Incoerência total: 30 anos após o relatório sobre florestas nativas do Banco Central
Por Leonardo Araya Valdebenito, engenheiro florestal.
Em 1995, o cenário florestal chileno foi abalado quando veio à tona o chamado Relatório do Banco Central, com previsões sombrias sobre o futuro das florestas nativas chilenas. O relatório, cujos autores foram Antonio Lara, acadêmico da Universidade Austral do Chile, e Marcel Claude, economista e posteriormente candidato presidencial, estimava que em 1995 restavam apenas 7,3 milhões de hectares de floresta nativa no Chile. Em um cenário mais pessimista, seriam apenas 6,7 milhões de hectares.
Floresta nativa e a previsão sombria do Banco Central em 1995
Lara e Claude afirmavam que, no período de dez anos entre 1985 e 1994, o Chile havia perdido, em um cálculo otimista, 400 mil hectares de floresta nativa e, em um cálculo pessimista, um milhão de hectares.
A partir dessas estimativas, foram projetadas cifras que chocaram a imprensa e a opinião pública. Até 2003, todas as florestas nativas das regiões de O’Higgins e Maule desapareceriam, restando apenas as existentes em Reservas Florestais.
Quanto à Região de Biobío, em um cálculo otimista, as florestas se extinguiriam em 2005 (ou seja, há vinte anos já não existiriam, segundo este relatório), salvando-se apenas as 25 mil hectares presentes em reservas e parques.
Para a Região de La Araucanía, o colapso ocorreria entre 2001 (cenário pessimista) e 2015 (cenário otimista).
Passados trinta anos, é possível avaliar a precisão dessas previsões sombrias, especialmente considerando que hoje é comum pesquisadores com o "complexo de Eróstrato" publicarem resultados catastróficos sobre as florestas chilenas, amplamente divulgados pela imprensa.
O mais recente deles é o projeto Mapbiomass. Hoje dispomos de sensores remotos que permitem estimativas muito precisas sobre a extensão das florestas nativas. Qualquer chileno pode verificar o estado de nossas florestas usando plataformas como o Google Earth. Isso permitiu à CONAF gerar dados confiáveis sobre a quantidade atual de floresta nativa.
Previsões que não se cumpriram
Em relação às previsões sombrias de Lara e Claude, podemos afirmar que não se concretizaram. O país possui hoje 14,7 milhões de hectares de floresta nativa, segundo dados oficiais, e em uma estimativa mais conservadora, 13,7 milhões de hectares (a diferença corresponde, na minha opinião, a arbustos altos). Mesmo com essa cifra conservadora, o erro de Lara e Claude é gigantesco, cerca do dobro do estimado em 1995.
Na verdade, o erro é ainda maior ao analisar as previsões feitas há trinta anos. Segundo elas, entre as regiões de O’Higgins e La Araucanía não deveria restar floresta nativa além das áreas de parques nacionais. O erro nessas regiões supera dois milhões de hectares.
Situações similares ocorrem ao analisar as previsões para outras regiões. Essas enormes discrepâncias no "Relatório do Banco Central de 1995" não podem ser explicadas por diferenças na definição de floresta, como se argumentou, pois mudanças no conceito afetariam todas as cifras na mesma direção. No relatório, os números totais de florestas subestimam drasticamente, enquanto as perdas são superestimadas. A incoerência é total.
Os erros refletem a falta de rigor científico na elaboração do Relatório do Banco Central.
Os dados atuais, baseados em estudos científicos sólidos, técnicas modernas e ferramentas como o Google Earth, mostram os avanços do país em conservação florestal e confirmam que a estrutura institucional de proteção à natureza está funcionando.
A CONAF possui prestígio internacional, e seria positivo que o país, a academia e a mídia também reconhecessem isso.
Fonte:BiobioChile