Chile e o pinheiro-manso: uma nova fronteira agroflorestal com projeção internacional
Em Conversando com Acoforag, Verónica Loewe, chefe de projetos e responsável por relações internacionais do Instituto Florestal (INFOR), além de pesquisadora principal do Centro Nacional de Excelência para a Indústria da Madeira, falou sobre o desenvolvimento do pinheiro-manso (Pinus pinea) como uma opção inovadora e sustentável para o Chile.
Originário da bacia do Mediterrâneo, este pinheiro faz parte da história alimentar da humanidade desde tempos pré-históricos. “Já os neandertais o consumiam”, comenta Loewe, destacando seu valor nutricional, cultural e econômico. O pinhão mediterrâneo é o fruto seco mais caro do mundo, e sua demanda global — que supera as 20.000 toneladas não atendidas — representa uma oportunidade única para o Chile.
Embora esta espécie tenha sido introduzida há cerca de 200 anos por imigrantes europeus e utilizada por figuras como Federico Albert em programas de estabilização de dunas, seu cultivo comercial só começou a se consolidar na última década. Em 2013, existiam apenas 100 hectares plantados no país. Hoje, graças ao trabalho liderado por Loewe e sua equipe, já se ultrapassam 5.000 hectares, com uma estimativa de 6.000 plantados ao final deste inverno. O crescimento tem sido sustentado e, notavelmente, sem necessidade de subsídios.
O pinheiro-manso demonstrou excelente adaptação às condições do centro-sul do Chile, de Valparaíso até La Araucanía, especialmente por seu baixo requerimento hídrico e sua capacidade de crescer mesmo em solos pobres. Produz no inverno, o que permite aproveitar mão de obra e maquinário em baixa temporada para outras culturas.
Um dos grandes desafios atuais é consolidar uma rede de armazenamento que permita aos pequenos e médios produtores comercializar seus pinhões. “Nos ligam dizendo: tenho pinhas, o que faço?”, relata Loewe. Embora o interesse privado esteja aumentando, é necessário avançar em infraestrutura e associativismo para consolidar a cadeia de valor.
A equipe do INFOR desenvolveu manuais e fichas técnicas para acompanhar os novos produtores, além de estabelecer protocolos de manejo e plantio, já que até agora não existia uma cultura de cultivo do pinheiro-manso, nem mesmo na Europa, onde é coletado diretamente de florestas nativas.
Por fim, Verónica Loewe destaca que este fruto seco não só possui propriedades funcionais destacadas — 35% de proteína, mais que a carne —, mas também representa uma oportunidade concreta de desenvolvimento sustentável e diversificação produtiva para o setor florestal chileno. “Temos o conhecimento, as condições e o interesse. Agora, precisamos continuar articulando esforços para que o Chile se torne referência mundial no cultivo do pinheiro-manso”, conclui.
A entrevista completa está no canal do Youtube da Acoforag: