UdeC convoca à prevenção e cuidado da flora e fauna diante de incêndios florestais
Especialistas em Silvicultura, Planejamento Territorial e Ciência Animal participaram do debate "Incêndios Florestais: a vida entre o fogo e as cinzas", parte dos Diálogos Contemporâneos da UdeC, abordando como os incêndios florestais afetam a configuração do território, a saúde da fauna e o equilíbrio ecológico.
O diálogo contou com a presença da professora assistente do Departamento de Ciência Animal e Diretora do Centro de Reabilitação e Educação em Fauna Silvestre ANDES-UdeC, Dra. Paula Aravena Busto; o professor associado do Departamento de Silvicultura, Dr. Eduardo Peña Fernández; e o professor associado do Departamento de Planejamento Territorial e Sistemas Urbanos, Francisco De la Barrera Melgarejo.
Prevenção, consequências e o papel das espécies vegetais e animais
O professor Eduardo Peña comentou que "o combustível de grandes dimensões, como o da floresta nativa, faz com que o incêndio permaneça queimando por mais tempo, enquanto, quando há combustível fino, o incêndio não durará mais de cinco minutos".
Na mesma linha, Francisco de la Barrera detalhou a configuração da paisagem nacional e como esta se transformou, particularmente as novas áreas de contato entre zonas habitadas e setores de plantações florestais.
"Precisamente nesta região temos uma das zonas de maior risco, devido à grande área de contato entre setores habitados e residenciais densos. Inclusive como Penco, com as zonas florestais, algumas manejadas e outras com menos manejo", afirmou.
Enquanto isso, a especialista Paula Aravena expressou preocupação pelos animais mais lentos e apegados ao solo que não conseguem escapar com tanta facilidade, o que afeta o equilíbrio da fauna.
"Lembremos que a maioria dos répteis do Chile são grandes controladores de pragas, então após o incêndio, quando esses animais já não estão, as pragas podem aparecer e trazer grandes problemas para as comunidades humanas", sustentou.
Consequências dos incêndios
Nesta nova edição dos Diálogos Contemporâneos sobre Incêndios Florestais, também destacou-se que os focos de fogo não só afetam localmente, mas também podem trazer problemas de contaminação para setores mais distantes do que o esperado. A fumaça pode se deslocar quilômetros e, nesse sentido, Francisco de la Barrera assinalou que há medidas de contingência associadas aos incêndios que devem ser aplicadas em lugares distantes do setor afetado.
Por sua vez, disse que quando há eventos de contaminação devido a incêndios florestais, deveriam ser incrementadas certas medidas, como o uso de máscara, pois são capazes de capturar os contaminantes que ficam no ambiente, prevenindo doenças mais sérias.
"Deveríamos ter medidas tão ou mais rigorosas do que as que tomamos no inverno pela contaminação, porque num dia com incêndios florestais fortes podemos ter três ou quatro vezes mais do que no inverno, embora durem um ou dois dias, mas esses efeitos agudos são muito importantes", ressaltou.
Os animais são profundamente afetados pelos incêndios, de fato, a professora Paula Aravena expôs um ponto interessante: eles sofrem um estado de choque pós-traumático.
Tendem a ter atitudes muito prejudiciais consigo mesmos, eram afetados pela fumaça, o som do vento nas folhas das árvores lhes provoca um profundo mal-estar.
"É preciso ir aumentando a percepção do entorno natural, através dos sentidos, mas não os cinco sentidos de uma vez, e sim parcialmente, primeiro o olfato, depois sentir o vento", detalhou a mesma especialista a propósito do trabalho que realiza o Centro de Reabilitação e Educação em Fauna Silvestre que ela dirige, nos casos de espécimes que chegam danificados durante esses eventos.
O tratamento continua até que o animal esteja preparado para reintegrar-se à vida selvagem, especificou.
Recuperação da flora e fauna
No âmbito da reparação das áreas afetadas, os painelistas expuseram a necessidade de que seja abordado de forma transversal nas diferentes áreas.
Por isso, o acadêmico Eduardo Peña explicou que é crucial o papel das espécies pioneiras na restauração pós-incêndio, como o carvalho que dá o ponto de partida a outras espécies, permitindo a longo prazo diversificar a flora.
Sobre a restauração pós-desastre, a acadêmica Paula Aravena assinalou que, embora cuidar dos pacientes com queimaduras seja realmente custoso, vale a pena, pois "um dos grandes recuperadores pós-incêndio são os animais", afirmou.
Eles ajudam a restabelecer a área muito mais rápido do que o homem poderia fazer, especialmente o pudu que ao comer o grão da flora nativa melhora sua fertilização, ou o monito del monte que é capaz de dispersar a semente em setores florestais.