Fondart financia Escola de Oficios em Madeira de Tortel
As passarelas de Tortel são o reflexo natural de uma história ligada à madeira e aos seus múltiplos usos para a habitabilidade e a vida cotidiana. A partir dessa tradição, o Coletivo de Madeireiros de Tortel criou o projeto Escola de Oficios em Madeira, que foi contemplado com o Fundo de Desenvolvimento Cultural e das Artes 2025 do Ministério das Culturas.
Com esses recursos, o coletivo está desenvolvendo diversas oficinas que vinculam a madeira ao território, sob uma perspectiva circular que pode ser observada na reutilização do material das antigas passarelas de Caleta Tortel (que foram doadas pela Prefeitura de Tortel), nas novas criações dos moradores e moradoras que participam.
Francisca Ramírez, integrante do Coletivo de Madeireiros de Tortel, conta que a semente do projeto foi a criação de uma metodologia que está permitindo levar a marcenaria e outras práticas para oficinas abertas à comunidade: “O coletivo tem pessoas com habilidades muito particulares em relação à madeira e percebemos que isso nos dava a possibilidade de ensinar. A região inteira, na verdade, tem formas bem particulares de habitar, então nos perguntamos: por que, se habitamos de uma maneira particular o território, temos que usar objetos que são padronizados?”.
Essa pergunta e o interesse por transmitir conhecimentos têm sido uma motivação permanente, e essa experiência permite que a comunidade participante pense em seu entorno e crie peças para o próprio bem-estar, como utensílios de cozinha, móveis para deixar os sapatos no inverno, abajures e outros artigos.
O secretário regional ministerial (seremi) das Culturas de Aysén, Felipe Quiroz, parabenizou a iniciativa e disse que “a madeira não é apenas um recurso em Aysén, é memória viva. É a forma como nossas comunidades têm habitado, construído e dado sentido ao território. Por isso, o trabalho do Coletivo de Madeireiros de Caleta Tortel representa muito mais que um ofício: encarna uma prática cultural profundamente enraizada, que desafia o esquecimento. Desde a institucionalidade, reconhecemos que seu trabalho não apenas transfere conhecimentos técnicos, mas também ativa processos de dignificação do trabalho manual, de valorização do patrimônio material e imaterial, e da soberania territorial. Experiências como esta nos lembram que o futuro se constrói a partir das raízes. A madeira, trabalhada com história e consciência, não é apenas estrutura: é memória encarnada em cada veio”.
O carpinteiro e construtor Matías Poblete ministrou o primeiro módulo da Oficina de Marcenaria, que terá duração de 40 horas em Caleta Tortel. Além disso, haverá duas oficinas adicionais: uma de Construção de Yerbero com o artesão e carpinteiro Miguel Hernández, e outra de Entalhe em Madeira, sob a responsabilidade do artesão Lázaro Igor, cocriador do projeto.
A Escola de Oficios em Madeira de Caleta Tortel seguirá depois para Puerto Tranquilo, onde realizará a Oficina de Marcenaria; e depois para Puerto Ingeniero Ibáñez, onde os moradores e moradoras poderão aprender a entalhar madeira.