Gerente da Acoforag e a dura realidade florestal: “A violência se normalizou na Macrozona Sul”
O gerente da Associação de Contratantes Florestais Acoforag, René Muñoz, alertou sobre a normalização da violência rural na Macrozona Sul, particularmente em La Araucanía, e criticou a falta de ações concretas por parte do Estado para proteger tanto o patrimônio das empresas quanto a integridade dos trabalhadores florestais.
Em entrevista ao Sabes.cl, Muñoz lamentou que os ataques tenham se tornado parte da paisagem informativa: “A atividade terrorista se normalizou, é informada como mais uma notícia, mas não influencia significativamente as decisões que as autoridades deveriam tomar. Nós temos reclamado constantemente pelos impactos aos trabalhadores, que são os mais prejudicados, junto com suas famílias”.
O líder sindical enfatizou que não se trata apenas de perdas materiais. “Aqui normalmente aparecem nos jornais as perdas de equipamentos, mas o trabalhador florestal desarmado que enfrenta grupos armados com fuzis é quem sofre as piores consequências”, acrescentou.
Diante desse cenário, Muñoz expressou seu apoio a um papel mais ativo das Forças Armadas na região: “Os Carabineiros aprenderam muito nesses 12 anos, mas não estão capacitados para enfrentar guerrilhas rurais. Eles estão preparados para a ordem pública, não para um conflito armado em zonas rurais. Por isso acreditamos que é necessário outro tipo de força ou, pelo menos, militares treinados especificamente para esse tipo de confronto”.
Setor florestal sob pressão
Muñoz também comentou sobre a falta de condições para o desenvolvimento do setor florestal no país. “Não há país florestal no mundo onde aconteça o que acontece aqui. As grandes empresas olham para o Brasil, onde recebem ferrovias, fibra óptica e aeródromos na porta da indústria. Essa certeza não temos no Chile. Aqui, ao contrário, trabalhamos sob ameaças permanentes”, afirmou.
Terras e diálogo estagnado
Sobre o processo de restituição de terras às comunidades mapuche impulsionado pela Comissão pela Paz e Entendimento, Muñoz manifestou ceticismo: “O que existe é um diálogo de surdos. As empresas estão dispostas a entregar as 10.000 hectares reivindicadas com títulos de merced, mas temem que isso abra a porta para novas demandas sem limite. Enquanto essa discussão não for encerrada, o conflito continuará”.
Além disso, questionou o uso efetivo das terras entregues: “Das 260.000 hectares restituídas até agora, mais da metade estão abandonadas. Não há apoio técnico nem financeiro para que essas comunidades possam desenvolver os territórios. Se você entrega terras sem suporte, acaba em nada”.
Questionado sobre a perspectiva dos povos originários, Muñoz reconheceu que existem diferenças de interpretação: “Eles podem entender como uso a conservação ambiental, mas os dados que temos indicam que muitas dessas terras não têm uso algum, nem mesmo ambiental”.
Seguro estatal contra ataques
Sobre as garantias para operar em zonas de risco, Muñoz destacou a existência de um seguro estatal obtido após as mobilizações de 2022: “Hoje temos um seguro por perda total, sem franquias, que cobre mais de 75% do equipamento. É o único recurso que temos e tem funcionado bem, mas tememos que uma mudança de governo o elimine”.
O gerente da Acoforag concluiu com um apelo para reconhecer a gravidade do problema: “A violência não desapareceu, apenas se tornou crônica. E enquanto não houver um esforço real e coordenado para enfrentá-la, o setor florestal continuará operando sob ameaça”.
A entrevista completa no canal do Youtube do Sabes:
https://www.youtube.com/live/fmwU-4w71QE?si=PcUB6mcuYsjj2r_L