudanças climáticas, contribuindo para o cumprimento dos compromissos ambientais assumidos pelo Chile no contexto internacional.
A primeira palestra do dia foi ministrada por Sandra Gacitúa, diretora executiva do Instituto Florestal (INFOR), entidade vinculada ao Ministério da Agricultura.
A doutora em Ciências Florestais pela Universidade de Concepción alertou que, apesar dos benefícios das florestas no combate às mudanças climáticas, sua redução devido ao uso de combustíveis fósseis e aos incêndios florestais obriga a pensar em outras formas de mitigar esse efeito, como o impulso à construção em madeira, o fomento ao plantio de florestas e o uso de tecnologias para melhorar sua produção.
Destacou que “as florestas contribuem para a economia e mitigam os efeitos das mudanças climáticas ao capturar carbono, um gás de efeito estufa”. “As emissões de carbono têm aumentado desde 1990, e as florestas e o setor florestal são o único setor que captura carbono”.
A MADEIRA É O ÚNICO MATERIAL QUE CAPTURA CARBONO
A porta-voz do INFOR também afirmou que o efeito estufa tem trazido “fenômenos climáticos que já estão ocorrendo”, reforçando: “Como mitigamos as mudanças ambientais? Uma solução baseada na natureza é construir em madeira”.
Sandra Gacitúa destacou que “a madeira é o único material que nos permitiria mitigar as mudanças climáticas. O manejo e fomento das florestas e a necessidade de enfrentar o déficit habitacional exigem o desenvolvimento de um modelo florestal sustentável”.
A diretora executiva do instituto, que está ativo há 64 anos no país, declarou que a pesquisa realizada por eles está centrada nas pessoas.
“Temos gerado cada vez mais informações para as pessoas e tomadores de decisão, influenciando as diversas políticas públicas que estão sendo desenvolvidas”, detalhou.
Gacitúa acrescentou que o INFOR trabalha “com foco nos compromissos internacionais: poder cumprir com a captura de carbono, o ordenamento territorial, o manejo responsável das florestas nativas e o manejo sustentável das florestas”.
TECNOLOGIA PARA MITIGAR AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS
A diretora executiva destacou que o trabalho realizado permite avanços condizentes com os tempos atuais, relacionados ao manejo sustentável das florestas e ao uso de tecnologias atualizadas em prol do desenvolvimento silvícola e do cuidado com o meio ambiente.
“O INFOR conta com infraestrutura tecnológica que visa desenvolver e possuir infraestrutura que mitigue as mudanças climáticas”.
Sandra Gacitúa lembrou que o INFOR também trabalha em conjunto com outras instituições públicas e privadas, incluindo outros ministérios, associações e ONGs.
O Instituto Florestal gera relatórios de estatísticas setoriais: “registros de áreas de florestas nativas, relatórios de gases de efeito estufa e relatórios de disponibilidade futura de madeira”. Informou que as últimas projeções de madeira diminuíram em porcentagem nos últimos anos.
A representante do instituto público esclareceu que estão impulsionando “sistemas agroflorestais, ferramentas de adaptação às mudanças climáticas. Essas são soluções presentes nos institutos de fomento associados à recuperação de solos degradados”.
ACORDOS PARA CHEGAR A UM MODELO SUSTENTÁVEL
Em relação às PMEs, contou que o INFOR desenvolveu “suportes tecnológicos gratuitos para as PMEs florestais e estamos trabalhando para transferir essa tecnologia de forma que possam melhorar sua produção”.
Lembrou também que contribuem para o cumprimento de acordos internacionais: “como o Acordo de Paris, relacionado à neutralidade de carbono”.
Concluiu convocando a gerar acordos entre os atores do setor para alcançar um modelo de desenvolvimento florestal sustentável e a promover o uso da madeira, com a criação de ecossistemas resilientes e um trabalho conjunto contra as mudanças climáticas.
IMPORTÂNCIA DO SETOR FLORESTAL PARA AS REGIÕES
O segundo palestrante do dia foi o presidente da Corporação Chilena da Madeira (Corma), Rodrigo O’Ryan Blaitt, que reforçou a contribuição significativa da atividade para o Produto Interno Bruto (PIB) de regiões como a nossa e os retornos que proporciona, melhorando a qualidade de vida da população e a recuperação da cobertura vegetal dos solos, restaurando-os quando estão erodidos.
O líder sindical destacou a importância do setor florestal para a vida das pessoas, fornecendo soluções além das florestas: “Acompanhamos as pessoas no dia a dia”.
Ressaltou que o setor florestal tem um alcance e área de produção “muito arraigados nas regiões do Chile, somos o músculo da ruralidade. Representamos 1,3% do PIB nacional e 14% do PIB em regiões como Ñuble e La Araucanía”.
“Para cada peso produzido no setor florestal, são gerados 1,02 pesos no resto da comunidade. Os retornos são para o comércio, hotéis, companhias aéreas, quiosques e transportadoras”, explicou.
BENEFÍCIOS AMBIENTAIS E ECONÔMICOS PARA A COMUNIDADE
O’Ryan acrescentou que as plantações florestais podem ser utilizadas na área têxtil, construção em madeira e produção de químicos, biocombustíveis e energia. “A biomassa substitui combustíveis fósseis e reduz o risco de incêndios, sendo muito importantes a eficiência e a cadeia logística”.
O presidente da Corma pediu que se reconheça, considerando os benefícios do setor florestal, como as empresas “compartilham a prosperidade florestal com as comunidades, trabalhando nos territórios e melhorando sua qualidade de vida”.
O palestrante detalhou que as empresas que integram a entidade possuem iniciativas de apoio às comunidades rurais onde atuam, “trabalhando a partir da natureza e junto a ela, respeitando-a ao mesmo tempo”.
RECUPERAÇÃO DE SOLOS E GERAÇÃO DE EMPREGO PELAS FLORESTAS
Rodrigo O’Ryan Blaitt destacou que “a biomassa gera 15 vezes mais empregos por cada unidade energética produzida. Biocombustíveis bem utilizados e padronizados permitem reduzir a poluição”.
“O setor florestal surgiu para recuperar solos erodidos e conseguiu, permitindo restaurar a cobertura vegetal. Hoje, muitos desses solos são aptos para a agricultura”, explicou, em relação ao serviço ecossistêmico da indústria.
O presidente da Corporação Chilena da Madeira contou que, com a criação do novo Serviço Nacional Florestal (Sernafor), que substitui a Conaf, os atores do setor demonstraram que promover e fomentar a florestação é visto positivamente também pelo poder legislativo.
O porta-voz do setor considerou que “devemos nos orgulhar e agradecer às regiões florestais. Se continuarmos com o sistema atual, perdemos a sustentabilidade dos ecossistemas”.
“Se fizermos um trabalho sistêmico por parte de todos os atores, isso pode ser revertido”. O’Ryan acrescentou que, para ter uma “bioeconomia baseada na natureza, precisamos de segurança”.
NECESSIDADE DE SEGURANÇA PARA INVESTIR EM FLORESTAS
O porta-voz da CORMA instou o Estado a “cumprir seu papel de garantir o Estado de Direito e a possibilidade de viver em paz, ou nada disso será possível, nem mesmo do ponto de vista econômico”.
“Vimos como investimentos são paralisados, porque projetos ficam travados por muitos anos”. “Precisamos de uma normativa adequada que impulsione um desenvolvimento sustentável e permita operar para ter mais florestas”, defendeu o presidente do sindicato.
Rodrigo O’Ryan Blaitt também convidou a reconhecer o valor do setor florestal, reforçando a interação público-privada. “Precisamos olhar para novos mercados”, acrescentou em sua análise. Em matéria logística, reforçou a importância de “descentralizar o setor, a partir do Biobío, com uma rede logística portuária para exportar, integrando a rede rodoviária e ferroviária”.
Após as palestras, houve um fórum de conversa que contou com a participação do diretor regional da Conaf, Esteban Krause, e da gerente regional da Corma Biobío-Ñuble, Margarita Celis, que, junto aos palestrantes, aprofundaram aspectos como a nova institucionalidade florestal representada pelo Sernafor e os desafios enfrentados pelo setor para aumentar o conhecimento da comunidade sobre sua contribuição, além do aspecto meramente econômico.
Fonte:La Tribuna