Conaf avalia zonas de risco de incêndios florestais para trabalhar com municípios
A poucos meses da aprovação da transferência da CONAF para o futuro Serviço Nacional Florestal (SERNAFOR), Rodrigo Illesca Rojas assume como novo diretor executivo (s) em meio a um cenário desafiador: o iminente início da temporada de incêndios e a urgência de fortalecer a prevenção em zonas de interface urbano-florestal.
Engenheiro florestal com 25 anos na instituição, Illesca visita a Região do Biobío —uma das mais afetadas pelo fogo na última década— para se reunir com funcionários, revisar preparativos e explicar as mudanças institucionais em curso.
Nesta entrevista ao Diario Concepción, ele abordou os entraves legislativos, o fator da intencionalidade, a resposta a emergências e a distribuição de recursos para o combate aos incêndios florestais.
-Por que sua presença no Biobío?
-Estamos percorrendo todas as regiões. A ideia é conhecer a realidade de cada um dos espaços em que atuamos.
Farei uma apresentação aos funcionários da CONAF para explicar o que está por vir com o SERNAFOR, que é a transferência da corporação aprovada no último 23 de maio. Isso servirá para tranquilizá-los, explicando como vamos trabalhar e como estamos orientados para o futuro.
-Houve uma paralisação de funcionários da CONAF relacionada a essa transferência. Esse impasse foi superado?
-O problema naquele momento foi uma mudança estrutural na CONAF, que estava de acordo com as diferentes gerências e enfoques existentes. Tudo isso foi revertido.
Na época, criou-se uma gerência de Arborização e houve mudança na estrutura de duas gerências —Fiscalização e Bosque Nativo—, que foram fundidas em uma só. Mas depois tudo foi revertido, e a Gerência de Fiscalização, que estava fusionada, voltou a funcionar separadamente.
Esse era um dos detalhes que a instituição havia adotado ao estabelecer as funções da CONAF, para que tivesse um papel vinculante perante os diferentes serviços, principalmente na fiscalização. Mas, ao fundir-se e perder o nome de gerência, isso gerou alerta.
Outro fator é a incerteza que sempre surge quando há transferência de um serviço para outro. Queremos deixar claro que não haverá mudanças contratuais.
-Considerando que o Biobío foi especialmente afetado nos últimos anos por incêndios florestais, como vocês projetam o início de uma nova temporada?
-Bem, agora não falamos mais de temporada, porque temos incêndios em julho. O que temos são picos, que geralmente começam em setembro e vão até maio.
Com base em nossa projeção, devemos ter claro que um incêndio pode acontecer a qualquer momento, mas focamos na prevenção, na fiscalização das queimadas, na preparação das comunidades e escolas.
Quanto ao combate, já estamos preparando licitações para aeronaves e revisando perfis para a seleção de brigadistas, que começam em agosto.
-No ano passado, em agosto, já se projetavam altas temperaturas para o verão. Imagino que a preparação atual também depende dessas projeções climáticas?
-Claro, e agora também estamos fazendo toda a análise preditiva. No entanto, é preciso entender que a mudança climática existe e veio para ficar.
Agora temos condições de chuva que, embora não sejam abundantes, vão gerar pasto, e esse pasto é o combustível para os incêndios.
Isso se soma aos longos períodos secos do verão… ao sair da cidade, vemos muitos setores secos nos bosques, com vegetação estressada pela seca prolongada. Tudo isso cria um cenário de vulnerabilidade.
Além disso, há a vigilância da interface urbano-rural, que aumentou. Vemos morros onde antes havia bosque e vegetação, e agora há casas. Qualquer ação imprudente pode causar incêndios.
-Quantos municípios locais já sinalizaram a identificação de zonas de risco? Imagino que haja um processo.
-Na verdade, somos nós que primeiro identificamos as zonas de risco.
-E esse processo já está em andamento?
-Sim, e com base nisso informamos aos municípios: "Olha, estas são suas zonas de risco, então é preciso cuidado especial".
-Preocupa vocês que projetos de lei essenciais para zonas de interface urbano-florestal ainda não tenham avançado, apesar de sua importância para a prevenção de incêndios?
-Bem, há uma lei de incêndios em tramitação, vinculada à criação do SERNAFOR, que nos dará atribuições para agir, como entrar em propriedades com fontes de água para extração.
Sobre essa lei, entendo que, segundo conversas recentes, a tramitação está sendo retomada. É uma instrução do Ministério da Agricultura promover sua aprovação ainda neste período legislativo.
-Todo ano se fala da intencionalidade nos incêndios, mas raramente se veem resultados na persecução penal. Vocês veem estagnação? Que avanços são necessários para maior conscientização?
-Acredito que tudo depende da corresponsabilidade. Muitos incêndios não são criminosos, mas por omissão, como uso de ferramentas que geram faíscas.
Quanto à intencionalidade, não somos nós que determinamos. Temos uma unidade de análise para lições aprendidas, mas a investigação cabe à Polícia e ao Ministério Público.
-Em termos de recursos, há mais disponibilidade este ano em comparação com a temporada passada?
-Temos os mesmos recursos para contratação de aeronaves —helicópteros de baixa, média e alta capacidade, além de aviões-tanque.
O conceito de recursos é similar, com câmeras de IA e simuladores. Mas estamos priorizando detecção rápida e envio de recursos.
-O último balanço foi positivo, com menos incêndios e hectares queimados. Isso se deve a melhores condições climáticas ou maior eficiência no combate?
-Há algumas temporadas aplicamos a metodologia de "golpe único": câmeras com IA detectam focos, alertam a central regional, e mobilizamos todos os recursos para extinguir o incêndio o mais rápido possível.
Fonte:Diario Concepción